Milhares de venezuelanos, cansados, desidratados e mal alimentados, atravessam a Colômbia e o Equador para chegar ao Peru, antes da entrada em vigor de normas migratórias mais restritivas neste sábado (25).
Em um Centro Binacional de Atenção Fronteiriça (CEBAF) em Tumbes, na fronteira entre Equador e Peru, milhares de venezuelanos aguardam horas antes do início da aplicação da norma que obrigará a apresentação de passaporte para a entrada no território peruano. Muitos são jovens, alguns com seus filhos.
Várias pessoas caminharam por quase 20 dias, viajaram em precários ônibus rurais ou pediram carona na estrada depois que deixaram para trás seu país em profunda crise. "Vim para cá 'mochilando' pela Colômbia e Equador, como todos os venezuelanos", contou à AFP Edgar Torres, professor de Educação Física, de 22 anos, de Caracas.
Assim como quase todos os companheiros de travessia, ele não tem passaporte ou dinheiro. No CEBAF aguardou por 12 horas em uma fila para obter o documento que permitia a entrada no Peru. Fez a primeira refeição em 10 dias quando voluntárias de uma igreja de Tumbes distribuíram sopa de arroz e batatas. Apesar da odisseia, Torres estava feliz. Ele disse que tinha um contato para um trabalho de pescador em Acapulco, uma enseada próxima a Tumbes, onde espera juntar dinheiro antes de seguir para Lima. No futuro, pretende trazer a mulher e a filha ao país.
2.500 venezuelanos por dia
O CEBAF tem capacidade para atender 200 pessoas por dia, mas o número superou a quase 2.000 recentemente.
Nas últimas semanas, o local registrou a entrada 2.500 venezuelanos por dia em média. A quantidade disparou com a aproximação da data de exigência do passaporte, medida em que o Peru seguirá o exemplo do Equador.
Angelí Vergara, secretária de 22 anos, contou à AFP que aguarda há dois anos a emissão do passaporte. Como não recebeu o documento, decidiu viajar para evitar a nova norma.
Na fila, os migrantes aproveitam para descansar e tentar comer algo. O CEBAF tem um restaurante que vende pratos de frango com arroz ao equivalente a 3,5 dólares, mas poucos venezuelanos têm condições de pagar. As longas caminhadas, com mochilas nas costas ou carregando malas, provocam ferimentos nos pés de muitos venezuelanos.
A Cruz Vermelha e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) mantêm funcionários desde abril na fronteira para ajudar os viajantes. "As pessoas chegam com poucos recursos e após viagens, a mais curta de cinco ou seis dias. Algumas pessoas viajam por meses", afirmou a secretária de informação do ACNUR, Regina de la Portilla.
O CEBAF conta agora com um centro de saúde e vacinação. O local também possui banheiros, os primeiros que alguns venezuelanos conseguem usar em semanas, além de distribuição gratuita de água mineral. O edifício principal está reservado aos venezuelanos. O outro prédio, menor, quase vazio, atende peruanos, equatorianos e viajantes de outros países.
Mas chegar à fronteira peruana não significa o fim da odisseia, pois seguir até Tumbes, 25 quilômetros ao sul, custa 10 dólares de táxi, único transporte autorizado. É um serviço criado para turistas, não para refugiados. De Tumbes para Lima, a viagem de 1.200 km que demora 20 horas de ônibus custa 35 dólares.