CUBA

Desesperança reina entre cubanos no aniversário da morte de Fidel

As eleições de Cuba estão marcadas para fevereiro, mas cubanos ainda não sabem o que está por vir

AFP
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Publicado em 24/11/2017 às 16:18
Foto: Silvio Rodriguez/CubaDebate/AFP
As eleições de Cuba estão marcadas para fevereiro, mas cubanos ainda não sabem o que está por vir - FOTO: Foto: Silvio Rodriguez/CubaDebate/AFP
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Há um ano, quando Fidel Castro faleceu, milhares de cubanos em Miami foram às ruas comemorar por três dias e três noites sem parar. Agora, a três meses de eleições das quais desconfiam, acabou-se a festa, e a desesperança voltou a reinar.

"Fidel já descansou, morreu, mas resta o outro descarado do (seu irmão) Raúl. Cuba está destruída. Não tem comida, não tem roupa, não tem nada", disse Rosa Piedra, de 70 anos, uma "santera" (praticante da "santería", uma religião de origem yorubá), que conversa com a AFP em Pequena Havana, o bastião do exílio cubano em Miami.

Com um lenço branco na cabeça e com vários pesados colares de contas, Rosa acrescenta: "Enquanto Raúl estiver lá no poder, Cuba vai continuar destruída. Pelo que eu vejo, não acho que haja eleições de verdade".

Como sempre, rapidamente se forma uma roda de bate-papo nesta praça, onde tudo é motivo para que os cubanos comecem a discutir política e desenvolver teorias conspiratórias.

"Mesmo que Raúl morra, esse sistema continua lá!", dizia um. "Fidel já estava morto há muito tempo!", comentou outro.

O clima é muito diferente daquele testemunhado nas ruas no ano passado, naquela noite de 25 de novembro, quando se soube que o "comandante" havia morrido, aos 90 anos.

Durante três dias seguidos, os cubanos lotavam as ruas, gritando "Cuba livre!" e "Liberdade, liberdade!". Eufóricos, tomaram banho de champanhe, tiraram selfies e fizeram vídeos, cantaram, dançaram, tocaram tambores e bateram panelas. No poder, permanecia Raúl Castro, mas isso não impediu a festa.

Pouco depois, veio o banho de realidade.

"As coisas continuaram iguais, ou piores, porque a repressão aumentou contra os opositores", disse à AFP o presidente da ONG de defesa dos direitos humanos Movimento Democracia, Ramón Saúl Sánchez.

Em um complexo sistema eleitoral que terminará em 24 de fevereiro, os cubanos vão eleger um novo presidente, que substituirá Raúl, no poder desde 2008.

Mas este é um processo sem surpresas políticas, já que o mecanismo está previsto para preservar o sistema socialista instaurado em 1959.

"Não há qualquer indício de que o sucessor de Raúl Castro vai ser eleito livremente pela população", afirmou Sánchez.

"Os opositores que aspiraram a essas votações, que não são eleições, já foram todos reprimidos", completou.

No dia 13 deste mês, três organizações opositoras cubanas que haviam-se proposto a  indicar cerca de 550 candidatos independentes a vereadores denunciaram ter fracassado em seu propósito, citando detenções temporárias, processos jurídicos, intimidações e outras "artimanhas".

Para Sánchez, o povo cubano entrou em um agravado estado de falta de esperança, depois de uma euforia passageira.

"Nos últimos tempos, agravou-se o processo de desintegração nacional. A esperança de que algo mude se esvaiu, se diluiu ao ver que é mais do mesmo".

Da apatia ao otimismo

Este ano, o presidente americano, Donald Trump, fez um agrado a seus eleitores cubano-americanos, ao mexer em alguns elementos da abertura para Cuba implementada por seu sucessor, o democrata Barack Obama.

Entre outras medidas, os cidadãos americanos agora estão autorizados a fazer transações comerciais apenas com o setor privado na Ilha. Com entidades estatais, esse tipo de negociação está proibido.

Para Marcell Felipe, presidente da Inspire America Foundation - que defende medidas mais duras contra o governo cubano -, essas medidas dão lugar a certo otimismo.

"Em meio século no poder, Fidel Castro transformou Havana, que era uma das cidades mais atrativas, em uma das mais pobres", lamentou Felipe.

"O legado de destruição foi muito forte. Ainda se sentem suas sequelas. E, com as mudanças na política internacional e pela queda econômica da Venezuela, seu impacto é magnificado", acrescentou.

A Venezuela chavista foi uma grande aliada política e econômica de Cuba, mas a debacle econômica do país petroleiro está deixando a Ilha sem oxigênio.

"Lembramos que, na Hungria, a morte de Stalin, que controlava o país de longe, não trouxe uma mudança imediata. Isso levou três anos", comentou Marcell Felipe.

"O povo húngaro se rebelou e venceu em 1956. O Partido Comunista na Hungria foi salvo por uma invasão soviética, mas os Castro já não têm quem os salve: vão para a História, aonde pertencem".

Segundo uma pesquisa recente da SurveyUSA, 58% dos eleitores cubano-americanos em Miami são a favor das restrições impostas por Trump sobre o governo comunista de Cuba.

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