Depois de mais de cinco anos de julgamento, a única integrante viva de um pequeno grupo neonazista alemão foi condenada nesta quarta-feira (11) à prisão perpétua por uma série de assassinatos racistas que provocaram comoção na Alemanha.
Beate Zschäpe, 43 anos e única integrante viva do trio "Clandestinidade Nacional Socialista" (NSU), foi condenada por sua participação nos assassinatos de oito turcos ou pessoas de origem turca, um grego e de uma policial alemã, entre 2000 e 2007.
De acordo com o que havia sido solicitado pela Promotoria, o tribunal de Munique também priva a condenada da possibilidade de solicitar a liberdade condicional antes de 15 anos, em consequência da "particular gravidade de seus crimes", segundo o veredicto lido pelo juiz Manfred Götzl.
O advogado da condenada, Wolfgang Heer, anunciou que a cliente vai recorrer da sentença. Também afirmou que a presença de Beate no local de um crime não foi comprovada e que ela "nunca atirou com uma arma nem explodiu uma bomba".
"Zschäpe fez suas as opiniões de pessoas de extrema-direita, em particular as contrárias aos judeus e aos estrangeiros", afirmou o juiz Götzl.
"A violência racista não se combate apenas com a força da lei. A intolerância e o ódio devem ser enfrentados com a diversidade de nossas sociedades abertas", escreveu no Twitter o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas.
Vergonha
Julgada desde maio de 2013, Beate Zschäpe também foi condenada nesta quarta-feira por dois atentados contra comunidades estrangeiras e 15 assaltos a bancos cometidos pelo trio NSU, que ela formava com Uwe Mundlos e Uwe Böhnhardt e que passou 14 anos na clandestinidade.
Em novembro de 2011, a polícia encontrou Uwe Mundlos (38 anos) e Uwe Böhnhardt (34) mortos a tiros no momento em que seriam detidos. Os investigadores acreditam que eles cometeram suicídio ou que um deles matou o cúmplice antes de tirar a própria vida.
"Mundlos era especialmente antissemita e odiava o multiculturalismo na Alemanha, enquanto Böhnhardt apresentava tendências extremistas crescentes", resumiu Manfred Götzl.
Outros quatro neonazistas, suspeitos de ajudar o trio com a logística, foram condenados a penas que variam entre dois anos e meio e 10 anos de prisão.
O caso provocou uma grande comoção na Alemanha, país ainda atormentado pelos crimes nazistas, e deixou em evidência as falhas do serviço de inteligência interna, além de ter criado um quebra-cabeça para o governo alemão pela impunidade com a qual os assassinos conseguiram atuar durante anos.
A chanceler Angela Merkel expressou a "vergonha" de seu país em relação a esses crimes.
Beate Zschäpe, que permaneceu calada durante grande parte do julgamento, falou no fim do processo e afirmou que a ideologia de extrema-direita não tinha mais realmente nenhuma importância para ela.
"Por favor, não me condene por algo que não quis, nem cometi", disse ao presidente do tribunal.
Desastre
As famílias das vítimas foram acusadas por engano e os investigadores de nunca terem examinado de maneira séria a hipótese de xenofobia.
Alguns parentes das vítimas contaram no tribunal que a polícia suspeitava que os falecidos haviam sido mortos em ajustes de contas entre narcotraficantes ou em casos de lavagem de dinheiro. Documentos importantes foram destruídos antes do fim da investigação.
Uma Comissão Parlamentar de Inquérito examinou as falhas da polícia e da justiça. O então presidente da Câmara Baixa do Parlamento alemão citou um "desastre histórico sem precedentes" e denunciou "o enorme fracasso das autoridades" na investigação que durou mais de uma década.
O julgamento precisou superar detalhes de procedimento e foi atrasado pelo desejo da principal acusada de revogar seus três advogados, antes de contratar outros dois defensores.
Para alguns familiares das vítimas, alguns aspectos ainda precisam ser explicados. "Nossa confiança nas instituições do Estado foram profundamente abaladas e não serão restabelecidas caso não iniciem outros procedimentos para revelar possíveis cumplicidades", resumiu o presidente da Comunidade Turca da Alemanha, Gökay Sofuoglu.