MORTE EM COMBATE

Saleh, um ditador tático que queria manter seu controle sobre o Iêmen

O ex-presidente Saleh foi morto pelos huthis, grupo de rebelde que combateu durante seis anos

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Publicado em 04/12/2017 às 14:33
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O ex-presidente Saleh foi morto pelos huthis, grupo de rebelde que combateu durante seis anos - FOTO: Foto: AFP
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O ex-presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, morto nesta segunda-feira (4), foi um líder tático que governou o país por 33 anos e que tentava incansavelmente recuperar o poder desde que foi destituído em 2012.

Sua última aliança, selada em 2014 com os rebeldes huthis para minar a autoridade de seu sucessor, Abd Rabbo Mansur Hadi, que foi forçado a fugir do Iêmen para buscar refúgio na Arábia Saudita, foi-lhe fatal.

Ironicamente, Ali Abdallah Saleh, de 75 anos, membro da minoria zaidi, da qual os huthis vieram, combateu esses últimos por mais de seis anos, de 2004 a 2010, quando era presidente.

A tomada da capital Sana em setembro de 2014 e os posteriores avanços huthis no resto do Iêmen não teriam sido possíveis sem a participação ativa das unidades militares que permaneceram leais a Ali Abdullah Saleh, que também dispunha de fortes vínculos na administração, apontam os especialistas.

Mas depois de três anos de cooperação, seus seguidores e os huthis iniciaram hostilidades violentas na semana passada na capital. A crise pelo controle das finanças e a partilha do poder, agravada por suspeitas de contatos secretos entre o ex-presidente e Riad, está na origem do conflito.

'Confiança em pessoa'

Em um golpe teatral, Ali Abdullah Saleh declarou no sábado que estava disposto a abrir "uma nova página" com os sauditas, seus inimigos nos últimos anos. A Arábia Saudita atua desde 2015 no Iêmen à frente de uma coalizão militar árabe em apoio ao presidente Hadi contra os rebeldes.

Desde então, os combates se intensificaram entre os pró-Saleh e os huthis, que declararam nesta segunda-feira que o ex-presidente havia sido morto.

Um verdadeiro "sobrevivente", Saleh superou muitos desafios, esmaltando seus anos à frente de um país instável, de estruturas tribais e muitas vezes violento.

Durante a guerra, o ex-presidente não se mudou da região de Sanaa, deslocando-se discretamente de um lugar para outro e garantindo sua própria segurança, segundo afirmou um especialista em 2016. "Ele não confia em ninguém".

"Eu nunca sairei de Sanaa", disse ele certa vez.

O instinto de sobrevivência política de Saleh era lendário. Ele reinou por muito tempo comparando o exercício do poder no Iêmen com uma "dança sobre cobras". Militar de carreira, foi eleito presidente do Iêmen do Norte em 1978 e foi um dos arquitetos em 1990 da unificação com o sul, há tempos socialista.

Um documento desclassificado da CIA datado de 18 de junho de 1990 afirma que, mesmo que a união entre o Iêmen do Norte e do Sul fracasse, "Saleh provavelmente manterá o controle do poder". Em 1994, esmagou uma tentativa secessionista do Sul.

Sua excepcional longevidade chegou ao fim em fevereiro de 2012, quando relutantemente entregou o poder ao vice-presidente Hadi, após um ano de protestos, na sequência da Primavera Árabe.

No acordo que levou à sua partida e elaborado pelas monarquias do Golfo, Saleh gozava de imunidade para si e para os membros da sua família.

Antes, foi gravemente ferido em junho de 2011 durante um misterioso ataque em seu palácio e passou vários meses na Arábia Saudita para ser tratado.

 Rejeição ao exílio 

Depois de 2012, o ex-presidente recusou-se a partir para o exílio e manteve-se à frente de seu partido, o Congresso Geral do Povo (CGP), ao qual seu sucessor também pertence.

De acordo com Laurent Bonnefoy, pesquisador do CNRS no Ceri/Sciences Po de Paris, o objetivo de Saleh era "preservar sua capacidade de atuação e seu poder, particularmente a possibilidade de seu filho Ahmed Ali, que vive nos Emirados Árabes Unidos, emergir como uma alternativa política".

Olhos afiados e bigode fino, Ali Abdullah Saleh foi um parceiro muito próximo dos Estados Unidos na luta contra a Al-Qaeda na Península Arábica (Aqpa), considerada por Washington como a facção mais perigosa da rede jihadista.

E-mails diplomáticos publicados pelo WikiLeaks revelaram um homem cada vez mais autoritário.

Um conselheiro do presidente Hadi chamava Ali Abdullah Saleh de "tirano". Os huthis "são fantoches nas mãos de Saleh, que ele usa como utilizou a Al-Qaeda", afirmou o conselheiro Yassine Makkawi.

Um relatório de especialistas emitido em fevereiro de 2015 ao Conselho de Segurança da ONU apontava que Saleh acumulava, graças à corrupção, uma fortuna estimada entre US$ 32 e 60 bilhões, enquanto o Iêmen é um dos países mais pobres do mundo árabe.

Era alvo de sanções específicas da ONU (congelamento de bens e proibição de viagem).

O ex-presidente era pai de catorze filhos: cinco meninos e nove meninas.

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