Irã

Governo adverte população contra manifestações 'ilegais' no Irã

Irã enfrenta terceiro dia de marchas contra as dificuldades econômicas e o Executivo iraniano

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Publicado em 30/12/2017 às 19:12
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Irã enfrenta terceiro dia de marchas contra as dificuldades econômicas e o Executivo iraniano - FOTO: Foto: AFP
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A polícia dispersou neste sábado com gases lacrimogêneos os jovens que protestavam contra o poder em Teerã, depois que o Governo advertiu contra as "manifestações ilegais", no terceiro dia de marchas contra as dificuldades econômicas e o Executivo iraniano.

Dezenas de estudantes se concentraram neste sábado em frente à entrada principal da Universidade de Teerã para protestar contra o poder, antes de serem dispersados pelas forças de segurança com gases lacrimogêneos. Por outro lado, centenas de estudantes pró-governo se mobilizaram para tomar o controle do lugar, acusando os outros manifestantes de "sediciosos", segundo vídeos publicados em redes sociais e na imprensa.

No final da tarde, centenas de pessoas se manifestavam em outras partes do bairro da universidade, gritando lemas contra o poder, até que a polícia antidistúrbios apareceu para dispersá-las. A imprensa informou de caixotes incendiados e outros atos de vandalismo em Teerã.

Em vídeos difundidos pelo serviço de mensagens criptografadas Telegram, milhares de manifestantes aparecem gritando "morte ao ditador" em protestos supostamente ocorridos em cidades como Khorramabad, Zanjan e Ahvaz, no oeste. No entanto, a autenticidade dos vídeos não pôde ser verificada, e os meios não informaram sobre protestos neste sábado em outras cidades além de Teerã. No Twitter, o ministro das Telecomunicações, Mohammad-Javad Jahormi, acusou o Telegram - muito utilizado no Irã - de encorajar o "levantamento armado". 

"Manifestações ilegais" 

Mais cedo, o ministro iraniano do Interior, Abdolreza Rahmani Fazli, tinha pedido "à população que não participe de manifestações ilegais, já que criarão problemas para si mesmos e para outros cidadãos". Na quinta e na sexta-feiras, centenas de iranianos saíram às ruas em uma dezena de cidades em protestos contra o poder e as dificuldades econômicas. 

Embora o número de manifestantes tenha sido limitado, esta foi a primeira vez, desde 2009, que tantas cidades iranianas foram tomadas por protestos sociais. Por outro lado, o Governo mobilizou, neste sábado, dezenas de milhares de pessoas em várias cidades para celebrar o aniversário do fim da "revolta", os protestos antigoverno feitos em 2009, após disputadas eleições e a vitória de Mahmud Ahmadinejad para um novo mandato.

Opositores iranianos se manifestaram neste sábado em Paris e Berlim em solidariedade aos protestos no Irã. Na capital francesa, cerca de 40 membros da diáspora iraniana protestaram em frente à embaixada do Irã na França pelo "fim das ingerências" na Síria e no Líbano.

Em Berlim, cerca de cem de opositores ao governo de Teerã se reuniram em frente à embaixada do Irã para pedir a liberação imediata dos manifestantes detidos e no país.

"Oportunistas" 

Neste sábado, pela primeira vez, a televisão pública iraniana abordou os protestos de quinta e sexta-feiras, afirmando que é preciso entender "as reivindicações legítimas" da população, embora tenha acusado os meios e os grupos "contrarrevolucionários" baseados no exterior de buscarem explorar esses eventos.

Dezenas de pessoas foram detidas desde quinta-feira, embora a maioria já tenha sido solta, segundo a emissora. Em algumas cidades, a polícia dispersou os manifestantes com jatos de água.  Os Estados Unidos condenaram as prisões, e seu presidente, Donald Trump, instou o Governo iraniano, através do Twitter, a "respeitar os direitos de seus cidadãos, incluindo o direito a se expressar".

O Ministério das Relações Exteriores iraniano reagiu dizendo que "o povo iraniano não dá nenhum valor nem crédito às declarações oportunistas dos responsáveis americanos e de Trump". 

"Sinal de alerta" 

"Sinal de alerta para todo o mundo", intitulava neste sábado o jornal reformista Arman, enquanto se multiplicavam os pedidos ao governo para que adote medidas para solucionar os problemas econômicos do país. A promessa de relançar a economia, debilitada pelas sanções internacionais, esteve no centro da campanha presidencial do presidente Hassan Rouhani, um religioso moderado reeleito em maio.

Apesar do levantamento de algumas sanções após o acordo sobre o programa nuclear iraniano, e de que se limitou a inflação a cerca de 10%, a taxa de desemprego no Irã continua sendo alta (12%, segundo dados oficiais). "O país enfrenta grandes desafios, como o desemprego, os altos preços, a corrupção, a falta de água, as desigualdades sociais e o desequilíbrio do orçamento", tuitou Hesamodin Ashena, o conselheiro cultural do presidente Hassan Rouhani. "As pessoas têm o direito de fazer ouvir sua voz", acrescentou.

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