Os mexicanos compareceram às urnas neste domingo (1º) para eleições gerais marcadas por uma violência brutal e nas quais o candidato à presidência esquerdista Andrés Manuel López Obrador é o favorito.
"Este é um dia histórico. O povo do México vai decidir livremente sobre quem deve encabeçar o governo nos próximos seis anos", afirmou López Obrador antes de votar.
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"Nós pensamos que as pessoas vão dar o seu apoio (...). Vamos conseguir esta transformação sem violência, de maneira pacífica. Será uma mudança ordenada e ao mesmo tempo profunda porque vamos expulsar do país a corrupção", completou, ao lado da esposa e dos filhos em um colégio eleitoral na zona sul da Cidade do México.
Em sua terceira tentativa consecutiva de chegar à presidência, AMLO, como é conhecido pelos mexicanos, se apresenta como o candidato antissistema e é o favorito nas pesquisas, com mais de 20 pontos de vantagem sobre os rivais de partidos tradicionais: Ricardo Anaya, apoiado por uma coalizão de direita e esquerda (PAN, PRD e Movimento Cidadão) e José Antonio Meade, do governista Partido Revolucionário Institucional (PRI), que aparece em terceiro.
Além da eleição para presidente, quase 89 milhões de mexicanos estão registrados para escolher governadores, prefeitos e deputados locais e federais, entre os mais de 18.000 cargos em disputa.
Na Cidade do México, Claudia Sheinbaum, do Movimento de Regeneração Nacional (esquerda), que integra a aliança de López Obrador, se tornou a primeira mulher eleita para comandar a prefeitura da capital.
Segundo as pesquisas de boca de urna, Sheinbaum obteve entre 45,5% e 55,5% dos votos, rompendo com 21 anos de domínio do Partido da Revolução Democrática (PRD) na cidade.
A hora da esquerda?
López Obrador, 64 anos, conseguiu capitalizar o cansaço da população após seis anos de governo de Enrique Peña Nieto, um mandato marcado pela corrupção e por denúncias de violações dos direitos humanos.
Caso as previsões sejam confirmadas, as eleições de 2018 representarão uma mudança no mapa político mexicano.
"O sistema de partidos estabelecido foi sacudido pelo avanço do Morena" (Movimento de Regeneração Nacional), afirmou Duncan Wood, diretor do Instituto México no Wilson Center.
As eleições foram ofuscadas pela campanha eleitoral mais violenta da história recente do México, com pelo menos 145 políticos assassinados desde setembro (48 eram pré-candidatos, ou candidatos).
Um número significativamente maior do que o registrado em 2012, quando nove políticos e um candidato foram assassinados.
Na manhã deste domingo, uma militante do Partido do Trabalho (PT) foi assassinada no estado de Michoacán, antes da abertura das seções eleitorais.
Flora Resendiz González "faleceu quando era atendida em um hospital do município de Maravatío, após ser baleada por volta das 6h30 local, quando estava em casa", informou a Procuradoria de Michoacán, oeste do México.
"Aparentemente, homens armados já a estavam esperando do lado de fora de casa", disse uma fonte à AFP, pedindo para não ser identificada.
Mais tarde, um membro do governista PRI foi assassinado no estado de Puebla.
"Lamentamos a morte de Fernando Herrera Silva, militante do PRI, por episódios violentos na localidade de Acolihuia, (no município de) Chignahuapan", declarou o partido no Twitter.
"Exigimos do estado de Puebla que garanta a segurança nesse processo eleitoral", acrescentou.
A disputa eleitoral conta com observadores da Organização de Estados Americanos provenientes de 23 países e a vigilância de policiais e militares em todo país.
"Um governo sem luxos ou privilégios"
O combate à violência e à corrupção, que ele relaciona com "a máfia do poder", é a prioridade dentro das muitas reformas prometidas por AMLO.
Em seu projeto para 2018-2024 também estão o apoio ao campo, a revisão dos contratos milionários da reforma energética, um governo "austero, sem luxos ou privilégios" e a redução dos salários dos altos funcionários públicos em até 50%. Tudo para estimular programas sociais e reduzir a pobreza.
O problema é que muitos mexicanos e analistas criticam a falta de propostas concretas e o que chamam de retórica "populista".
Uma das maiores dúvidas diz respeito a sua relação com o presidente Donald Trump e, sobretudo, como dois modelos tão antagônicos conviverão dos dois lados do Rio Bravo, em temas vitais como a migração e as negociações de um renovado Tratado de Livre-Comércio.