Pelo menos oito crianças brasileiras foram separadas dos seus familiares após cruzarem fronteira com o México neste ano, de acordo com um balanço divulgado pelo Consulado do Brasil em Houston nesta quarta-feira (20). Elas fazem parte do grupo de 2.000 crianças imigrantes que estão ocupando os abrigos norte-americanos, graças a política de “tolerância zero” aos imigrantes ilegais colocada em prática pelo governo de Donald Trump há seis meses.
O presidente Donald Trump garantiu, na última segunda-feira (18), que os Estados Unidos não se transformarão em um "campo de imigrantes", no momento em que seu governo enfrenta grande polêmica pela prática de separar os filhos dos pais, no caso de famílias de imigrantes.
O Departamento de Segurança Interna (DHS) afirma que não tem uma política para separar famílias, mas os casos dispararam exponencialmente desde que o governo passou a prender os imigrantes que cruzam a fronteira sul do país de forma clandestina.
Confira abaixo alguns dados sobre a crise atual:
600.000 pedidos de asilo
Entre março e maio deste ano, mais de 50.000 pessoas foram detidas por mês pelo ingresso clandestino no país, pela fronteira com o México. Em 15% dos casos, são famílias, e 8% são menores desacompanhados de qualquer adulto.
Enquanto os cidadãos mexicanos são devolvidos para seu país, cresce o número de pessoas procedentes de Guatemala, Honduras e El Salvador. Praticamente todas as famílias e os menores sozinhos pedem asilo, alegando o medo de sofrer violência, se retornarem para seu país de origem.
Até agora, os demandantes de asilo registravam seus casos e eram soltos nos Estados Unidos à espera de análise. Hoje, existe um acumulado de 600.000 pedidos de asilo, e muitas famílias nunca se apresentam para defender seus casos, optando por "se diluir" na sociedade americana.
Para o governo Donald Trump, esta situação se tornou um "ímã" para quem quer entrar nos Estados Unidos.
Separação familiar como dissuasão
Entre outubro de 2017 e abril deste ano, cerca de 700 menores foram separados de seus pais e retidos por semanas, ou enviados para centros de acolhida antes de poderem voltar a se reunir com suas famílias. A medida não teve, porém, impacto no número de novos imigrantes.
Trump ordenou medidas mais rígidas e, em 7 de maio, o procurador-geral e secretário de Justiça, Jeff Sessions, anunciou a política de "tolerância zero".
Nessa política, qualquer pessoa que ingressar clandestinamente será detida e enfrentará acusações criminais. Quando se trata de famílias, as crianças são separadas dos pais.
Em apenas cinco semanas de aplicação da "tolerância zero", o número de crianças separadas dos pais aumentou para mais de 2.300.
Uma lei, ou uma política?
Trump afirma que uma lei que ele herdou de governos democratas o obriga a separar famílias de imigrantes, mas Sessions e outros funcionários se referiram a uma "política" de processar os adultos pela entrada ilegal no país.
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Na realidade, nada obriga o governo a processar imigrantes que ingressam clandestinamente no país, mas isso acaba forçando a separação das famílias. Quando os pais são detidos, com acusações criminais, devem ser separados dos filhos.
"Se você cruza nossa fronteira de forma ilegal, nós vamos processar você. Se você trafica uma criança, vamos processar você, e as crianças serão separadas tal como exige a lei", disse Sessions.
O que acontece com as crianças?
Uma vez separadas dos pais, as crianças são entregues à Escritório de Instalação de Refugiados (ORR, na sigla em inglês), do Departamento de Saúde e Serviços Humanos.
Esses menores têm idades que vão de um a 18 anos e são retidos em centros de acolhida, onde dormem em colchões sobre concreto em unidades rodeadas de cercas metálicas que dão, ao conjunto, a impressão de uma enorme jaula.
Hoje, o ORR tem sob sua guarda quase 12.000 menores, sendo que cerca de 10.000 entraram no país sem a companhia de um adulto.
De acordo com o governo, o ORR tenta instalar essas crianças que chegaram desacompanhadas com familiares que já viviam nos Estados Unidos - um processo que pode demorar vários meses. O ORR afirma que também tentará localizar os jovens recentemente separados de seus pais.
Muro
Trump quer a liberação de US$ 25 milhões para desenvolver seu projeto de imigração que inclui, a construção do muro com o México, terminar com o programa de loteria de vistos para países com baixa imigração e construir novas prisões para imigrantes.
Todas essas ações têm o objetivo de reduzir a imigração pela metade em dez anos e existe a intenção do governo Trump de criminalizar a permanência de pessoas sem documentos, acelerando deportações e reduzindo a concessão de asilos e refúgio.