As concessões anunciadas pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e seu mea-culpa feito na televisão nessa segunda-feira (10) não convenceram o movimento dos "coletes amarelos", que seguia mobilizado nesta terça e pode voltar a se manifestar no próximo sábado.
"Desta vez respondeu", dizia a manchete do jornal Le Parisien. "Ele os ouviu um pouco", ironizava o "Libération", um dia depois do pronunciamento feito em rede nacional pelo presidente, acompanhado por 21 milhões de pessoas.
Medidas
Entre outras medidas, Macron anunciou um aumento de 100 euros do salário mínimo, a anulação de um novo imposto para os aposentados com baixas pensões e a isenção de impostos e contribuições sociais sobre as horas extras.
No total, as medidas custarão ao Estado cerca de 10 bilhões de euros, o que pode elevar o déficit público para mais de 3%, o limite fixado por Bruxelas - mas apenas "temporariamente", garantiu o presidente da Assembleia Nacional, Richard Ferrand, do partido de Macron.
O comissário de Assuntos Econômicos da Comissão Europeia, Pierre Moscovici, disse que a instituição acompanhará "de perto" o impacto dessas medidas no déficit francês. "A Comissão acompanhará de perto o impacto dos anúncios feitos pelo presidente da República no déficit francês e as modalidades de financiamento", afirmou Moscovici, que falou de Estrasburgo (nordeste da França), garantindo estar em "constante contato com as autoridades francesas".
As medidas de Macron parecem, contudo, não ser suficientes para pôr fim à crise que começou há mais de três semanas.
Jacline Mouraud, uma porta-voz voz dos "coletes amarelos" considerada moderada, pediu uma "trégua" e comemorou a "porta aberta" que o governo está oferecendo. "Temos uma economia que afunda, lojas prestes a fechar. Não podemos ser responsáveis por quebradeiras", disse ela, referindo-se aos estabelecimentos que tiveram de fechar as portas no sábado pelas violentas manifestações dos últimos sábados.
Mas nem todos estão satisfeitos. "Continuaremos lutando, não vamos embora", disse um dos representantes do movimento.
"Tudo isso é uma piada", disse Thierry, de 55 anos, um mecânico de bicicletas que, após o discurso de Macron, foi bloquear um pedágio em Boulou, perto da fronteira com a Espanha.
Críticas
Menos de uma hora depois do discurso do presidente, esse pedágio na autoestrada A9 estava totalmente paralisado, confirmou um fotógrafo da AFP no local.
"Há boas ideias, um mea-culpa, que, embora tenha chegado tarde demais, não vamos desprezar", comentou Claude Rambour, de 42 anos, um colete amarelo do norte da França, depois que Macron reconheceu sua "parte de responsabilidade" na crise.
Outros manifestantes criticam Macron por não recuar em uma de suas principais reivindicações: o fim do imposto sobre fortuna.
Emmanuel Macron "não entendeu nada da raiva que se manifesta", alegou a CGT. "Temos respostas de curto prazo, não temos respostas de médio e longo prazo", disse Laurent Berger, líder do sindicato moderado CFDT.
Nesse contexto, o presidente da Comissão de Finanças da Assembleia Nacional, Eric Woerth (LR, direita), pediu aos manifestantes a liberação dos cruzamentos que estão sendo bloqueados em todo país.
Jean-Luc Mélenchon, líder da esquerda radical, apoia uma nova nova mobilização no próximo sábado, que seria a quinta, apesar da violência das anteriores.
Nesse sentido, Macron advertiu, em seu pronunciamento de segunda-feira, que "a violência inadmissível (...) não se beneficiará de qualquer indulgência".
Para tentar convencer os coletes amarelos, os ministros circulam hoje pelos principais veículos de comunicação, à espera da intervenção do premiê Edouard Philippe na Assembleia Nacional.
Já Macron recebe, na tarde desta terça, representantes do setor bancário e, amanhã, das grandes empresas, para lhes pedir que participem do "esforço coletivo".
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