O chefe de Estado turco, Recep Tayyip Erdogan, foi reeleito no primeiro turno, nesse domingo (24), para um novo mandato com poderes reforçados, impondo-se a uma oposição unida nestas eleições presidenciais e legislativas, muito disputadas.
Erdogan, no poder há 15 anos, reeleito para um novo mandato de 5 anos, saboreou a vitória, dirigindo-se a milhares de simpatizantes reunidos em Ancara na madrugada de segunda-feira em frente à sede do seu partido, o islamita-conservador AKP.
"A vencedora destas eleições é a democracia, a vontade nacional. O vencedor destas eleições é cada um dos 81 milhões de nossos concidadãos", exclamou Erdogan entre vivas de seus simpatizantes.
As autoridades eleitorais turcas informaram na madrugada desta segunda-feira (noite de domingo no Brasil) que Erdogan havia obtido a maioria absoluta dos votos apurados, sendo eleito no primeiro turno ante uma oposição feroz e unida, com o líder social-democrata Muharrem Ince na liderança.
Desde que o AKP chegou ao poder em 2002, Erdogan destacou-se como o dirigente turco mais poderoso depois do fundador da república, Mustafa Kemal, transformando o país com megaprojetos de infraestrutura e reformas sociais, liberando a expressão religiosa, e transformando Ancara em ator-chave da diplomacia.
Seus críticos acusam o "rais", de 64 anos, de seguir uma orientação autocrática, particularmente desde a tentativa de golpe de julho de 2016, que foi seguida de uma onda de repressão sem piedade contra opositores e jornalistas e tensionou as relações entre Ancara e o Ocidente.
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Sua vitória nas eleições deste domingo consolidou ainda mais seu poder, pois a votação marca a passagem do atual sistema parlamentar para um regime presidencialista em que o chefe de Estado concentra a totalidade do poder Executivo, conforme se decidiu em um referendo no ano passado.
Segundo a agência estatal de notícias Anadolu, Erdogan teria vencido as eleições com 52,5% dos votos, apuradas mais de 99% dos votos, e a aliança dominada pelo AKP teria obtido 53,61% dos votos nas legislativas.
"Estamos com ele"
Seu principal adversário, o social-democrata Muharrem Ince, ficou na segunda posição das presidenciais, com 30,7% dos votos, e a aliança "anti-Erdogan", formada por vários partidos de oposição para as legislativas, obteria 34%, segundo resultados parciais divulgados pela Anadolu.
Ince não deu declarações sobre os resultados da noite deste domingo e convocou uma coletiva de imprensa para o meio-dia de segunda-feira, horário de Ancara (6h, horário de Brasília).
Milhares de simpatizantes de Erdogan se concentraram à noite nos arredores da residência do presidente em Istambul, cantando e agitando bandeiras.
A declaração do chefe do YSK, retransmitida por um telão, foi recebida com gritos de alegria na sede do AKP em Ancara, onde uma multidão aguardava a chegada de Erdogan, vindo de Istambul.
"Tínhamos 100% de certeza de que venceríamos, Erdogan é nosso campeão", disse Handan Boztoy, que foi com a filha comemorar a "vitória". "Os resultados não vão mudar, estes últimos 16 anos Erdogan sempre venceu. Estamos com ele como nação", declarou.
"A vitória de Erdogan é incontestavelmente uma demonstração de sua grande popularidade junto ao eleitorado turco, em particular o eleitorado conservador nas regiões rurais de Anatólia, e o símbolo de sua resiliência frente a uma oposição unida", avaliou Jana Jabbour, doutora associada do CERI/Sciences Po de Paris e especialista em Turquia.
O dirigente pensava ter todas as cartas na manga, ao convocar estas eleições durante o estado de emergência e mais de um ano antes da data prevista, mas a degradação da situação econômica e uma ascensão inesperada da oposição o pegaram de surpresa durante a campanha.
Partido pró-curdo no Parlamento
Vendo nestas eleições a última chance para socavar a busca do presidente por um poder incontestável, partidos tão diferentes quanto o CHP (social-democrata), Iyi (nacionalista) e Saadet (islamita) formaram uma aliança "anti-Erdogan" inédita para as eleições legislativas com o apoio do HDP (pró-curdo).
Ince, um deputado habilidoso, se impôs como o principal rival de Erdogan nas presidenciais e conseguiu mobilizar centenas de milhares de simpatizantes em comícios gigantescos.
Erdogan apresenta o novo sistema presidencial, ao qual chegará como algo necessário para dotar a Turquia de um Executivo forte e estável, mas seus adversários políticos o acusam de querer monopolizar o poder com uma medida que suprime a função do primeiro-ministro e permite ao presidente governar por decreto.
O candidato do partido pró-curdo HDP, Selahattin Demirtas, que rivalizou em outra época com Erdogan nos palanques, teve que fazer campanha da cadeia, onde está em prisão preventiva desde 2016, acusado de atividades "terroristas".
Segundo os resultados parciais, Demirtas obteve quase 8% dos votos e seu partido superou a barreira dos 10% em nível nacional, permitindo-lhe ter representação no Parlamento.
Durante a votação houve forte boatos de fraude, sobretudo no sudeste, de maioria curda. Os opositores, que mobilizaram um exército de observadores, denunciaram irregularidades, especialmente na província de Sanliurfa.