Donald Trump está irritado após revelações sobre um suposto caos na Casa Branca. Nesta sexta-feira, ele chegou a pedir para a Justiça investigar o oficial de alto escalão que, sob anonimato, denunciou sua incompetência e alega pertencer a uma "resistência" silenciosa dentro do governo.
O presidente americano sofreu um golpe duplo com a publicação, em um intervalo de 24 horas, de uma coluna de opinião no The New York Times e de trechos de um livro devastador do famoso jornalista investigativo Bob Woodward.
"O livro de Woodward é uma fraude. Eu não falo da forma que sou citado. Se esse fosse o caso, não teria sido eleito presidente", escreveu o presidente em um tuíte, de Montana.
"O autor usa em seu livro todas as artimanhas possíveis para degradar e depreciar", acrescentou.
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"Gostaria que as pessoas pudessem ver a realidade - e nosso país vai muito bem!", completou.
Ao longo das 448 páginas de "Fear: Trump in the White House" (Medo: Trump na Casa Branca), o jornalista americano descreve Trump como um homem inculto, colérico, imprevisível e incapaz de enfrentar os desafios da presidência, cujos funcionários se esforçam para controlar e evitar suas subidas de tom.
Woodward relata, por exemplo, a frustração recorrente do chefe de gabinete, John Kelly, tradicionalmente o homem mais próximo do presidente na "Ala Oeste". Em uma reunião entre um círculo reduzido, Kelly teria dito sobre Trump: "É um idiota. É inútil tentar convencê-lo de qualquer coisa (...) Nem sei o que estou fazendo aqui. Este é o pior trabalho que já tive".
Em uma breve reação, Kelly garantiu que nunca chamou o presidente de "idiota" e reafirmou seu compromisso com Trump.
O empresário nova-iorquino tomou, por sua vez, um exemplo concreto do trabalho de Woodward para tentar desqualificá-lo. No início da semana, disse que nunca descreveu seu secretário da Justiça, Jeff Sessions, de "retardado" e "estúpido do Sul", como afirma o livro. Disse ainda nunca ter usado a palavra "retardado" para se referir a quem quer que seja.
Foi rapidamente desmentido por várias gravações, porém, as quais demonstraram que ele já usou o termo no passado, em especial para se referir a um jornalista que questionou seu talento como empresário.
Junto com Carl Bernstein, Woodward revelou o escândalo do Watergate, que levou à renúncia do presidente Richard Nixon.
'Imprensa livre'
O impacto do livro de Woodward se multiplicou com a publicação, no jornal "The New York Times", também esta semana, de um artigo de opinião anônimo escrito por um funcionário de alto escalão do governo Trump.
No texto, o funcionário se apresenta como um membro da "resistência" dentro da Casa Branca e denuncia "a amoralidade do presidente".
Sobre este artigo, o presidente americano, a bordo do Air Force One, declarou nesta sexta que o seu secretário de Justiça, Jeff Sessions, "deveria estar investigando o autor desse artigo, porque realmente acredito que é (uma questão) de segurança nacional".
O New York Times reagiu afirmando que uma investigação deste tipo representaria um "abuso de poder" e avaliou que "as ameaças do presidente" demonstram a importância de uma imprensa livre e independente para a saúde da democracia americana.
Em meio ao mistério sobre a identidade desse "alto funcionário do governo", cada detalhe sobre seu estilo e as referências a eventos, ou indivíduos, estão sendo analisados em busca de qualquer pista que leve à sua identificação.
Segundo o jornal, a Casa Branca tem uma lista de 12 possíveis suspeitos.
É notável que Trump, que nunca perde a oportunidade de classificar os jornalistas como "inimigos do povo", agora estimule a imprensa a redobrar seus esforços investigativos para descobrir quem é o autor do artigo.
A embaixadora dos Estados Unidos para a ONU, Nikki Haley, criticou o método utilizado pelo funcionário do anônimo.
"Quando discordo do presidente, digo a ele diretamente", afirmou. "Meu colega anônimo deveria fazer o mesmo".
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