A chanceler Angela Merkel pediu nesta segunda-feira (3) aos alemães que se mobilizem contra o "ódio" propagado pela extrema direita, que avança depois de novos episódios de violência durante o fim de semana e que deixaram 20 feridos.
"O que nós infelizmente testemunhamos nos últimos dias, incluindo durante o fim de semana, essas marchas de extremistas de direita e neonazistas preparados para a violência, não têm nada a ver com o luto de um homem, mas visam a enviar uma mensagem de ódio contra estrangeiros, políticos, policiais e imprensa livre", declarou Steffen Seibert, porta-voz de Merkel.
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"Precisamos deixar claro: todo cidadão pode tomar a palavra e tomar uma posição contra a divisão do nosso país", ressaltou.
O porta-voz reagiu, assim, a uma nova passeata organizada no sábado por várias organizações de extrema direita nas ruas de Chemnitz, que reuniu 8.000 pessoas para denunciar a morte de um alemão de 35 anos esfaqueado na rua.
A Justiça prendeu um requerente de asilo iraquiano de 22 anos e um suposto cúmplice sírio pelo caso.
Em Chemnitz, 18 pessoas, entre elas três policiais, ficaram feridas no sábado à noite depois da marcha anti-imigrantes e outra contramanifestação de esquerda, que reuniu cerca de 3.000 pessoas.
Entre os feridos destaca-se um jovem afegão de 20 anos que levou uma surra de encapuzados, alguns militantes do partido social democrata e uma equipe de televisão.
Merkel na mira
Liderada pelo partido Alternativa para a Alemanha (AfD), a primeira força de oposição na Câmara dos Deputados em Berlim, a extrema direita tem-se aproveitado deste assassinato para relançar suas críticas aos imigrantes e à política de abertura de Angela Merkel.
Os críticos da chanceler a acusam de ter aumentado a insegurança no país, ao receber em 2015 e 2016 mais de um milhão de demandantes de refúgio.
O ministro italiano do Interior, o ultradireitista Matteo Salvini, se somou nesta segunda às críticas contra a política migratória da dirigente alemã.
"Angela Merkel subestimou o risco de tensões sociais nos últimos anos, quando afirmou que havia espaço para milhares dessas pessoas na Alemanha", assinalou Salvini sobre os distúrbios de Chemnitz, em uma entrevista difundida nesta segunda à noite pelo canal estatal da televisão alemã, Deutsche Welle.
O auge da extrema direita alemã é "uma clara reação" ao erro da chanceler alemã e de seu governo com relação à capacidade do país de receber demandantes de refúgio, acrescentou o ministro italiano.
A mobilização anti-imigrantes beneficia a extrema direita alemã. Segundo as últimas pesquisas, a AfD avança nas intenções de voto, com 16%, e está na terceira colocação, logo atrás do partido social democrata, com apenas 17%.
Show contra xenofobia
Nesta segunda-feira aconteceu em Chemnitz um show de rock contra a xenofobia sob o lema "Nós somos mais". Um evento apoiado pelas maiores autoridades do Estado, entre elas o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, e o ministro das Relações Exteriores, Heiko Maas.
Cerca de 65.000 pessoas assistiram o espetáculo, apoiado por autoridades do Estado, que pediram aos alemães que se mobilizem contra "o ódio" propagado pela extrema direita.
"Aqui não se trata de uma batalha da esquerda contra a direita, mas há uma evidência, e pouco importa a sua cor política, e sim se opor a uma multidão de extrema direita que se torna violenta", explicou Campino, cantor estrela do grupo Toten Hosen, famoso na Alemanha.
Além disso, os habitantes da terceira cidade da Saxônia foram convidados pelas redes sociais para uma "manifestação nas janelas" colando mensagens de tolerância em suas varandas.