A China adotará medidas de estímulo econômico para contrabalançar o impacto da guerra comercial com os Estados Unidos - anunciou o governo nesta terça-feira (24), um dia depois de uma importante reunião presidida pelo primeiro-ministro Li Keqiang.
Na semana passada, o governo de Pequim enfim reconheceu que as tarifas proibitivas impostas pelo presidente dos Estados Unidos terão um impacto no crescimento da economia chinesa. No último trimestre, houve uma leve desaceleração, a 6,7%.
Antes dessas "incertezas externas", o governo chinês se reuniu na segunda-feira sob a coordenação do premiê Keqiang para adotar uma série de medidas fiscais e financeiras para estimular a demanda interna.
Essa mudança de rumo foi bem acolhida, nesta terça, pela Bolsas de Hong Kong (+1,44%), Xangai (+1,61%) e Shenzhen (+1,51%).
O governo anunciou uma política fiscal "mais ativa", autorizando mais empresas a deduzirem impostos dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento, indicou o governo em um comunicado.
Também se acelerará a emissão de "títulos especiais" para financiar projetos de infraestrutura das administrações locais por um montante de 1,35 trilhão de iuanes.
Além disso, o governo "intensificará seus esforços" para conceder anualmente linhas de crédito de 140 bilhões de iuanes (17 bilhões de euros) destinadas a 150 mil pequenas empresas por ano.
Também serão favorecidos os investimentos privados em setores como transportes, telecomunicações, petróleo e gás.
O governo chinês disse claramente que está disposto a defender o crescimento, indicaram os economistas do banco ANZ.
A China segue no mesmo dilema, porém, entre apoiar a economia com o risco de se endividar ainda mais, ou reduzir o endividamento, com o risco de que isso freie o crescimento.
Não à 'enxurrada'
Nesse sentido, o governo advertiu que não haverá uma "enxurrada" de medidas de estímulo como aquelas aplicadas após a crise financeira de 2008. Essas medidas fizeram a dívida crescer enormemente e, agora, o governo tenta contê-la.
"A política monetária prudente não será nem demasiado rigorosa, nem demasiado complacente", advertiu o governo.
O Banco Central chinês já reduziu três vezes este ano seu nível de reservas obrigatórias.
Além disso, na segunda-feira, o Banco Central injetou 502 bilhões de iuanes (63 bilhões de euros) na economia na forma de empréstimos bancários a um ano.
Trata-se da maior injeção de liquidez para esse tipo de empréstimo desde que foram criados, há quatro anos.
"Pequim faz bem em descartar, por ora, um plano de estímulo em massa, porque apenas poderia financiá-lo com uma nova fase de flexibilização monetária e de endividamento", apontam os economistas do banco Nomura em Hong Kong.
Também preveem que o crescimento continuará se desacelerando pela queda da demanda externa. Os Estados Unidos representam um quinto das exportações chinesas.
A entrada em vigor, em julho, das tarifas de Washington sobre os produtos chineses por 34 bilhões de dólares já está afetando setores como o de automóveis, informática, ou aeronáutica.
A China respondeu com tarifas do mesmo montante sobre as importações americanas, e Donald Trump ameaçou com novas medidas.
O iuane, que perdeu 8% de seu valor frente ao dólar desde abril, era cotado nesta terça a 6,81 por dólar, seu nível mais baixo em um ano, o que favorece as exportações.
A moeda chinesa pode flutuar apenas um máximo de 2% em relação ao dólar, conforme estabelecido diariamente pelo Banco Central (PBOC).