O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, respaldado pelos militares, prepara uma resposta dura à tentativa de assassinato de que garante ter sido vítima, provocando temores de uma onda repressiva contra seus adversários.
"Permanecemos incólumes e aferrados às convicções que nos caracterizam, apoiando de maneira incondicional e com irrestrita lealdade a nosso comandante em chefe", afirmou neste domingo (5) o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, com o alto comando militar.
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Em declaração à imprensa, o general confirmou a denúncia de Maduro de que foi alvo, no sábado (5), de um ataque com drones carregados de explosivos, do qual escapou ileso.
Com grande poder político e econômico, a Força Armada é considerada o principal apoio de Maduro - que enfrenta uma enorme rejeição popular pela crise econômica.
O ministro do Interior, Néstor Reverol, confirmou neste domingo que há seis presos por tentativa de magnicídio contra Maduro durante um discurso em uma parada militar em Caracas.
Reverol apontou que dois drones, carregados com um quilo de explosivo C4 cada, foram desarticulados com inibidores de sinal. Um deles estava perto da tribuna presidencial. O outro perdeu controle se chocou contra um prédio perto da avenida Bolívar, produzindo uma coluna de fumaça.
Também reiterou que sete militares ficaram feridos.
Após o incidente, Maduro prometeu ir atrás de todos os responsáveis, "caia quem cair".
"Justiça! Máximo castigo! Não vai haver perdão, os que se atreveram a ir até o atentado pessoal que esqueçam o perdão, os perseguiremos e os capturaremos onde quer que estejam escondidos. Eu prometo!", advertiu no sábado à noite.
Maduro atribuiu o ataque à "ultradireita", como se refere à oposição, e ao presidente colombiano, Juan Manuel Santos.
O presidente citou uma entrevista de Santos na última segunda-feira à AFP, na qual disse que via "próxima" sua queda.
"Trata-se de um atentado para me matar, tentaram me assassinar no dia de hoje (...) Não tenho dúvidas de que o nome de Juan Manuel Santos está por trás deste atentado", afirmou Maduro.
Aliados apoiam, adversários criticam
O presidente Santos entregará o poder na próxima terça-feira ao vencedor das recentes eleições presidenciais, o político de direita Iván Duque, um duro crítico de Maduro.
"São absurdas e carecem de qualquer fundamento as declarações" contra Santos, afirmou o Ministério das Relações Exteriores da Colômbia em um comunicado.
"Já é costume o presidente venezuelano culpar permanentemente a Colômbia de qualquer tipo de situação. Exigimos respeito pelo Presidente Juan Maniel Santos", acrescentou a chancelaria colombiana.
Maduro garantiu que os "financiadores" do plano estão nos Estados Unidos. "Posso afirmar categoricamente que não houve absolutamente nenhuma participação do governo americano no ocorrido ali", afirmou neste domingo o conselheiro de Segurança Nacional de Trump, John Bolton.
"Se o governo venezuelano dispõe de informações sólidas que queiram nos proporcionar e que demonstrem uma possível violação do direito penal americano, o atenderemos seriamente, mas enquanto isso, deveríamos nos concentrar na corrupção e na opressão do regime na Venezuela", acrescentou Bolton, que indicou que o incidente poderia ter sido "muitas coisas, como um pretexto montado pelo próprio regime".
O mandatário venezuelano determinou que os militares devem permanecer em "alerta máximo" e redobrar a Inteligência na fronteira com a Colômbia.
Maduro "reforça, assim, sua narrativa de que a crise da Venezuela se deve a atores externos de Colômbia e Estados Unidos, mas não está claro se esta tática vai funcionar", disse à AFP o diretor da instituição Diálogo Interamericano, Michael Shifter.
Os governos de Cuba, Bolívia, Síria, Irã, Turquia e Rússia - aliados do governo socialista - condenaram o incidente.
O líder do governista Partido Comunista de Cuba (PCC), Raúl Castro, e o presidente do país, Miguel Díaz-Canel, condenaram "energicamente a tentativa de atentado contra o presidente Nicolás Maduro", em tuíte da chancelaria cubana.
A chancelaria russa mencionou uma "tentativa de assassinato" contra Maduro, através de sua chancelaria. "Consideramos que o uso de métodos terroristas como ferramenta para as lutas políticas é categoricamente inaceitável".
"É óbvio que tais ações estão destinadas a desestabilizar a situação no país depois do congresso do Partido Socialista da Venezuela, que delineou os passos prioritários que devem ser dados para restaurar a economia nacional", acrescentou a fonte.
Teerã considerou que a tentativa de magnicídio "é um passo rumo à instabilidade e à insegurança na Venezuela, que só poderia beneficiar os inimigos do povo e o governo do país", indicou o porta-voz da chancelaria, Bahram Ghasemi.
O chanceler da Nicarágua, Denis Moncada, afirmou que "a tentativa de magnicídio" contra Maduro é um atentado contra os governos "democráticos e revolucionários" da região.
A "tentativa de magnicídio contra o presidente Nicolás Maduro" é um ataque "contra os governos democráticos progressistas e revolucionários da América e do Caribe" e isso inclui o "governo da Nicarágua", disse Moncada em um ato de solidariedade com a Venezuela na sede da chancelaria, em Manágua.
A Espanha, por fim, criticou "qualquer violência com fins políticos", limitando-se a qualificar de "atos violentos" o que Maduro chama de tentativa de assassinato.
Explosão na frente de Maduro
Um suposto grupo rebelde, o Movimento Nacional Soldados de 'Franelas' (camisas), reivindicou o ataque, de acordo com um comunicado divulgado por uma jornalista de oposição radicada nos Estados Unidos.
O grupo afirma ser integrado por militares e civis.
Um vídeo divulgado pelo governo mostra o momento em que uma explosão é ouvida e os seguranças de Maduro, que fazia um discurso, cobrem-no com um colete à prova de balas.
Ao contrário do presidente, que permaneceu de pé e tentou observar o que acontecia, vários militares a seu lado se abaixaram e, pouco depois, Maduro foi retirado do local. Sua esposa, Cilia Flores, e vários nomes importantes do governo estavam no palanque.
"Minha primeira reação foi de observação, de serenidade, porque tenho plena confiança no povo e nas Forças Armadas", afirmou Maduro.
O procurador-geral, Tarek William Saab, ligado ao governo, informou que na segunda-feira revelará as identidades dos detidos.
"Haverá uma sanção implacável", alertou Saab, que testemunhou o incidente.
O procurador-geral afirmou que um dos drones gravava o ato.
"Observei como o drone que filmava os atos explodiu", declarou ao canal CNN.
Após a explosão, dezenas de militares começaram a correr de maneira desordenada.
A transmissão da cerimônia em rede de rádio e televisão foi interrompida. Fotografias mostram um militar ensanguentado.
Repressão?
A advertência de Maduro gerou temores de uma ofensiva contra os opositores, em um país onde se denuncia que há 248 "presos políticos".
"Nos preocupa que os acontecimentos (...), que ainda não foram devidamente esclarecidos, tornem-se uma desculpa para desatar uma onda repressiva contra adversários do governo", disse em nota o Avanzada Progresista, partido do ex-candidato presidencial Henri Falcón.
A forma como o governo lida com o caso é uma "tentativa de criminalizar aqueles que legitimamente e democraticamente se opõem a ele, aprofundar a repressão e a violação sistemática do império da lei", denunciou a oposição Frente AmplioAmplia .
Maduro se mostrou desafiador, com a declaração de que agora está "mais decidido do que nunca a seguir o caminho da revolução".
Ex-motorista de ônibus, 55 anos, ele chegou ao poder em 2013, após a morte de Hugo Chávez, que governava o país desde 1999.
Apesar da crise econômica, o presidente foi reeleito em 20 de maio em uma votação polêmica, boicotada pela oposição, que considerou o pleito ilegítimo.
Sua reeleição não foi reconhecida por grande parte da comunidade internacional.