Depois de esperar uma semana para ser recebido em um porto, o navio humanitário "Lifeline" poderá, enfim, acostar em Malta, e os seus 233 imigrantes a bordo serão divididos entre países europeu.
"Acabo de falar com o presidente (maltês) Muscat no telefone: o navio da ONG 'Lifeline' vai acostar em Malta", declarou o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, acrescentando que "a Itália vai acolher uma parte dos migrantes".
Pouco depois, Portugal e França anunciaram que vão receber uma parte dos migrantes resgatados, que serão distribuídos entre vários países.
Os migrantes desembarcarão em Malta e "serão distribuídos por vários países, entre eles Portugal", afirmou o ministro do Interior português, Eduardo Cabrita, que admitiu que ainda não está definida a quantidade de pessoas que serão recebidas por seu país.
"Vai se tratar de várias dezenas de indivíduos por país" de acolhida, afirmou por sua vez o presidente francês Emmanuel Macron, ao final de sua visita ao Vaticano e seu encontro com o papa Francisco.
A ONG alemã Lifeline, que freta o navio homônimo, afirmou no Twitter que "agora precisamos que os países da União Europeia acolham as pessoas. Isso foi o que Malta pediu, e é o que nós também pedimos".
O chefe de Estado italiano não especificou quando o navio será autorizado a atracar em Malta, nem quantos imigrantes a Itália vai acolher.
"Para as mulheres e crianças que realmente fogem da guerra, as portas estão abertas. Para todos os outros, não!", tuitou o ministro italiano do Interior, o ultraconservador Matteo Salvini.
Questionada pela AFP, uma fonte ligada ao governo maltês disse que o país "vai autorizar o desembarque apenas depois que os Estados-membros confirmarem que assumirão sua cota de imigrantes".
"Há muita informação circulando, muitos comunicados, mas nossa situação atual é que o navio não tem qualquer informação", criticou Erik Marquardt, porta-voz da ONG alemã Lifeline, que fretou o navio de mesmo nome.
Mais cedo nesta terça, o porta-voz do governo francês, Benjamin Griveaux, havia dito que uma "solução europeia" parecia se desenhar para o navio. "Será um desembarque em Malta", comentou, em entrevista à rádio RTL.
Em conversa com a AFP, um porta-voz do governo maltês havia evocado "discussões em curso", iniciadas no fim de semana. Já o primeiro-ministro maltês tuitou que as Forças Armadas retiraram uma pessoa da embarcação, durante à noite, após receberem uma chamada.
Pequena ilha mediterrânea com pouco mais de 400 mil habitantes, Malta se recusou, porém, a abrir seus portos para o navio humanitário "Aquarius", sem imigrantes a bordo, segundo a ONG SOS Méditerranée.
O "Aquarius" seguiu, então, para Marselha para uma escala técnica, que deverá ser feita nos próximos dias, após a recusa de Malta e da impossibilidade de atracar na Itália.
Roma não parece disposta a se desviar da linha-dura estabelecida desde a chegada ao poder do governo populista em 1º de junho, formado pela Liga (extrema direita) de Matteo Salvini e pelo Movimento Cindo Estrelas (M5S, antissistema). As ONGs "cúmplices, consciente, ou inconscientemente, dos traficantes" estão proibidas de entrar nos portos italianos, reafirmou Salvini na segunda-feira.
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Calor e falta de higiene
Os imigrantes do "Lifeline" enfrentavam, nesta terça-feira (26), calor e condições sanitárias que se degradam a cada dia. Há uma semana, o grupo está na expectativa, a bordo desse navio situado a cerca de 30 milhas da costa maltesa.
"A bordo não tem banheiro químico, mas três pequenos banheiros em mau estado, que todo o mundo usa. O comandante do navio abriu seu banheiro, mas apenas para as 44 mulheres e crianças e é preciso fazer uma longa fila", escreve o jornal italiano "La Repubblica".
Em contrapartida, 108 imigrantes conseguiram enfim desembarcar, na madrugada desta terça, em Pozzallo, na Sicília, após mais de três dias de espera em um porta-contêiner dinamarquês, o "Alexander Maersk". A embarcação os resgatou na sexta-feira, na costa líbia.