O presidente americano, Donald Trump, conquistou uma vitória neste sábado (6) depois que o Senado confirmou seu candidato, o juiz Brett Kavanaugh, para ocupar uma vaga na Suprema Corte de Justiça dos Estados Unidos, a um mês de eleições legislativas que se anunciam muito disputadas.
O Senado, encarregado de ratificar ou rejeitar as indicações dos integrantes do máximo tribunal, cujos cargos têm caráter vitalício, aprovou por apertada maioria (50-48) a indicação de Kavanaugh, após um processo marcado por acusações de agressão sexual contra o magistrado de 53 anos, quando ele era adolescente.
A votação pôs fim a várias semanas de intensa disputa política, em meio a denúncias contra o juiz, que dividiram a sociedade americana.
"É uma noite histórica", disse o presidente Trump em um comício eleitoral em Nevada. "Estou aqui perante vocês depois de uma vitória maravilhosa para nossa nação, para nossa gente e para nossa amada Constituição", acrescentou o presidente, em meio aos gritos da multidão.
O presidente do Supremo, John Roberts, tomou o juramento constitucional de Kavanaugh, enquanto o juiz Anthony Kennedy, que se retira da Suprema Corte, será substituído por Kavanaugh, tomou seu juramento jurídico, em uma cerimônia privada na máxima corte da Justiça americana.
Kavanaugh tornou-se, assim, o 102º magistrado a entrar na Suprema Corte.
Enquanto a cerimônia transcorria, vários manifestantes reunidos em frente à sede da instituição protestavam contra a designação.
Na segunda-feira será celebrada na Casa Branca a cerimônia pública de juramento de Kavanaugh, às 19H00 locais (20H00 de Brasília).
O líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, disse que estava orgulhoso de seus colegas, enquanto o vice-presidente Mike Pence, que presidiu a Câmara alta durante a votação, qualificou este dia como "histórico para o nosso país".
"É um dia triste, mas a resposta deverá ser dada no dia das eleições", comentou à imprensa a senadora democrata Amy Klobuchar.
Lisa Murkowski, a única senadora republicana que se opôs a Kavanaugh, disse que era hora de a instituição e os americanos "curarem-se" após semanas de divisões.
Murkowski reconheceu a angústia dos manifestantes que interromperam várias vezes a histórica votação do Senado e disse aos jornalistas que estava "fechando os olhos e orando. Orando por eles, orando por nós e orando pelo país".
A entrada na Suprema Corte deste defensor fervoroso dos valores conservadores colocará os juízes progressistas e, minoria - quatro de nove - provavelmente por várias décadas.
Democratas e defensores dos direitos civis se mobilizaram desde a indicação de Kavanaugh, em julho, para tentar evitar sua confirmação, realizando campanhas de propaganda e manifestações destinadas a mudar o voto dos senadores moderados republicanos.
Área restrita
A indicação de Kavanaugh deu lugar a intensos protestos em várias cidades americanas. Na sexta-feira, mais de cem pessoas foram detidas em Washington.
Neste sábado, uns 200 manifestantes se reuniram fora do Capitólio, agitando cartazes e repetindo em coro: "Não queremos Kavanaugh" e "Novembro já vem", em alusão às legislativas de metade de mandato.
As autoridades adotaram uma medida incomum ao cercar o Capitólio para manter os manifestantes distantes do edifício.
Segundo Trump, mulheres em apoio ao juiz ocuparam em massa a área do Capitólio.
"É lindo de ver - e não se trata de manifestantes profissionais, a quem se entrega cartazes caros. É um grande dia para os Estados Unidos!", manifestou-se o presidente pelo Twitter.
Na sexta-feira, Trump disse que o bilionário George Soros, doador do Partido Democrata, estaria por trás das manifestações que se realizaram contra Kavanaugh.
"Nada" no relatório
A confirmação de Kavanaugh parecia um fato até que em meados de setembro o testemunho de uma mulher que o acusa de abusos sexuais semeou a dúvida sobre sua probidade e ameaçou sua candidatura.
Hoje professora universitária, Christine Blasey Ford o acusa de tentar violentá-la em uma festa em 1982, quando ambos eram alunos do Ensino Médio.
Estas afirmações caíram como um balde de água fria em um país já muito sensível a temas de agressões sexuais após o surgimento do movimento #MeToo.
Em uma audiência acompanhada por 20 milhões de americanos, Ford, de 51 anos, disse estar "100% certa" de ter sido agredida pelo juiz quando tinha 15 anos e ele, 17.
O magistrado respondeu afirmando sua inocência e se apresentou como vítima de uma campanha orquestrada pela esquerda.
Sob a pressão de legisladores indecisos, o Senado encarregou uma investigação à Polícia Federal, o FBI, que na noite de quarta-feira informou suas conclusões.
O relatório deixou os republicanos satisfeitos. Para eles, não havia nada de comprometedor sobre o magistrado.
Os advogados de Blasey Ford estimaram, por sua vez, que a investigação não foi satisfatória. "Uma investigação do FBI que não incluiu os depoimentos da Dra. Ford e do juiz Kavanaugh não pode ser considerada uma investigação satisfatória", escreveram em um comunicado.
A incógnita ainda é o impacto que a nomeação de Kavanaugh pode ter nas eleições legislativas de meio de mandato, previstas para novembro.