Os Estados Unidos elegeram um Congresso dividido nesta terça-feira (6): a oposição democrata recuperou a Câmara de Representantes, mas o Partido Republicano manteve o Senado em eleições consideradas como um referendo sobre o presidente Donald Trump, que reivindicou uma vitória pessoal.
Nessas polarizadas eleições de meio de mandato, o partido do ex-presidente Barack Obama cumpriu seu objetivo de dominar a Câmara baixa, algo que não acontecia desde 2010, mas não conseguiu completar a "onda azul" anti-Trump, ao perder no Senado.
Leia Também
"Tremendo sucesso", tuitou o presidente, que acompanhou os resultados na Casa Branca, onde passou o dia recluso com amigos e familiares.
O presidente telefonou para o líder do Senado, Mitch McConnell, para parabenizá-lo pelas "conquistas históricas" depois que os republicanos aumentaram para 52 (do total de 100) o número de cadeiras na Câmara alta, informou a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders.
Para Trump, porém, perder o controle do Congresso, do qual gozava após sua surpreendente vitória há dois anos, é um golpe em meio a resultados econômicos positivos na economia e complica suas perspectivas para o restante de seu mandato.
Com esta vitória, os democratas poderão não apenas bloquear iniciativas do presidente, como investigar suas finanças e se aprofundar na investigação sobre a suspeita de conluio entre sua equipe de campanha e a Rússia em 2016, aumentando a possibilidade de que se inicie um processo de impeachment contra ele.
Nancy Pelosi, a atual líder da minoria democrata na Câmara de Representantes, que deve voltar a presidi-la, anunciou a "restauração dos poderes e contrapoderes constitucionais", mas prometeu trabalhar com os republicanos.
"Um Congresso democrata vai trabalhar em soluções que nos unam, porque todos tivemos divisões", afirmou.
A decepção de Beto
Em uma das disputas mais acirradas e acompanhadas com mais atenção, o carismático congressista democrata Beto O'Rourke, que contava com o apoio de famosos como Beyoncé e LeBron James e conseguiu arrecadar 60 milhões de dólares para sua campanha, não conseguiu tirar a cadeira do Texas do senador republicano Ted Cruz.
"Estou muito orgulhoso do Beto por tudo que conseguiu: chegar tão perto em um estado como o Texas", comentou Keneth Melouda, um de seus seguidores, em El Paso.
Em Indiana, o republicano Mike Braun derrotou Joe Donnelly, um dos cinco senadores democratas que disputavam a reeleição em estados onde Trump venceu por uma margem considerável em 2016.
Na Flórida, o democrata Andrew Gillum, que aspirava a ser o primeiro governador negro desse estado, perdeu para o republicano Ron DeSantis.
Na Geórgia, outra democrata afro-americana, Stacey Abrams, também parecia caminhar para uma derrota frente ao republicano Brian Kemp.
O sorriso de Alexandria
Os democratas registraram importantes e simbólicas vitórias na terça-feira.
Um desses casos é o da estrela política em ascensão Alexandria Ocasio-Cortez, de origem porto-riquenha e nascida no Bronx, que fez história ao se tornar, aos 29 anos, a mulher mais jovem a se eleger ao Congresso.
Sharice Davids e Deb Haaland também se destacaram como as primeiras indígenas americanas a chegarem à Câmara.
Na Flórida, Donna Shalala ficou com a cadeira da veterana republicana Ileana Ros-Lehtinen, primeira cubano-americana eleita para o Congresso e que se aposenta. Na Virgínia, Jennifer Wexton desbancou Barbara Comstock, em final de mandato.
No Senado, Bob Menéndez foi reeleito em Nova Jersey, para alívio dos democratas, que temiam que as acusações de corrupção contra ele lhe custassem o cargo.
O retorno de Romney
Mitt Romney, crítico ferrenho do presidente nas fileiras republicanas, chegou ao Senado por Utah, e muitos se perguntam se assumirá o lugar de John McCain, falecido em agosto, como uma das vozes anti-Trump.
Outro habitual opositor de Trump, Bernie Sanders, importante figura da esquerda nos Estados Unidos, foi reeleito sem surpresas como senador por Vermont.
A eleição trouxe outras novidades.
Greg Pence, irmão mais velho do vice-presidente Mike Pence, foi eleito para a Câmara de Representantes.
Ayanna Pressley será a primeira mulher negra a representar Massachusetts no Congresso, enquanto Ilhan Omar e Rashida Tlaib serão as primeiras muçulmanas.
Em todo país, os eleitores formaram filas desde cedo, ávidos para se expressar após uma tensa campanha, marcada por atos de violência: o envio de pacotes-bomba a opositores de Trump e o massacre em uma sinagoga em Pittsburgh, que deixou 11 mortos.
Trump, que inflamou a campanha com sua retórica anti-imigrante e nacionalista, parece ter estimulado a participação nas urnas.
Rory Mabin, de 34 anos, decidiu ir votar em Chicago para gerar um contrapeso no Congresso.
"Não aprovo como este presidente está liderando nosso país", disse.
Em Orange County, na Califórnia, a estudante de Biologia Nicky Davidson, de 20 anos, pensava o contrário.
"Trump não é um presidente tradicional, mas não acho que deva ser uma razão para não apoiá-lo. Faz as coisas de maneira diferente, o que é algo de que precisamos", afirmou.
As redes de televisão mostraram longas filas de pessoas esperando para votar, em uma eleição cujo grande interesse foi revelado pelos 38,4 milhões de votos antecipados nos estados que permitem essa modalidade, 40% a mais do que nas eleições de meio de mandato de 2014 - afirmou Michael McDonald, da organização US Elections Project.
Nestas eleições estavam em jogo 435 assentos da Câmara de Representantes, 35 cadeiras do Senado, 36 governos de estados americanos, além de vários cargos locais, como prefeitos, juízes e xerifes.