Com um encontro diante de uma prisão e uma videoconferência na Bélgica com Carles Puigdemont, os partidos separatistas catalãs corriam contra o tempo nesta terça-feira (19) em uma atípica campanha eleitoral que, esperam, os fará recuperar o controle da região.
Com a maioria absoluta parlamentar desde 2015, os partidos separatistas foram despojados pelo governo espanhol de Mariano Rajoy depois de ter declarado, sem sucesso, a separação unilateral desta importante região do nordeste da Espanha.
O dirigente conservador destituiu o governo regional do independentista Carles Puigdemont e dissolveu a Câmara catalã para convocar as eleições de quinta-feira (21), cujo resultado se prevê muito apertado.
"Essas eleições decidem se voltamos à normalidade, à Constituição, ao que é razoável, sensato", disse em um comício Rajoy, que se envolveu a fundo nos últimos dias de campanha diante dos maus resultados previstos para o Partido Popular.
A maioria das pesquisas aponta que os partidos independentistas terão dificuldades de revalidar sua maioria absoluta e inclusive pode perder as eleições para a formação mais hostil contra o nacionalismo, Cidadãos (centro), da líder da oposição Inés Arrimadas.
"Vamos falar tão alto que até o senhor Puigdemont nos ouvirá em Bruxelas", disse Arrimadas em um ato em Barcelona.
Sua formação se aproveita da importante queda do Partido Popular de Rajoy, que pode ficar em último, e da disputa interna entre os separatistas, Juntos pela Catalunha, de Puigdemont (centro direita), e Esquerda Republicana (ERC), do ex-vice-presidente Oriol Junqueras.
Luta pela liderança independentista
Sua campanha se viu atingida pela situação judicial de seus líderes, investigados por rebelião, sedição e malversação, após impulsionarem o processo de secessão e realizar o referendo de autodeterminação ilegal de 1º de outubro.
Com uma ordem de prisão se voltar à Espanha, Puigdemont encerrará sua campanha nesta terça-feira com uma videoconferência da Bélgica que poderá ser acompanhada em centenas de povoados da região.
Junqueras, por sua vez, está detido desde 2 de novembro em uma prisão de Madri, para onde foram nesta terça-feira líderes de seu partido, antes de irem ao povoado de seu líder, Sant Vicenç dels Horts, a 30 quilômetros de Barcelona, e realizar seu último comício.
"Nos querem submetidos e desmoralizados, rendidos e entregues. Não vão ter nem um nem outro", denunciou Ernest Maragall, um de seus candidatos.
O Ministério do Interior anunciou a abertura de um processo contra Junqueras e outro líder independentista preso por gravar mensagens da prisão que foram divulgadas em comícios.
O ERC disputa com o Cidadãos para vencer as eleições e quer governar a região pela primeira vez desde a Segunda República espanhola (1931-1939).
Seu principal adversário é a candidatura de Puigdemont, que utiliza sua figura presidencial para ganhar terreno nas pesquisas.
"A vitória do Juntos pela Catalunha será a que Rajoy mais demorará a explicar e engolir", disse o presidente destituído em um comício na segunda-feira.
O conflito político na Catalunha se agravou nos últimos meses com a realização do referendo, reprimido duramente pela Polícia, e a declaração de secessão, arrastando o país para sua pior crise em décadas.
Concentrados em denunciar a intervenção do governo espanhol e a prisão de seus líderes, os separatistas parecem ter afastado por enquanto seu plano de ruptura unilateral após a frustrada declaração de independência de 27 de outubro.
Nenhum país reconheceu a nova república, mais de 3.000 empresas mudaram sua sede social da Catalunha e a divisão da sociedade em relação a essa questão se agravou, ocorrendo grandes manifestações de ambos os lados em Barcelona.
As negociações pós-eleitorais devem ser longas e, inclusive, é especulada uma repetição das eleições se não houver um acordo para formar o governo.
Se os independentistas ganharem a maioria, não está claro quem liderará o governo dada a situação judicial de seus líderes e suas discrepâncias internas.
Em caso de maioria contrária à independência, a formação de um governo iria requerer o apoio do partido Catalunha em Comum, aliados regionais do Podemos (esquerda regional), que não quer tender para nenhum dos blocos.