Confrontos entre manifestantes e policiais de choque deixaram ao menos 35 feridos e 10 detidos nesta terça-feira em Matagalpa, no norte da Nicarágua, no âmbito dos protestos contra o governo de Daniel Ortega que já deixaram ao menos 53 mortos.
"Estão atirando em nós, eles não têm vergonha, as ruas são nossas, atacam as pessoas desarmadas, covardes. Fora!" - gritaram os manifestantes em uma rua da cidade, segundo um vídeo divulgado nas redes sociais.
"Disparam em nós com escopeta, vêm nos agredir!" - disse em outro vídeo um jovem com o rosto parcialmente coberto com uma camisa.
O dirigente da Associação Nicaraguense Pró-Direitos Humanos (ANPDH) de Matagalpa, German Herrera, disse a um canal de televisão local que "os garotos estão desarmados e não têm com o que se defender" contra os policiais.
"Nosso cálculo está em cerca de 35 pessoas feridas e 10 detidos", disse Herrera ao canal privado 100% Noticias.
"É doloroso o que está acontecendo, não deveria ter acontecido isso, (...) estamos preocupados porque o homem (o presidente Daniel Ortega) fala de diálogo, mas não existem as condições".
"Há muitos feridos em Matagalpa", disse à AFP Bayardo Siles, um ativista que se encontrava em uma paróquia apoiando o traslado de feridos ao hospital da cidade.
Matagalpa, 127 km ao norte da capital, foi governada nas últimas duas décadas pela Frente Sandinista (FSLN, esquerda), de Ortega.
O Canal 100% Noticias - um dos meios que foi fechado pelo governo por alguns dias em abril por transmitir a repressão às manifestações - denunciou que um muro em frente ao seu edifício em Manágua foi alvo de um disparo a partir de uma caminhonete branca.
"Tomamos isto como parte das ameaças e intimidações que fizeram contra nós" por transmitir o que ocorre nos protestos, disse à AFP a chefe de imprensa do Canal, Lucía Pineda.
Pineda revelou que recebem diariamente de parte de simpatizantes do governo ameaças de morte contra seu diretor e de que vão incendiar o edifício.
O Ministério da Educação anunciou a suspensão das aulas do ensino secundário em Manágua, como medida de segurança, depois que alunos de alguns colégios se uniram aos protestos.
Na cidade de Masaya, no sul do país, a polícia de choque atacou com bombas e disparos de armas de fogo um grupo de cidadãos que protegia voluntariamente um supermercado de saques, denunciou a população local.
"A comunidade estava cuidando do (supermercado) Maxi-Palí e veio o choque para nos atacar, atiraram gases, bombas, e dispararam para matar. Nem olharam para ver se havia crianças", disse à AFP Yesenia López, 37 anos, acrescentando que "um montão de gente ficou machucada ou ferida".
Masaya, 30 km ao sul de Manágua, foi alvo no final de semana de uma forte repressão por parte da polícia, que deixou um morto, mais de 100 feridos e várias propriedades e negócios saqueados.
As manifestações contra o governo, que começaram no último 18 de abril, em meio a um clima crescente de violência, já deixaram ao menos 53 mortos e mais de 400 feridos.
O governo e a oposição se preparam para iniciar na quarta-feira um diálogo nacional com a mediação da igreja católica, com a esperança de encontrar uma saída para a crise no país.
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Redução de vistos para os EUA
Nesta terça-feira, a embaixada dos Estados Unidos na Nicarágua anunciou a suspensão do trâmite de vistos e emitiu um alerta de segurança para seus cidadãos devido às "condições instáveis" no país.
A missão diplomática informou que "não processará aplicações de rotina para vistos de não imigrantes" a partir de quarta-feira, segundo uma nota à imprensa.
Indicou, ainda, que devido às "condições instáveis de segurança" o horário de atendimento ao público foi reduzido e que o pessoal consular "priorizará os serviços a cidadãos americanos".
Acrescentou que foram cancelados todos os agendamentos para solicitação de vistos, "assim como as aplicações de vistos de menores de idade com pais que têm residência vigente nos Estados Unidos".
Os vistos de emergência só abrangerão viajantes com circunstâncias médicas urgentes, estudantes e visitantes de intercâmbio com datas de entrada iminentes, assim como viagens de negócios de caráter urgente.
Em 23 de abril, o governo americano ordenou a saída da Nicarágua de familiares de funcionários da diplomacia, devido à onda de protestos que afeta o país.