Ilha Sentinela do Norte

Norte-americano morto por tribo isolada na Índia queria evangelizá-la

Uma chuva de flechas caiu sobre o rapaz, no dia 16 de novembro

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Publicado em 22/11/2018 às 16:19
Foto: HANDOUT / SURVIVAL INTERNATIONAL / INDIAN COAST GUARD / AFP
Uma chuva de flechas caiu sobre o rapaz, no dia 16 de novembro - FOTO: Foto: HANDOUT / SURVIVAL INTERNATIONAL / INDIAN COAST GUARD / AFP
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O jovem americano assassinado por uma tribo que vive isolada em uma ilha da Índia queria introduzir o cristianismo nessa comunidade hostil ao mundo moderno, como revelado em seus últimos escritos, divulgados nesta quinta-feira (22) pela mídia local.

O missionário John Allen Chau, de 27 anos, foi atacado na semana passada ao pisar ilegalmente na remota Ilha Sentinela do Norte, no arquipélago de Andaman, Baía de Bengala.

"Meu nome é John. Eu amo vocês, e Jesus ama vocês... Eu lhes trouxe peixe!", afirmou o missionário aos dois autóctones armados que se aproximavam dele, segundo a imprensa local.

Ele foi morto em 16 de novembro ao tentar entrar em contato com essa tribo de caçadores e coletores, de cerca de 150 pessoas, e que viveram por séculos nesta pequena ilha no mar de Andaman.

Nestas últimas décadas, qualquer tentativa de contato com o mundo exterior com a tribo terminou em hostilidades e em uma violenta rejeição por parte dessa comunidade.

O diário particular que John Allen Chau manteve até os últimos dias e horas antes de sua morte mostra um jovem viajante que parecia um devotado missionário cristão.

"Vocês podem achar que eu sou louco por fazer tudo isso, mas acho que vale a pena proclamar Jesus a essas pessoas", afirmou ele a sua família, em uma última carta escrita na manhã de sua morte.

"Não é em vão - a vida eterna desta tribo está ao nosso alcance, e eu estou impaciente para vê-los adorar a Deus em sua própria língua", disse ele, referindo-se a versículos do Apocalipse (7, 9-10).

Pescadores o transportaram ilegalmente à ilha e ficaram a distância, de frente para o litoral. De longe, puderam ver como uma chuva de flechas caiu sobre o rapaz, que ainda assim continuou andando na direção dos nativos. Os aborígenes, então, passaram uma corda em volta de seu pescoço e arrastaram seu corpo.

Na véspera de sua morte, ele conseguiu se aproximar duas vezes dos sentineleses, de acordo com seu suposto diário. Na segunda vez, presenteou dois aborígines que tinham o rosto coberto por um "pó amarelo". 

Um deles, uma criança, atirou uma flecha que fincou em sua Bíblia. John correu e nadou até o barco de pesca.

"Regresso à ilha. Rezarei para que tudo dê certo", afirmam suas últimas palavras escritas na manhã de 16 de novembro.

Na ausência de provas físicas da morte de seu filho, sua mãe disse ao jornal "The Washington Post" acreditar que ele estava vivo, graças às suas "orações".

Mas uma declaração atribuída a sua família e postada em sua suposta conta no Instagram diz que Chau "não tinha nada além de amor pelo povo sentinelês. Nós perdoamos os responsáveis por sua morte".

 

- Choque de civilizações -
Este caso coloca as autoridades indianas em um beco sem saída: é possível recuperar o corpo sem causar um choque de civilizações?

Se entrarem na ilha para extrair os restos de Chau, quebrarão o isolamento voluntário dessa tribo, com todas as consequências antropológicas e sanitárias que isso acarreta.

Ao viver isolada do mundo, essa comunidade não possui um sistema imunológico adaptado às possíveis infecções presentes nos organismos dos intrusos.

"Mantivemos distância da ilha e ainda não conseguimos localizar o corpo, o que pode exigir dias e missões de reconhecimento", declarou à AFP Dependra Pathak, chefe regional da polícia.

Autoridades locais enviaram um helicóptero e um navio para tentar determinar de longe o local, onde o corpo do americano poderia estar.

As autoridades também buscaram a ajuda de antropólogos indianos e especialistas tribais para decidir como proceder.

Pescadores presos

A polícia abriu uma investigação de homicídio e prendeu os pescadores que ajudaram Chau a chegar à ilha. A lei indiana proíbe aproximar-se a menos de cinco quilômetros, assim como fotografar, ou filmar, essa comunidade.

De acordo com a ONG Survival International, essa tribo é descendente das primeiras populações humanas que deixaram a África e viveram em Andaman por 60.000 anos.

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