DENÚNCIA

Escândalo de assédio sexual abre porta a movimento #MeToo no Japão

O caso, que envolve um vice-ministro administrativo do Japão, tomou proporções maiores e fez com que outras mulheres também denunciassem casos de assédio

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Publicado em 20/04/2018 às 16:25
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O caso, que envolve um vice-ministro administrativo do Japão, tomou proporções maiores e fez com que outras mulheres também denunciassem casos de assédio - FOTO: Foto: AFP
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Um caso de assédio sexual envolvendo um alto funcionário do ministério das Finanças tem tido grande repercussão no Japão e pode impulsionar o movimento #MeToo no país.

Junichi Fukuda, vice-ministro administrativo do ministério renunciou na quarta-feira (18). Ele é acusado de ter assediado sexualmente várias jornalistas, um caso revelado na semana passada por uma revista.

Ele nega qualquer comportamento inapropriado e estuda processar o veículo, mas considerou que o escândalo impedia a sua permanência no cargo.

O que tem surpreendido no país é o alcance midiático do caso, sinal, segundo os observadores, de uma possível abertura para que as mulheres vítimas de violência sexual se pronunciem. 

"O movimento mundial #MeToo provavelmente animou as mulheres vítimas de violência sexual a falar, trazendo uma consciência de que não devem tolerar esse tipo de atitude", afirma Sumire Hamada da ONG Asia-Japan Women's Resource Centre.

Para as vítimas, denunciar a violência sexual no Japão é especialmente difícil.

Uma das jornalistas que acusa Junichi Fukuda de tê-la agredido relatou o caso ao seu chefe na televisão japonesa TV Asahi. Contudo, ela foi aconselhada a não denunciá-lo porque se sua identidade fosse revelada sofreria com as consequências.

A televisão lamentou que a jornalista tenha decidido tornar o caso público em outro meio de comunicação.

Investigação criticada

Quando a imprensa publicou as acusações, o ministro das Finanças, Taro Aso, minimizou a importância, dizendo que não abriria uma investigação porque o funcionário "estava arrependido".

Posteriormente, diante das críticas, disse que Fukuda seria demitido caso ficasse provado que os fatos eram verdadeiros. Finalmente, o ministério abriu uma investigação pedindo às vítimas que revelassem sua identidade, o que levantou dúvidas sobre sua imparcialidade.

"A maneira pela qual o anonimato destas repórteres e seus cargos serão protegidos não está claro", aponta a associação de jornalistas que cobrem o ministério das Finanças, em uma carta citada pela imprensa japonesa.

Na plataforma Change.org foi lançada uma petição cobrando do ministério a proteção das vítimas e já reúne 25.000 assinaturas.

"Muitas pessoas criticaram a forma como o ministério das Finanças lidou com a situação. Por isso, esta questão poderia ter um enorme impacto e até levar a uma mudança na sociedade japonesa", acredita Mari Miura, professora de ciência política na universidade Sophia de Tóquio.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo governo em 2017, apenas 2,8% das vítimas de estupro denunciam o crime sofrido à polícia, em um país onde espera-se que as "vítimas de assédio sofram em silêncio", afirma Sumire Hamada.

Por ter acusado publicamente um conhecido profissional da televisão de tê-la estuprado, a jornalista Shiori Ito sofreu ataques muito duros na internet e até ameaças de morte.

Em outros países asiáticos, também tem havido mudanças. Na Coreia do Sul, um político renunciou e está sendo investigado após ser acusado de estuprar uma assessora. Na China, o ministério da Educação decretou uma política de "tolerância zero" para o assédio sexual de um professor contra vários alunas.

No Japão, o primeiro-ministro Shinzo Abe reagiu na quinta-feira ao caso de Fukuda, mas se limitou a considerar como "lamentável" as circunstâncias da renúncia do funcionário e prometeu restaurar a confiança em seu governo.

"É uma vergonha que os dois principais líderes do Japão, o primeiro-ministro e o ministro das Finanças, não percebam a extensão dos casos de assédio sexual", indignou-se Mari Miura.

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