Da Amazônia a Madagascar, passando pelas Grandes Planícies norte-americanas, em 2080 as mudanças climáticas podem ameaçar entre um quarto e metade das espécies em 33 das regiões mais ricas em biodiversidade, segundo um relatório publicado nesta quarta-feira (14).
Se a temperatura média do planeta aumentar 4,5°C com relação à era pré-industrial - cenário previsto pelos cientistas se nada for feito para reduzir as emissões de gases de efeito estufa -, 48% das espécies poderiam desaparecer em certas regiões.
Mas este risco se dividiria por dois se o aumento da temperatura média se limitar a 2°C, meta fixada no acordo de Paris adotado em 2015 sob a égide da ONU, destaca esta análise publicada pela revista Climatic Change.
"A biodiversidade mundial sofrerá terrivelmente durante o próximo século, a menos que façamos tudo o que está em nossas mãos" para evitá-lo, adverte o Fundo Mundial pela Natureza (WWF), que coproduziu o estudo.
Apresentado como o mais completo sobre cerca de trinta zonas do mundo, este estudo é divulgado antes da abertura, no sábado, na cidade colombiana de Medellín, de uma importante conferência sobre o estado da biodiversidade no mundo.
Zonas 'refúgio'
Em todas as regiões, o clima se soma às ameaças que já existem sobre a fauna e a flora: urbanização, perda de hábitats, caça ilegal, agricultura não sustentável, por exemplo.
Os pesquisadores das universidades de East Anglia (Reino Unido) e James-Cook (Austrália) estudaram a situação climática de 80.000 espécies em 33 regiões consideradas "prioritárias", tão únicas e diversas quanto a Amazônia, o deserto da Namíbia, Himalaia, Bornéu, o lago Baikal ou o sul do Chile.
As temporadas de temperaturas excepcionalmente altas devem se tornar a norma, em alguns casos a partir de 2030, e inclusive no cenário de um aquecimento limitado a 2°C.
Também se prevê em muitos lugares picos de calor muito importantes, menos precipitações e longas secas.
Nestas regiões, mais da metade da superfície (56%) ainda estaria apta para a vida com +2°C. Mas com +4,5°C, este percentual poderia cair até 18%. É o que a WWF chama de zonas de "refúgio".
As plantas devem ser particularmente afetadas, pois se adaptam mais lentamente e se deslocam com menos facilidade. Consequentemente, isto pode afetar os animais que dependem delas.
Com um aumento da temperatura de 4,5°C, 69% das espécies da flora poderiam desaparecer na Amazônia.
No mundo animal, répteis e anfíbios são os que correm o maior risco de serem "superados" à frente de aves ou mamíferos, que têm maior mobilidade.
Capacidade de se adaptar
Muitas espécies dependerão efetivamente de sua capacidade para se mover, seguindo seu clima de predileção. Poderão segui-lo? Serão bloqueadas, por exemplo, por cidades, montanhas? Terão, ao chegar, um lugar para viver?
No pior dos cenários, o sudoeste da Austrália veria cerca de 80% de suas espécies de mamíferos ameaçadas de extinção localmente. Esta perda seria de apenas um terço se o aumento da temperatura for de +2°C e se as espécies dispuserem de capacidades de adaptação adequadas.
Conclusão: "será preciso fazer esforços muito mais importantes para manter o aumento das temperaturas em seu mínimo absoluto", insiste o WWF.
Neste estágio, os compromissos de redução de emissões adquiridos em Paris levam o planeta a um aquecimento de mais de 3°C.
E com +3,2°C, 37% das espécies correm o risco de desaparecer localmente nas regiões estudadas.
Além disso, como os gases já emitidos vão continuar aquecendo o planeta, será preciso prever também medidas de proteção locais: corredores biológicos para favorecer o deslocamento de espécies, identificação de zonas "refúgio" de último recurso, restauração de hábitats...
O Mediterrâneo, que tem, por exemplo, três espécies emblemáticas de tartarugas marinhas, veria cerca de um terço de suas plantas, mamíferos e anfíbios ameaçados com +2°C se não tiverem nenhuma possibilidade de adaptação.
A extinção não significa unicamente o desaparecimento de espécies, ressalta o WWF, "mas profundas mudanças para os ecossistemas que proporcionam serviços vitais para centenas de milhões de pessoas", seja na alimentação, na sustentação do turismo ou nas pesquisas sobre futuros medicamentos.