Dois ataques simultâneos que teriam durado várias horas deixaram, nesta terça-feira (17), ao menos 71 mortos e 170 feridos no Afeganistão, em uma convulsionada região na fronteira paquistanesa.
Os dois ataques foram reivindicados pelo Talibã, que os justificou como operações de resposta aos recentes ataques americanos.
Pelo menos 41 pessoas morreram, incluindo 20 civis, e 160, entre elas 110 civis, ficaram feridas, em um ataque contra um complexo da Polícia em Gardez, capital da província de Paktiya, segundo o último balanço fornecido pelo vice-ministro do Interior, general Murad Ali Murad.
As vítimas do ataque, reivindicado pelos talibãs no Twitter, incluem "mulheres, estudantes e policiais", disse à AFP o médico Hedayatullah Hamidi, diretor dos hospitais públicos da província.
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Em um comunicado, o Ministério afegão do Interior anunciou o fim do ataque cinco horas após seu início, pouco antes das 14h30 (8h, horário de Brasília). Todos os cinco agressores foram mortos.
Questionado pela AFP no Paquistão, um chefe talibã afirmou que as duas operações extremistas eram em represália aos recentes ataques americanos com drones contra suas posições.
"São um contra-ataque", assegurou.
'Enorme explosão'
"Eu estava em sala de aula quando ouvi uma enorme explosão. Todo edifício tremeu, e as janelas quebraram. Estávamos tentando sair quando ouvimos uma segunda explosão. A poeira e detritos invadiram nossa sala. Muitos dos meus colegas de classe ficaram feridos", relatou um estudante de Gardez, Noor Ahmad.
Em um comunicado, o escritório do governador em Paktiya também mencionou a morte do chefe da Polícia provincial, Toryalay Abdani.
Ao mesmo tempo, na província de Ghazni, ao sudoeste de Cabul, "15 membros das forças de segurança foram mortos, e 12 ficaram feridos", no ataque à sede do distrito de Andar, de acordo com o chefe de Polícia de Ghazni, Mohammad Zanan.
Um veículo explodiu em frente aos escritórios do governador desse distrito, a cerca de 100 quilômetros de Gardez. A operação não foi reivindicada.
Paktiya fica na fronteira com as zonas tribais do Paquistão, onde está ativa a rede Haqqani, ligada aos talibãs.
Explosivos e armas leves
Segundo um comunicado do Ministério do Interior, em Gardez, "os agressores, com vestes cheias de explosivos e armas leves, detonaram um carro-bomba contra o centro de formação adjacente à sede da Polícia e, depois, um grupo de terroristas entrou no complexo".
As forças especiais e reforços policiais foram para o local do ataque.
Além do centro de treinamento, o complexo de Gardez abriga as forças da Polícia Nacional, da Polícia de Fronteiras e militares.
Os ataques acontecem poucas horas depois do bombardeio de um drone americano no distrito tribal paquistanês de Kurram, próximo da província de Paktiya, que matou pelo menos 26 integrantes da Haqqani.
Autoridades locais relataram que drones sobrevoavam Kurram após o ataque, o mais violento nas zonas tribais do Paquistão desde o início do ano.
Um porta-voz das forças americanas em Cabul confirmou "que, em 16 de outubro, vários ataques foram realizados no distrito de Jaiji Maidan, em Paktiya".
A região do sudoeste do Afeganistão é particularmente agitada, com facções dos talibãs, da rede Haqqani e da Al-Qaeda ativas.
Por essa razão, as forças especiais americanas encarregadas da luta contra o terrorismo instalaram uma base militar perto da cidade de Khost e treinam uma milícia afegã conhecida por sua violência.
"Os talibãs e a rede Haqqani são um só e estão unidos", garantiu o líder talibã no Paquistão, indicando que uma "reunião de emergência deve decidir por uma intensificação dos ataques".
A organização extremista é acusada de ter executado grandes ataques no Afeganistão desde a invasão liderada pelos Estados Unidos em 2001 e é conhecido por recorrer com frequência a homens-bomba.
O grupo foi apontado como o responsável pelo ataque com caminhão-bomba no centro de Cabul que deixou 150 mortos no mês de maio.
A Haqqani também é acusada pelo assassinato de funcionários do governo afegão e pelo sequestro de ocidentais para pedir resgates, como o canadense Joshua Boyle, sua mulher americana Caitlan Coleman e os três filhos - todos nascidos em cativeiro - que foram resgatados na semana passada, assim como o soldado americano Bowe Bergdahl, libertado em 2014.