A Justiça chilena apreendeu nesta quarta-feira (13) documentos eclesiásticos nas cidades de Santiago e Rancagua, com base nas denúncias de abuso sexual contra menores por parte da Igreja Católica.
A ação judicial, que surpreendeu a Igreja chilena, ocorre em meio à visita do arcebispo de Malta, Charles Scicluna, e do monsenhor Jordi Bertomeu, enviados do Papa Francisco para escutar testemunhos de vítimas de abusos sexuais.
"Foram diligências simultâneas em Santiago e em Rancagua", disse à imprensa o procurador regional Emiliano Arias, que se declarou "satisfeito com os resultados".
Arias explicou que as diligências constituem um "hito" fundamental na investigação envolvendo membros da Igreja que cometeram crimes contra menores, mas esclareceu que "não se trata de uma investigação contra a Igreja Católica".
"O arcebispado de Santiago entregou ao senhor procurador toda a documentação solicitada", revelou o arcebispo da capital chilena, cardeal Ricardo Ezzati, reafirmando sua "disponibilidade de colaborar com a Justiça".
Na tarde desta quarta-feira, o procurador-geral, Jorge Abott, e outros três procuradores se reuniram com Scicluna "em busca de colaboração para as investigações que estamos realizando", revelou Abott ao final do encontro.
O compromisso "é estabelecer a verdade, especialmente para a reparação das vítimas".
A visita de Scicluna e Bertomeu ocorre em meio a uma forte reestruturação da Igreja chilena, determinada pelo próprio Papa Francisco após as denúncias de abusos.
Todo o episcopado chileno apresentou sua renúncia em 18 de maio, depois de uma série de reuniões com Francisco no Vaticano.
Na segunda-feira, Francisco aceitou a renúncia de três bispos chilenos, incluindo a de Dom Juan Barros, ligado ao escândalo de pedofilia que abala o clero chileno.
Vários membros da hierarquia da Igreja Católica chilena são acusados ??de terem ignorado ou encoberto os abusos do padre chileno Fernando Karadima nos anos 80 e 90.
Francisco, que em um primeiro momento defendeu durante sua viagem ao Chile em janeiro o bispo Juan Barros, acusado de encobrir os abusos, reviu sua posição.
O papa pediu desculpas às vítimas e admitiu "sérios erros" depois de ler um relatório de 2.300 páginas sobre os abusos no Chile.
O sumo pontífice recebeu no início de maio no Vaticano três vítimas do padre Karadima, condenado em 2011 por um tribunal da Santa Sé por ter cometido atos de pedofilia nos anos 80 e 90.