ELEIÇÕES

Separatistas anglófonos atrapalham eleições em Camarões

Os separatistas ameaçam impedir o bom desenvolvimento das eleições em regiões anglófonas

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Publicado em 07/10/2018 às 11:43
Foto: MARCO LONGARI / AFP
Os separatistas ameaçam impedir o bom desenvolvimento das eleições em regiões anglófonas - FOTO: Foto: MARCO LONGARI / AFP
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Os separatistas das regiões anglófonas de Camarões cumpriram suas ameaças de perturbar, neste domingo (7), a eleição presidencial em que o presidente Paul Biya, de 85 anos, é favorito.

Três homens armados, supostos separatistas, que atiravam contra transeuntes em Bamenda, na região anglófona do noroeste do país, foram mortos após uma troca de tiros com a polícia. Na madrugada deste domingo, na mesma cidade, um tribunal foi incendiado por homens armados, segundo testemunhas.

Em Buea, no sudoeste, outra região anglófona, tiros foram ouvidos por jornalistas da AFP. Os disparos foram efetuados contra um veículo do jornal governamental Cameroon Tribune e contra o do vice-prefeito, mas não fizeram feridos.

Os separatistas ameaçaram impedir o bom desenvolvimento das eleições nessas regiões.

Para tentar garantir a segurança do pleito, o Exército foi enviado para três das 10 regiões do país: o extremo norte, onde lutam os extremistas do Boko Haram, e as duas regiões anglófonas do noroeste e do sudoeste, onde separatistas armados reivindicam a independência.

Contudo, as autoridades camaronesas se mostram tranquilas: as eleições acontecerão em todo o território, assegurou o ministro da Administração Territorial em meados de setembro.

O conflito contra os combatentes separatistas não para de se agravar desde o início da crise, no fim de 2016, quando as reivindicações corporativistas anglófonas deram lugar a manifestações e muitas detenções.

Esta crise latente, em um princípio sociopolítico, se transformou pouco a pouco em um violento conflito armado entre as tropas de elite das forças de segurança camaronesas e os separatistas cada vez mais numerosos.

Esses grupos forçaram muitas autoridades locais a fugir de suas administrações em algumas localidades anglófonas.

Como resposta das autoridades, algumas zonas eleitorais serão "realocadas", afirmou à imprensa Elecam, o órgão encarregado da organização da votação.

'Ampla oferta política'

O presidente e candidato Paul Biya, no poder desde 1982 e que pela primeira vez desde 2012 foi no sábado para uma zona provincial para fazer um discurso pré-eleitoral em Marua (norte), conta com um extenso apoio.

Ministros, líderes do partido no poder e líderes tradicionais se mobilizaram para fazer campanha por ele. Por todas as partes são vistos cartazes com seu rosto, e seus apoios percorrem a televisão para defender o seu equilíbrio.

Sua "visão para Camarões", compilada em uma obra em 1987, foi reeditada no início de setembro.

O presidente Biya defendeu em Marua "a firmeza e o diálogo" nas zonas anglófonas em crise.

Mais tarde nesta sexta, dois candidatos da oposição camaronesa formaram uma coalização, dois dias antes das presidenciais, anunciou o porta-voz de um deles em um comunicado.

"Akere Muna aceita retirar a sua candidatura à presidência da República (...) e apoiar Maurice Kamto", indicou um comunicado assinado do porta-voz de Akere Muna, Paul Mahel.

Akere Muna é o líder da Frente Popular de Desenvolvimento(FDP), e Maurice Kamto lidera o Movimento pelo Renascimento de Camarões (MRC).

O anúncio confirma os rumores de uma manobra da oposição para tentar derrotar Biya, mas a nova coalizão não inclui o principal candidato opositor Joshua Osih, da Frente Social-democrata.

Nove candidatos disputarão as eleições de domingo.

"É a primeira vez na história de Camarões que há candidatos de oposição tão diferenciados", analisou Fred Eboko, cientista político camaronês no Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IRD).

Como em 2011, parece difícil imaginar outra vitória que não a de Paul Biya, que foi eleito com 77,8% dos votos. Os observadores apontaram "muitas irregularidades" durante as eleições.

Candidatos da oposição, a Igreja Católica e alguns atores da sociedade civil anunciaram o envio de observadores eleitorais para garantir que não haja fraude.

Em Camarões, onde apenas 10% da população ativa conta com emprego formal, um terço dos habitantes vive com menos de 2,30 dólares por dia e 75% da população não conhece outro presidente além de Biya, os desafios serão imensos.

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