Mais de 1.200 pessoas morreram no terremoto e tsunami que atingiram a ilha indonésia de Célebes, onde nesta terça-feira (2) prosseguiam as operações de busca e a polícia tentava evitar os saques.
A polícia deu tiros de advertência e usou gás lacrimogêneo para dispersar as pessoas que saqueavam lojas em Palu, cidade devastada pelo tremor de 7,5 graus de magnitude e o posterior tsunami de sexta-feira da semana passada.
Os sobreviventes lutam contra a fome e a sede. Os hospitais estão saturados com o grande número de feridos. O balanço oficial chegou a 1.234 mortos, anunciou o governo nesta terça-feira.
Cenas de desespero
A polícia, que até agora havia tolerado que sobreviventes desesperados entrassem em mercados fechados para pegar comida e água, prendeu 35 pessoas pelo roubo de computadores e dinheiro.
"No primeiro e segundo dia não havia estabelecimentos abertos. As pessoas estavam com fome., algumas realmente necessitadas. Isto não é um problema", disse o vice-comandante da polícia nacional, Ari Dono Sukmanto.
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"Mas depois do segundo dia, os alimentos começaram a chegar, precisam apenas de distribuição. Agora estamos restabelecendo a lei", completou. O desespero é visível nas ruas de Palu, onde os sobreviventes escalam as montanhas de destroços para procurar objetos.
Outros se reúnem nas proximidades dos poucos edifícios com energia elétrica ou entram em filas para receber água, dinheiro ou combustível, observados por policiais armados. "O governo, o presidente, todos vieram, mas o que realmente precisamos é de comida e água", disse à AFP Burhanuddin Aid Masse, de 48 anos.
As equipes de emergência não têm equipamentos suficientes e os trabalhos são dificultados pelas estradas bloqueadas e os danos nas infraestruturas. Além disso, nesta terça-feira o país registrou dois tremores na costa, mas a centenas de quilômetros de Palu.
O exército lidera os trabalhos de resgate, mas após um pedido do presidente, Joko Widobo, ONGs internacionais também enviaram equipes à região. Entre os mortos estão vários estudantes que tiveram os corpos retirados dos escombros de uma igreja. "A equipe (de socorristas) encontrou 34 corpos no total", declarou à AFP Aulia Arriani, porta-voz da Cruz Vermelha local.
Inicialmente, 86 jovens que participavam de um retiro para o estudo da Bíblia no Centro de Formação da Igreja de Jonoonge foram declarados desaparecidos. As autoridades não revelaram a idade das vítimas.
O distrito montanhoso de Siri Biromaru, ao sudeste de Palu, é de difícil acesso e as equipes de emergência precisam caminhar para tentar resgatar as vítimas.
A Indonésia é o país muçulmano de maior população do mundo, mas também possui minorias religiosas, como os cristãos, entre os 260 milhões de habitantes.
O Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) da ONU calcula que 191.000 pessoas precisam de ajuda humanitária de emergência, incluindo 46.000 crianças e 14.000 idosos.
A catástrofe que atingiu a cidade de Palu, onde moram 350.000 pessoas, também deixou 61.867 desabrigados. Os mortos - muitos deles ainda não registrados e com seus corpos ainda nos escombros - preocupam as autoridades. O clima na Indonésia acelera a decomposição dos corpos, um grave risco sanitário.
Para evitar um cenário ainda pior, grupos de voluntários começaram a enterrar as vítimas em uma grande fossa comum em Poboya, nas colinas que cercam Palu, com capacidade para 1.300 corpos. Caminhões lotados de cadáveres chegam ao local para os enterros em massa.
Ao mesmo tempo, as equipes de resgate lutam contra o tempo para tentar encontrar sobreviventes entre os escombros. Apenas no hotel de Roa Roa, os socorristas acreditam que entre 50 e 60 pessoas podem estar presas nos destroços. Até o momento apenas duas foram resgatadas.
Muitas pessoas passaram os últimos dias em busca de informações sobre parentes, nos hospitais e necrotérios improvisados. A Indonésia, um arquipélago de 17.000 ilhas, fica no Anel de Fogo do Pacífico e é um dos países do mundo mais propensos a sofrer desastres naturais.