O governo britânico está preparado caso fracassem as negociações de saída da União Europeia, assegurou nesta quarta-feira (4) a primeira-ministra, Theresa May, ao encerrar o congresso do Partido Conservador.
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"Acredito que é de interesse de todos que as negociações tenham sucesso, mas sei que alguns estão preocupados sobre se estamos preparados, caso fracassem. É nossa responsabilidade, como governo, nos preparar para qualquer eventualidade", declarou May em um discurso salpicado de incidentes.
Um homem aproximou-se do palanque e lhe entregou um papel, que nada mais era do que uma inscrição para o seguro desemprego, uma piada que causou perplexidade e depois gritos de "fora! Fora!".
O homem, que é ator, afirmou que entregou o papel a May a pedido do ministro das Relações Exteriores, Boris Johnson.
Em seguida, a primeira-ministra teve um ataque de tosse e recebeu de um ministro uma pastilha para irritação na garganta.
Além disso, um letreiro com o slogan "Building a country for everyone" ("Construir um país para todos") começou a desmoronar e ficou sem duas letras.
"Sei que algumas dessas negociações parecem frustrantes", disse May em meio a todos esses problemas, "mas se conduzirmos o Brexit no espírito certo... estou confiante de que alcançaremos um acordo que será benéfico para a Grã-Bretanha e para a Europa".
'Nervosos e inquietos'
May também disse que compreendia o fato de os cidadãos da UE que vivem no Reino Unido sentirem-se "nervosos e inquietos".
"Quero deixar claro que valorizamos a sua contribuição para a vida de nosso país. Vocês são bem-vindos e peço às equipes de negociação que alcancem um acordo sobre esta questão rapidamente, porque queremos que vocês fiquem aqui", explicou.
O discurso da chefe de governo encerrou a convenção de quatro dias de seu partido conservador, que foi marcada pelas divergências entre os ministros em relação as negociações com Bruxelas para a partida do país da União Europeia.
Johnson, o ministro rebelde do debilitado gabinete conservador, defendeu sua própria visão sobre o que deveriam ser as negociações do Brexit, traçando o que considera "linhas vermelhas" para não cruzar com a UE.
Defensor de uma linha dura com o bloco europeu, Johnson provou que tem ambições de longo alcance, apesar da irritação de outros membros do gabinete, como o ministro das Finanças, Philip Hammond, que o advertiu de que ninguém é "insubstituível".
Os problemas de May durante seu discurso provocaram uma reação de apoio da plateia, que a animou.
"Vá em frente, primeira-ministra!", gritaram os conservadores quando a tosse a impedia de falar.
"Obviamente, enfrenta dificuldades, mas o que vimos foi sua tenacidade", explicou Stephen Kerr, um membro escocês do Parlamento, à AFP.
"Que desastre, isso é uma bagunça, não um governo", tuítou Seema Malhotra, legisladora do Partido Trabalhista.
'Um pouco de entusiasmo'
Do outro lado, a pressão sobre Londres por parte dos europeus não cessa.
A Eurocâmara pediu na terça-feira que os líderes europeus não deem partida na segunda fase das negociações do Brexit, que poderiam abarcar um eventual acordo comercial, diante da falta de "progressos suficientes" nas atuais discussões de divórcio.
May assiste, impotente, as discórdias internas que são ventiladas na imprensa e nas redes sociais, apesar das chamadas de vários líderes para acabar com o "psicodrama".
A primeira-ministra também paga o preço de sua derrota eleitoral na última eleição legislativa de 8 de junho, que ela mesma havia convocado com a expectativa de sair fortalecida diante das negociações para o Brexit.
Para muitos conservadores e analistas, May se mantém no cargo por um fio e seu poder repousa sobre o fato de que sua partida seria um perigo para a capacidade dos conservadores de permanecer no poder.