O presidente americano, Donald Trump, celebrou nesta segunda-feira (1º) o nascimento do USMCA, um "novo acordo comercial maravilhoso" entre Estados Unidos, Canadá e México para substituir o Nafta - alvo de críticas constantes dele.
O novo Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA, na sigla em inglês) foi alcançado no domingo (30), após mais de um ano de negociações para renovar o Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta, em inglês), em vigor desde 1994.
"O acordo vai reger cerca de US$ 1,2 trilhão em comércio, o que o torna o maior tratado comercial da história dos Estados Unidos", afirmou Trump em entrevista coletiva, na qual revelou que pretende assiná-lo no fim de novembro.
O líder americano conseguiu, assim, cumprir sua promessa de campanha de renegociar esse acordo.
No México, o atual presidente, Enrique Peña Nieto, e o presidente eleito que assumirá em 1º de dezembro, Manuel López Obrador, celebraram o acordo.
"A modernização do acordo comercial entre México, Canadá e Estados Unidos conclui 13 meses de negociações e alcança o que nos propusemos no início: um tratado bom para as três partes", disse Peña Nieto no Twitter.
López Obrador reconheceu "o papel destacado nesta negociação do presidente Enrique Peña Nieto, o papel (...) visionário e tolerante do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o papel do primeiro-ministro (canadense, Justin) Trudeau...".
"Devo admitir, insisto, que o presidente Donald Trump teve uma atitude aberta e tolerante", declarou o futuro líder mexicano.
O México quer que o novo acordo comercial seja assinado no fim de novembro, à margem da cúpula do G20 de Buenos Aires, da qual os três mandatários participarão, revelou o ministro mexicano da Economia, Ildefonso Guajardo.
Pressão política
O novo pacto engloba uma região de 500 milhões de habitantes.
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, afirmou nesta segunda-feira que o acordo é "totalmente benéfico" para o Canadá.
A pressão política para fechar um novo pacto trilateral antes da meia-noite de 30 de setembro era grande. O objetivo era que Peña Nieto pudesse assiná-lo antes de passar o poder a Obrador.
Segundo a legislação americana, o texto deve ser apresentado ao Congresso pela Casa Branca 60 dias antes de sua assinatura.
Trump também queria mostrar o sucesso de sua política protecionista "America First" ("Estados Unidos em primeiro") antes das eleições legislativas de novembro, nas quais seu Partido Republicano teme perder o controle do Congresso.
Trudeau, que corria o risco de ficar de fora do acordo entre Estados Unidos e México, também não queria demonstrar fraqueza antes das eleições gerais canadenses no próximo ano.
Na coletiva de imprensa na Casa Branca, Trump elogiou o primeiro-ministro canadense.
"Houve muita tensão entre ele e eu e, mais especificamente, tudo deu certo. Sabe quando isso terminou? Por volta da meia-noite passada. Ele é um bom homem e ama o povo do Canadá", disse Trump.
O presidente americano também disse que tem "outras alternativas", caso os congressistas não aprovem o acordo.
"Os republicanos amaram. A indústria amou. Nosso país amou. Se for certo, vai passar com facilidade", afirmou.
Mercados satisfeitos
Alcançado de última hora, o USMCA foi bem recebido pelos mercados. Wall Street registrou alta nesta segunda nos índices Dow Jones e S&P 500.
O dólar canadense chegou a seu valor máximo em quatro anos, a 1,1604, uma alta de 0,9%. Já o peso mexicano se valorizou 0,16% em relação à sexta-feira e fechou a 18,68 por dólar, de acordo com o Banco Central.
O novo pacto "gerará mercados mais livres, um comércio mais justo e um crescimento econômico robusto em nossa região", afirmaram o representante comercial americano (USTR), Robert Lighthizer, e a ministra das Relações Exteriores do Canadá, Chrystia Freeland, em comunicado conjunto no domingo, após seis semanas de negociações bilaterais intensas.
O Canadá acordou a abertura de seu mercado de laticínios aos produtos americanos e, em troca, Washington não alterou as disposições sobre a solução de disputas.
Os produtores de laticínios canadenses reagiram agressivamente, dizendo que o acordo teria um "impacto dramático" em seu setor e acusaram Trudeau de não cumprir sua palavra de que não assinaria um acordo ruim para os canadenses.
Trabalhadores mais protegidos
O USMCA inclui mais proteções para os trabalhadores, normas ambientais mais rigorosas e atualizações da relação comercial para levar em conta o comércio eletrônico, assim como proteções "inovadoras" à propriedade intelectual.
A Federação Americana do Trabalho e o Congresso de Organizações Industriais (AFL-CIO), com sede em Washington e que representa milhões de funcionários sindicalizados, disse que ainda é muito cedo para se pronunciar sobre o impacto do novo acordo.
A indústria automobilística, revolucionada pelo Nafta, é um dos setores mais importantes afetados pelo novo acordo.
Os Estados Unidos conseguiram aumentar o conteúdo doméstico dos carros comercializados livres de impostos entre os signatários. O novo texto estabelece normas para fomentar a utilização de componentes americanos nos veículos.
O acordo exigirá que 75% do conteúdo de automóveis produzidos na região sejam norte-americanos - em vez dos atuais 62,5% - e que de 40% a 45% sejam feitos por trabalhadores que ganham pelo menos US$ 16 a hora.
O México também concordou em continuar a reconhecer os padrões de segurança dos EUA, a menos que os reguladores mexicanos concluam que são inferiores aos seus próprios padrões.
O novo acordo não cobre as tarifas sobre o aço e o alumínio impostas por Washington ao Canadá, ao México e a outros aliados. Segundo autoridades, elas estão sendo negociadas separadamente.
O USMCA vai vigorar durante 16 anos, mas será revisto a cada seis anos.