A primeira-ministra britânica, Theresa May, tentou nesta segunda-feira (22) reprimir a rebelião em seu partido conservador em relação à estratégia para o Brexit, ao apresentar no Parlamento seu plano para superar o bloqueio sobre o assunto da fronteira.
Faltando cinco meses para o divórcio, a chefe de governo afirmou que "95% do acordo de retirada" já está solucionado, mas que resta o ponto de desacordo "considerável", sobre como impedir o retorno de uma fronteira dura entre a província britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda.
"Devemos explorar todas as opções possíveis para sair do bloqueio, e é isso que eu faço", declarou Theresa May.
Insatisfeitos, os deputados da maioria conservadora se prepararam para contestar sua liderança, segundo a imprensa britânica.
"As negociações sobre o Brexit não são sobre mim ou meu destino pessoal, é sobre o interesse nacional, e isso envolve fazer as escolhas certas, não as mais fáceis", disse May no Sun.
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Impasse irlandês
Mas a conclusão de tal acordo com Bruxelas continua a tropeçar no destino da fronteira entre a província britânica da Irlanda do Norte e da República da Irlanda (membro da UE) após o Brexit, programado para 29 de março 2019.
Ambas as partes querem evitar o restabelecimento de uma fronteira física, a fim de preservar os acordos de paz de 1998 na Irlanda do Norte, mas não conseguem chegar a um acordo para isso.
"Fui muito clara sobre o fato que devemos alcançar isso sem criar uma fronteira rígida de qualquer tipo entre a Irlanda do Norte e o resto do Reino Unido", disse Theresa May no domingo.
A UE propõe manter a Irlanda do Norte na união aduaneira e no mercado único, caso nenhuma outra solução seja encontrada - inaceitável para May, que a vê como um fio condutor da "integridade do Reino Unido".
Ela propõe que todo o Reino Unido permaneça alinhado com as regras aduaneiras da UE até à assinatura de um acordo de comércio livre mais amplo.
Isto lhe rendeu a ira dos Brexiters, que defendem uma ruptura clara e rápida com a UE, que temem que este alinhamento se torne permanente e impeça o Reino Unido de concluir acordos comerciais com países terceiros depois do Brexit.
"As últimas fases das discussões serão as mais difíceis", previu May.
Voto de confiança
A pressão subiu quando Theresa May não descartou a possibilidade de uma extensão de "alguns meses" do período de transição pós-Brexit. A previsão atual é que dure até o final de 2020. Neste período, o seu país permaneceria alinhado com as regras da UE, mas não participaria no processo de decisão.
Segundo a imprensa, a ameaça de um voto de confiança paira. A líder é convidada a se explicar na quarta-feira à tarde diante do Comitê de 1922, responsável pela organização interna dos Conservadores e pelo desencadeamento de tal votação.
O pequeno partido DUP da Irlanda do Norte, essencial para a sua maioria absoluta, ameaçou retirar o seu apoio na votação do orçamento de 29 de outubro se a Irlanda do Norte não tiver o mesmo destino que o resto do país.
E cerca de 41 deputados conservadores poderiam apoiar uma emenda nesta semana para evitar as barreiras entre a Irlanda do Norte e o resto do país sem a aprovação da assembleia regional.
Do lado dos anti-Brexit, cerca de 700 mil pessoas se manifestaram no sábado em Londres para exigir um referendo sobre o acordo final.