Os estudantes da escola de ensino médio americana Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, na Flórida, voltaram às aulas nesta quarta-feira (28), em meio a ostensivas medidas de segurança, duas semanas depois da tragédia que terminou na morte de 17 pessoas.
Visivelmente emocionados, alguns chorando, os adolescentes entraram nas dependências do colégio amparados por dezenas de policiais e equipes da SWAT, que formaram um corredor para saudar os alunos com um bom-dia.
"Não tenho medo", disse Sean Cummings, estudante de 16 anos.
"Só acho que é estranho voltar depois de tudo que aconteceu", admitiu o jovem, em conversa com a AFP.
"Sinto que estamos mais bem protegidos do que qualquer outra escola, mas impressiona muito voltar a ver todo o mundo neste lugar e todos esses policiais", acrescentou.
Ainda assim, ele está feliz com o retorno.
"É bom que todo o mundo esteja aqui. Acho que será bom voltar a ver todos os meus professores. É bom regressar", comentou.
Centenas de vizinhos e ex-alunos do estabelecimento também estavam presentes para receber os estudantes e animá-los com cartazes como "Nós amamos vocês" ou "Estamos com vocês". Uma senhora ofereceu um abraço a um adolescente e ele aceitou de bom grado.
"Há pessoas de todas as partes do mundo que estão se comunicando com a gente. É bom ver que as pessoas querem e vieram ajudar uma comunidade", afirmou Emily Quijano, de 16 anos.
"Pode ser muito difícil para eles voltarem às aulas", afirmou a psiquiatra Nicole Mavrides, da Universidade de Miami e integrante da equipe de Ciências do Comportamento que enviou terapeutas de duelo a Parkland.
"Mas é preciso dizer a eles que ninguém está esperando que seja fácil, é preciso dizer a eles que tudo bem que sintam medo, e que tudo bem que sintam raiva", afirmou Mavrides.
Os professores voltaram alguns dias antes ao colégio para se prepararem e, no domingo, a instituição organizou um dia de orientação para permitir a pais e estudantes recuperassem as coisas que deixaram para trás em meio ao pânico no dia do tiroteio.
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Nunca mais
O massacre na escola aconteceu no Dia de São Valentim pelas mãos do ex-aluno Nikolas Cruz, de 19 anos. Expulso desse estabelecimento por razões disciplinares, o rapaz usou um fuzil AR-15, que havia comprado legalmente.
O episódio gerou um novo clamor pelo controle das armas no país. A cada ano, são cerca de 33 mil mortes.
Usando o hastag #NeverAgain, os estudantes sobreviventes exerceram pressão sobre políticos de Washington e da Flórida para que tomem medidas contra a violência armada e restrinjam o acesso às armas.
Durante anos, o Congresso americano esteve paralisado neste tema, ainda que as pesquisas mostrassem que a maioria da população apoia um controle mais estrito.
A National Rifle Association (NRA) é um poderoso lobby que exerce pressão em Washington e em congressos estaduais, com generosos financiamentos a políticos, para garantir que a livre venda e o porte de armas não sejam ameaçados.
Os legisladores republicanos - maioria em Washington e Flórida - são contrários a implementar reformas importantes na venda de armas.
No entanto, alguns comerciantes também exercem pressão. Várias companhias de aluguel de carro anuncaram que deixarão de dar benefícios a membros da NRA.
Hoje pela manhã, a Dick's Sporting Goods, uma das maiores cadeias de distribuição de produtos de caça, pesca e de atividades de lazer ao ar livre, disse que estava pondo fim imediato à venda de fuzis de assalto e que não venderá mais armas para menores de 21 anos.