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Presidente peruano se aferra ao poder apesar do caso Odebrecht

Imprensa peruana menciona a possibilidade dos ministros se demitirem em desacordo com a posição do presidente

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Publicado em 15/12/2017 às 8:21
Foto: Cris Bouroncle/AFP
Imprensa peruana menciona a possibilidade dos ministros se demitirem em desacordo com a posição do presidente - FOTO: Foto: Cris Bouroncle/AFP
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O presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, defendeu sua permanência no cargo e negou qualquer possibilidade de renunciar, apesar das acusações de recebimento de propina da construtora brasileira Odebrecht.

"Não vou abdicar nem da minha honra, nem dos meus valores, nem das minhas responsabilidades como presidente. Nos custou muito recuperar a democracia, não vamos voltar a perdê-la", disse o governante em pronunciamento em rede nacional, cercado de seus ministros.

"Não tenho motivo para fazer isso", acrescentou o presidente de 79 anos, que disse ainda que testemunhará em uma CPI do Congresso e colaborará com a Procuradoria-Geral. 

"Não vou me deixar amedrontar", insistiu o presidente.

A imprensa local menciona a possibilidade de alguns de seus ministros se demitirem em desacordo com sua posição. 

O partido de oposição que controla o Congresso no Peru, Força Popular, pediu na quinta-feira a renúncia de Kuczynski por "provas concretas de atos de corrupção" que o vinculam à Odebrecht, que o teria assessorado por quantias milionárias inclusive quando era ministro.

"É evidente que sua permanência no máximo cargo da nação é insustentável", disse porta-voz da bancada parlamentar, Daniel Salaverry.

"Aqui o que o povo peruano exige é que o presidente renuncie e que se dê uma transição constitucional para que o vice-presidente da República assuma a presidência do Peru", declarou.

O ultimato virtual agrava a complicada situação do presidente, depois de a Odebrecht ter reconhecido na quarta-feira que pagou quase 5 milhões de dólares por assessorias de empresas vinculadas a ele entre 2004 e 2013. 

Durante parte desse período, Kuczynski foi ministro da Economia e também presidente do Conselho de Ministros do mandatário Alejandro Toledo (2001-2006), a quem a Odebrecht garante que pagou 20 milhões de dólares em troca da concessão de uma rodovia.

A construtora brasileira, envolvida o escândalo pelo pagamento de subornos em troca de obras públicas na América Latina, admite que desembolsou 29 milhões de dólares sob esta modalidade no Peru entre 2005 e 2014.

Os pedidos formais de renúncia presidencial chegam antes de Kuczynski completar a metade de seu mandato de cinco anos, que conclui em julho de 2021.

Uma possível destituição ou renúncia abriria caminho a eleições antecipadas no no que vem.

Em novembro, Kuczynski tinha negado os vínculos com a construtora brasileira, depois que o ex-diretor-executivo da empresa, Marcelo Odebrecht, disse aos promotores peruanos que o contratou para uma consultoria privada. 

Mas no último sábado, Kuczynski admitiu na rádio RPP que realizou uma consultoria por meio da empresa First Capital - empresa de um ex-sócio - para o projeto H2Olmos, um consórcio integrado pela Odebrecht.

Na quarta-feira, Kuczynski se reuniu com o gabinete e mudou sua posição, decidindo comparecer diante de uma comissão investigadora.

"Entregaram à imprensa informação de pagamentos feitos pela Odebrecht, dando a entender que seriam honorários pagos a minha pessoa. Diante disto (...) decidi me reunir com esta comissão", disse o presidente à rádio RPP.

"A renda que obtive como profissional está registrada e tributada. Não há nada irregular".

"São quase 5 milhões de dólares que o atual presidente da República teria recebido através das empresas mencionadas", destacou a deputada Rosa Bartra, da Força Popular, na quarta-feira.

A Justiça peruana também solicitou a extradição do ex-presidente Alejandro Toledo, dos Estados Unidos, por envolvimento no caso. 

Valores pagos

Do total pago pela construtora, 782.000 dólares foram entregues à Westfield Capital, firma de Kuczynski, quando era milnistro da Economia do governo de Alejandro Toledo (2001-2006). Outros 4,05 milhões foram para a First Capital, empresa de um ex-sócio para a qual trabalhou.

"Isso é falso. Não nos deixemos confundir", afirmou o chefe de estado. Exibindo documentos, negou ter relação direta com a First Capital, apesar de admitir que trabalhou em uma assessoria com eles para um projeto da Odebrecht, mas em condições legais.

A respeito da Westfield Capital, disse que é de sua propriedade, mas "nunca esteve encarregado da gestão nem da admilnistração da empresa enquanto ocupava um cargo público".

Nas duas companhias, os contratos foram tratados por um de seus sócios, o chileno Gerardo Sepúlveda. 

A formação de oposição deu um ultimato para que Kuczynski renuncie, caso contrário pedirá seu impeachment através do Congresso. Para isso, são necessários 87 votos dos 130 legisladores, um número que a oposição pode reunir com facilidade. O processo de destituição pode ter início nesta sexta.

Em caso de renúncia, ele será substituído pelo primeiro vice-presidente, Martín Vizcarra, atual embaixador do Peru no Canadá.

Grupos de esquerda pedem, inclusive, a realização de eleições gerais antecipadas.

A crise beneficia o partido fujimorista Força Popular, que tem 71 dos 130 deputados, e sua líder, Keiko Fujimori, que perdeu por uma margem mínima as presidenciais contra Kuczynski em 2016. 

Kuczynski é o terceiro governante peruano a ter problemas pelo caso Odebrecht. 

O escândalo já levou à prisão preventiva do ex-presidente Ollanta Humala (2011-2016) e de sua mulher. Eles teriam recebido 3 milhões de dólares para a campanha eleitoral de forma irregular. 

Sobre Toledo pesa uma ordem de extradição nos Estados Unidos.

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