O papa Francisco empreende a partir de segunda-feira (27) uma viagem muito delicada à budista Mianmar e à muçulmana Bangladesh para impulsionar a convivência entre religiões e defender a minoria muçulmana rohingya, vítima de uma brutal limpeza étnica, segundo a ONU e os Estados Unidos.
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Depois do encontro com as multidões em setembro, na Colômbia, onde promoveu a paz, "o Papa dos Pobres" e do diálogo, optou por visitar dois países pobres e esquecidos da Ásia, onde os católicos são uma pequena minoria, com frequência em perigo.
Em dois vídeos diferentes enviados a essas populações, o papa explicou que sua visita tem como objetivo levar "uma mensagem de reconciliação, perdão e paz" a uma região afetada pelas diferenças entre minorias étnicas.
O papa argentino aterrizará na segunda-feira em Mianmar, sob pressão da comunidade internacional após ser acusado esta semana pelos Estados Unidos de submeter a minoria rohingya a uma verdadeira "limpeza étnica".
Retorno dos rohingyas
A visita papal acontece paradoxalmente em um contexto menos tenso após os governos de Bangladesh e Mianmar chegarem na quinta-feira a um acordo sobre a volta em um prazo de dois meses dos quase 600 mil rohingyas que fugiram das terras birmanesas desde o final de agosto.
"O papa chega em um momento crucial para os dois países", admitiu o porta-voz do Vaticano, Greg Burke.
O papa defendeu em inúmeras ocasiões os rohingyas, os quais chamou de "seus irmãos", e se reunirá com eles na sexta-feira durante sua visita a Bangladesh.
Um milhão de rohingyas vivem em Mianmar, alguns há várias gerações. Para os birmaneses, porém, são bengalis, o que faz deles a maior população apátrida do mundo.
Considerados estrangeiros em Mianmar, os rohingyas são vítimas de múltiplas discriminações: trabalho forçado, extorsão, restrições à liberdade de circulação, regras de casamento injustas e confisco de terras.
Eles também têm acesso limitado à educação e a outros serviços públicos.
Escutando testemunhos
Ao final da segunda etapa de sua viagem, de 30 de novembro a 2 de dezembro, o papa escutará os testemunhos de um grupo de refugiados rohingyas em Bangladesh, mas não está prevista visita a um acampamento de deslocados.
A pedido do arcebispo de Yangun - maior cidade de Mianmar -, o cardeal Charles Bo, Francisco evitará usar a palavra rohingya, o que poderia provocar reações de nacionalistas budistas, e é possível que se refira aos muçulmanos deslocados do estado de Rakine.
O papa programa uma discreta reunião com o chefe do exército birmanês, Min Aung Hlaing, responsável pela campanha de repressão, e presidirá uma mesa redonda interreligiosa, além de se reunir com a prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, que lidera de fato o governo civil.
Em entrevista à agência católica Aci, o cardeal Bo enfatizou "a ausência de diálogo entre a Igreja Católica e os militares durante os últimos 60 anos" e lembrou o sofrimento atravessado por outros grupos étnicos menos conhecidos como os chin, kachin e shan.
Para o padre Bernardo Cervellera, diretor da revista AsiaNews e durante anos missionário nessa região, o papa incluiu Mianmar para apoiar a política de Suu Kyi e seu programa de reconciliação com todas as minorias étnicas.
Estima-se que cerca de 200 mil pessoas irão assistir a uma missa ao ar livre em Yangun.
Mianmar, onde mais de 90% da população é budista, tem 700.000 católicos, 1% do total de seus habitantes.
Em Bangladesh, os católicos somam 375.000 e representam 0,24% dos 160 milhões de habitantes.