O presidente de Honduras, Juan Orlando Hernández, afirmou nesta terça-feira (5) estar "disposto" a aceitar uma revisão total do processo eleitoral de 26 de novembro passado, como exige a oposição de esquerda, que denuncia fraude na apuração.
"Estamos abertos à recontagem, que se revise, uma, duas, três vezes. Não há qualquer problema", afirmou Hernández na sede do Partido Nacional, após a Aliança de Oposição Contra a Ditadura exigir do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) a recontagem total dos votos.
"Falam (a oposição) de 5 mil (atas), falam de mais, de menos, não há qualquer problema, mas tudo deve ocorrer sob os procedimentos previsto pela lei e seu devido processo. Os mais interessados em que isto seja transparente somos nós", declarou Hernández.
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As autoridades eleitorais hondurenhas concordaram nesta terça-feira em rever milhares de atas questionadas pela oposição nas eleições de novembro, que reelegeram Hernández, mas os opositores passaram a exigir uma revisão completa.
"Queremos que não fique nenhuma dúvida do que é revisado e como é revisado, vamos trabalhar, haverá observação nacional, internacional e dos meios de comunicação", explicou a jornalistas David Matamoros, presidente do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE).
O candidato da oposição, o popular apresentador de televisão Salvador Nasralla, da esquerdista Aliança de Oposição Contra a Ditadura, comandada pelo derrubado presidente Manuel Zelaya, havia solicitado a revisão de 5.173 atas, cerca de 30% do total, das eleições de 26 de novembro.
Mas nesta terça-feira Zelaya passou a exigir a revisão de todas as 18 mil atas das eleições e a recontagem de todos os votos.
"Deve haver uma revisão total, de atas e votos. Abrir as urnas, recontagem total, algo completo para evitar a contaminação", disse Zelaya à AFP.
Com 100% das urnas apuradas, Hernández aparece com 42,98% dos votos, contra 41,38% para Nasralla, segundo o TSE.
A Constituição de Honduras proíbe a reeleição presidencial, mas Hernández pôde se candidatar a um segundo mandato graças a uma polêmica sentença da Suprema Corte.
- Policiais cansados -
O governo decretou na sexta-feira estado de sítio e toque de recolher noturno para controlar os protestos que deixaram três mortos (uma jovem de 19 anos e dois policiais) e várias lojas saqueadas.
À revolta popular pelo conturbado processo eleitoral se somaram milhares de policiais, que paralisaram suas atividades para não reprimir os manifestantes.
Em diferentes partes do país, os policiais foram recebidos com aclamações e aplausos.
Na noite desta terça-feira, a direção da Polícia Nacional chegou a um acordo com os policiais, após prometer o pagamento adiantado de uma bonificação de fim de ano e isentar os agentes do trabalho de repressão aos manifestantes.
Um porta-voz do movimento disse à imprensa que o acordo prevê que "não nos mandem lutar contra o povo hondurenho, porque também somos o povo".
Pelo acordo, os policiais se limitarão a "proteger os cidadãos" dos criminosos, "sem reprimir o povo" que participa das manifestações, apesar do estado de sítio, disse o porta-voz.
Atas questionadas
Organismos internacionais que observaram as eleições apoiaram o chamado a verificar essas atas questionadas. "O único caminho possível" para superar a crise é que acolham o pedido, sentenciou o ex-presidente boliviano Jorge Quiroga, chefe de observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA), após enumerar uma longa lista de problemas no processo eleitoral.
A proclamação do próximo presidente pode levar 22 dias enquanto resolvem possíveis impugnações, afirmou David Matamoros.
Zelaya denunciou à AFP que as atas adulteradas teriam sido colocadas no sistema de apuração depois de uma série de interrupções do mesmo na quarta-feira passada, uma das quais durou cinco horas.
Os temores de fraude vêm desde a eleição anterior, em 2013, quando Hernández venceu Xiomara Castro, esposa de Zelaya, derrubado em 2009.
Nesse contexto, os especialistas acreditam que o único caminho para a saída a esta nova explosão da crise política em Honduras é que revisem as atas.
"Se revisarem as atas e esses votos, estarão avançando pelo caminho correto", apontou à AFP o analista em Direito Internacional Ernesto Paz Aguilar, ex-chanceler hondurenho.