Centenas de centro-americanos da caravana de imigrantes tentaram, neste domingo (25), pular a cerca fronteiriça que separa o México dos Estados Unidos, em Tijuana, em meio a empurrões e com mulheres levando inclusive crianças, sem que a Polícia local tenha conseguido conter a multidão.
Ao menos 500 migrantes que participavam de uma manifestação que partiu do abrigo em que estão 5.000 centro-americanos se separaram da marcha e se lançaram, sem sucesso, à linha fronteiriça dos Estados Unidos. "Já estamos nos Estados Unidos?", perguntaram com desespero os migrantes, enquanto esperavam cruzar a cerca dupla fronteiriça que separa a cidade mexicana de Tijuana de San Diego, Califórnia.
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Uma equipe da AFP constatou que um grupo numeroso conseguiu cruzar até um primeiro muro e tentou cruzar o segundo, coberto por arame farpado, para chegar aos Estados Unidos, onde agentes da patrulha fronteiriça se mobilizavam.
Os guardas americanos começaram a disparar bombas de gás lacrimogênio na direção dos imigrantes que tentavam entrar nos Estados Unidos, que tentavam se proteger cobrindo o rosto, enquanto as mães ajudavam os filhos.
A multidão se amontoava na linha fronteiriça, aos empurrões e em meio aos gritos e ao choro das crianças. Os imigrantes repetiam aos gritos que só queriam cruzar a fronteira para trabalhar e ter uma vida melhor, enquanto eram incentivados por moradores dos bairros empobrecidos de Tijuana.
Helicópteros americanos sobrevoavam as proximidades da fronteira, controlando as tentativas dos migrantes de atravessar. Esta estreita vigilância é parte do dispositivo de segurança mobilizado pelo presidente americano, Donald Trump, que acusa os centro-americanos de pretenderem invadir os Estados Unidos depois de cruzar o México em uma gigantesca caravana.
Desespero
Exaustos após uma semana em Tijuana, uns 1.000 imigrantes organizaram uma manifestação mais cedo dirigindo-se a uma ponte fronteiriça para exigir aos Estados Unidos que os receba para apresentar seu pedido de refúgio.
No abrigo onde estão 5.000 centro-americanos em condições de confinamento, enquanto alguns faziam enormes filas parar receber o café-da-manhã, outros se preparavam para protagonizar outra marcha até a ponte fronteiriça El Chaparral. Na quinta-feira passada (22), eles fizeram o mesmo, enquanto do lado americano era realizado um exercício de segurança em que foram usadas bombas de gás lacrimogêneo.
Os imigrantes improvisaram faixas de protesto com lençóis, nos quais desenharam bandeiras de México, Honduras e Estados Unidos, enquanto alguns outros escreveram lemas como "#Todos somos hermanos" (Todos somos irmãos, "Gracias México por albergar a nuestros hijos" (Obrigado México por abrigar nossos filhos), "Trump no somos tus enemigos" (Trump, não somos seus inimigos).
A paciência dos centro-americanos, a grande maioria hondurenhos, chega ao limite ao perceberem que poderá levar meses até que possam cruzar a fronteira para pedir refúgio com o argumento, principalmente, de que fogem da pobreza e da violência em seus países.
À medida que se acentuam as tensões em Tijuana, Trump pressiona o México para que aceite que os centro-americanos permaneçam em seu território enquanto aguardam que se resolva seu pedido de refúgio.
O abrigo onde eles estão era resguardado por policiais federais e locais na previsão de que grupos mexicanos contrários aos migrantes cheguem a se manifestar, como ocorreu na semana passada. Nesse sábado (24), o jornal The Washington Post publicou que os Estados Unidos e o próximo governo mexicano que será chefiado pelo esquerdista Andrés Manuel López Obrador se encaminham para um acordo sobre o tema.
Olga Sánchez Cordero, atual senadora e futura ministra do Governo (Interior), citada pelo jornal americano para confirmar o acordo, informou em um comunicado que nenhum pacto foi fechado ainda, que o novo governo vai assumir em 1º de dezembro e que tem uma política de "braços abertos" aos migrantes, com ênfase especial na defesa dos direitos humanos.