Centenas de neonazistas se reuniram nesta sexta-feira (20), dia do aniversário de Adolf Hitler, em um povoado do leste da Alemanha para realizar um controverso festival sob fortes medidas de segurança.
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Os extremistas, em sua maioria homens, usavam camisetas com lemas de extrema direita como "branco é a minha cor preferida" e "Adolf era o melhor", segundo um jornalista da AFP no local.
Sua segurança era garantida por um grupo denominado "fraternidade ariana".
Esta primeira edição de "Schild und Schwert" ("Escudo e Espada") perto da fronteira tcheca e polonesa, que durará dois dias, mobiliza centenas de policiais, segundo as autoridades.
"Verão vários policiais em cada esquina", avisou o chefe da polícia local ao jornal Sächsische Zeitung.
O dispositivo de segurança inclui 1.100 agentes, além de canhões de água e patrulhas de botes policiais no rio Neisse, em cuja margem é realizado o festival, reportou o jornal.
Como precaução adicional, o tribunal regional proibiu o consumo de álcool e carregar garrafas de vidro, assim como algumas raças de cães.
Os organizadores preveem 800 participantes mas, segundo militantes da rede antifascista Antifa, o evento, cujo lema é a "Reconquista da Europa", poderia atrair cerca de 3.500 neonazistas.
Além dos participantes alemães, espera-se a chegada de extremistas da Europa do Leste no município de Ostritz, de 2.400 habitantes, situado na ex-RDA comunista, na fronteira com a Polônia e República Checa.
O festival incluirá, além de shows de grupos de círculos ultranacionalistas, debates políticos, combates de artes marciais e um congresso de tatuadores.
É realizado em um momento em que a Alemanha experimenta um ressurgimento dos movimentos de extrema direita, alimentado pelos temores suscitados pela chegada maciça de refugiados sírios e afegãos em 2015.
O partido anti-imigração Alternativa para Alemanha (AfD), que soube aproveitar essa tendência para entrar na câmara dos deputados após as legislativas de 24 de setembro, obteve seus melhores resultados no estado da Saxônia, onde se realiza o festival.
O promotor do evento é Thorsten Heise, membro do pequeno partido ultranacionalista NPD, que conseguiu evitar a proibição, já que o Tribunal Constitucional considerou que a audiência era muito pequena para representar um perigo.
"Defender seu clã"
Centenas de pessoas participaram de duas contra-manifestações.
"O fascismo não é uma opinião, é um crime", considerou um de seus organizadores, Mirko Schultze, de 50 anos.
"Tentamos ocupar o espaço público em volta do hotel" onde se realiza o festival "para dizer que defendemos a democracia aqui e para que Ostritz não se transforme em seu novo terreno de encontro", acrescentou.
Responsáveis políticos e religiosos locais e associações civis convocaram um "festival da paz", uma reunião com caráter familiar no centro da cidade.
Há anos os neonazistas fazem shows clandestinos para arrecadar fundos e recrutar novos membros. Mas a realização desse festival com um terreno para acampar próximo ao local e uma entrada por 45 euros para dois dias representa, segundo seus críticos, uma deriva preocupante dos círculos ultranacionalistas, que tentam agir com total impunidade.
As autoridades não podem fazer nada dado que a Constituição garante o direito a organizar reuniões pacíficas ao ar livre. Os símbolos nazistas, como a suástica não podem, no entanto, ser mostrados em público.
Além do dia escolhido para o festival, também chama a atenção que suas iniciais sejam "SS", os temíveis esquadrões de elite de Hitler.
O lugar escolhido fica perto da Baixa Silésia, um território invadido pela Alemanha nazista e cuja restituição à Polônia após a Segunda Guerra Mundial ainda não foi aceita pelos irredentistas alemães.
Uma noite de combates de artes marciais intitulada "O combate dos nibelungos" - uma referência da mitologia nórdica e germânica - faz parte do programa. "Viver é combater", afirmam os organizadores. "Sempre foram os combatentes que defenderam seu clã, sua tribo, sua pátria", asseguram.
Uma pessoa de 75 anos que vive perto do lugar onde se organiza o festival e que pediu para não ser identificada disse à AFP que "é uma vergonha que o governo não possa proibir isto apesar de todo o mal que Hitler trouxe para a Alemanha".