O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, inscreveu nesta terça-feira (27) sua candidatura para as eleições antecipadas de 22 de abril, nas quais buscará a reeleição sem um adversário de peso ante o boicote da oposição.
Com funcionários de sua confiança, Maduro visitou o túmulo do líder socialista Hugo Chávez (1999-2013), antes de se encaminhar para a sede do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) para entregar os documentos de inscrição.
"Este é o plano da pátria 2025, que é o aprofundamento do caminho e o legado de nosso amado comandante Hugo Chávez (...) na direção da prosperidade econômica", declarou Maduro ao entregar à presidente do CNE, Tibisay Lucena, os documentos.
"Vamos elegê-lo novamente. Com o voto vamos resolver os problemas", declarou Héctor Cadenas junto a um grupo de chavistas que acompanhou o presidente ao CNE.
Maduro, ex-motorista de ônibus de 55 anos, tem quase garantida a reeleição, apesar de seu governo ser reprovado por 75% dos venezuelanos, segundo pesquisa Datanálisis, em razão da grave crise econômica no país, asfixiado pela escassez de alimentos e remédios, e pela hiperinflação.
Sua maior rival, a coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD) - cujos líderes Henrique Capriles e Leopoldo López estão proibidos de de disputar e exercer cargo político -, convocou o boicote às eleições, por considerá-las um "show fraudulento" sem garantias de imparcialidade.
"São eleições de fachada, um mero ato político para a aclamação de Maduro por seus seguidores", declarou à AFP o cientista político Luis Salamanca.
"Comparsas" eleitorais?
Logo atrás aparece o ex-governador dissidente do chavismo Henri Falcón, um militar aposentado de 56 anos, postulado por dois partidos minoritários. Dois outros, quase desconhecidos, são o pastor evangélico Javier Bertucci e Reinaldo Quijada, um chavista que se distanciou do oficialismo.
"Eles podem ser vistos como comparsas, que dão a Maduro a desculpa para dizer que tem concorrentes, mas, sem a MUD, nenhum deles têm chances", acrescentou Salamanca.
De acordo com o Instituto Venezuelano de Análise de Dados, Falcón possui 23,6% das intenções de voto, em comparação com 17,6% de Maduro.
Mas a oposição está longe de ser um perigo real devido à máquina chavista e ao vasto controle institucional e social do governo, estimam os analistas.
"Falcón sozinho não representa essa fachada que o governo precisa apresentar para o mundo" para legitimar o voto, disse à AFP Felix Seijas, diretor da empresa de pesquisas Delphos.
Em outubro passado, o ex-governador fracassou em sua tentativa de ser reeleito no estado de Lara e gera desconfiança entre os opositores por seu passado chavista.
A cientista política Francine Jacome acredita que Falcón tem uma liderança personalista e regional, também em declínio. "Pode atrair alguns opositores, mas seu impacto será mínimo", comentou à AFP.
Novas sanções
Apesar de Maduro repetir que "haja chuva, sol ou relâmpago" haverá eleições em 22 de abril e que vai ser reeleito com ou sem oponentes, enquanto a MUD busca apoio internacional para forçá-lo a reagendar eleições com garantias.
A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, exortou na segunda-feira a Venezuela a garantir "eleições credíveis", reiterando que a União Europeia (UE), que já impôs sanções a autoridades venezuelanas, está "pronta para reagir" em caso contrário.
"O modo como Maduro lidará com as eleições implicará maior isolamento internacional, mas o governo está claramente disposto a correr o risco se isso significar sua permanência no poder", ressaltou o Eurasia Group.
Citando a falta de garantias para um processo livre, o adiantamento da eleição presidencial foi rejeitado pelos 14 países do Grupo de Lima - incluindo Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e Estados Unidos. Vários desses governos anunciaram que não reconhecerão os resultados.
Washington, que além de medidas contra as autoridades venezuelanas impôs sanções econômicas, ameaçou um embargo de petróleo, o que significaria um duro golpe para um país que obtém 96% de suas receitas do petróleo, já que os Estados Unidos são seus principais clientes.
Parte da comunidade internacional também rejeitou o adiantamento das eleições, que deveriam ser realizadas em 2020, para eleger o Parlamento, o único poder controlado pela MUD. O CNE anunciou que irá definir a data nos próximos dias.
"O cenário: maior pressão internacional, ingovernabilidade e agravamento da situação econômica e social", advertiu Jácome.