O ex-presidente chileno Ricardo Lagos elogiou nesta terça-feira (7), em Roma, "o olhar do sul" do papa Francisco sobre a crise migratória, e assegurou que o pontífice "entende que o tratamento deve ser coletivo e mundial".
Lagos, que faz parte da ONG The Elders, fundada por Nelson Mandela para a defesa da paz e dos direitos humanos, foi recebido na segunda-feira pelo papa junto com outros três membros da entidade na residência privada de Santa Marta, onde conversaram por mais de uma hora sobre o delicado tema.
O papa "entende que o tema das migrações e refugiados não pode ser tratado como uma questão de política doméstica por cada país, mas que deve ter um tratamento coletivo", explicou.
"Que é necessário uma negociação civilizada a nível mundial", detalhou o ex-presidente chileno, que ficou no poder entre 2000 e 2006.
"Cada país por sua conta não resolverá nada", afirmou.
Sensibilidade
Para Lagos, que esteve acompanhado pelo ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan e pela ex-presidente irlandesa Mary Robinson, o pontífice argentino é muito sensível à questão e está estudando o assunto visando a sua viagem no fim de novembro para Mianmar, com o objetivo de defender a minoria muçulmana rohingya, uma das mais perseguidas do mundo, que foi obrigada a fugir em massa para Bangladesh.
Annan entregou ao papa um relatório sobre esse êxodo, "uma verdadeira limpeza étnica", qualificou Lagos.
"O papa tem claro que o tema migratório é do norte para o sul em muitos casos, e não apenas do sul para o norte, como muitos pensam na Europa", acrescentou Lagos.
O ex-presidente considera que na América Latina, onde também são registrados fortes fluxos migratórios, entre eles de haitianos para o Chile, pode haver uma "saída a essa crise que sirva de exemplo para o mundo", disse.
"Devem lembrar a Europa que no século XIX foi necessário expulsar 1,5 milhão de europeus para a América para que pudesse crescer economicamente", afirmou o ex-presidente ao insistir que é necessário um enfoque global.