Em busca de alguma "garantia" para manter vivo o controverso acordo do Brexit, a primeira-ministra britânica, Theresa May, enfrentou nesta terça-feira (11) sócios compreensivos, mas firmes na recusa em renegociar o texto.
A oposição no Parlamento britânico ao mecanismo incluído no acordo de divórcio para impedir a reintrodução de uma fronteira na ilha da Irlanda forçou-a a adiar a votação, prevista até 21 de janeiro no mais tardar, e iniciar uma turnê pela Europa.
"Não queremos que o 'backstop' seja usado e, se for, queremos estar seguros de que seja temporário", disse May à BBC em Bruxelas, após se reunir durante o dia com o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, e seus pares da Holanda e da Alemanha.
Tusk, que convocou para quinta-feira uma reunião de mandatários sobre o Brexit, em paralelo à cúpula extraordinária, afirmou após a discussão "longa e franca" que os 27 sócios do Reino Unido "querem ajudar" a premier britânica. "A questão é como" fazer isso, acrescentou.
Os europeus não estão dispostos a reabrir o acordo de divórcio e a declaração política sobre a futura relação - negociados durante 17 meses e aprovados em 25 de novembro.
"Não é possível mudar" o acordo, disse a chanceler alemã Angela Merkel durante um encontro com legisladores, após receber May em Berlim, segundo participantes da reunião.
Esclarecimentos e garantias
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que se reuniu com May nesta noite, disse horas antes que "há margem suficiente, com inteligência, para mais esclarecimentos, mais explicações sobre a interpretação".
A solução poderia passar por "uma declaração política do Conselho Europeu", nas palavras do chanceler irlandês, Simon Coveney, uma opção que - como aconteceu com a disputa anterior com a Espanha sobre a questão de Gibraltar - evitou reabrir as 585 páginas do acordo do Brexit.
Questionado sobre as opções, o o secretário de Estado britânico para o Brexit, Martin Callanan, tinha explicado nesta manhã a importância de "garantias adicionais juridicamente vinculantes".
A UE exige uma solução de último recurso para evitar o retorno de uma fronteira dura na ilha da Irlanda que ameace o Acordo de Paz de 1998, que acabou com 30 anos de um conflito violento.
Pelo acordo, o "backstop" só entraria em vigor após o período de transição, cuja duração inicial pode ser ampliada por dois anos, até 2022, e se não for encontrada uma solução melhor durante a negociação da futura relação entre as partes após o Brexit.
"Nunca vamos deixar a Irlanda para trás", garantiu nesta terça Juncker, uma afirmação que pode intensificar os temores dos defensores do Brexit de o Reino Unido ficar permanentemente atrelado às redes europeias.
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'Perda de tempo'
A viagem de última hora da primeira-ministra britânica deve levá-la na quarta-feira à Irlanda para se reunir com seu equivalente irlandês, Leo Varadkar, após comparecer no Parlamento de Westminster e reunir seu governo, segundo seu gabinete.
Após buscar garantias, May deve voltar com o pacto diante de seu Parlamento, onde o texto é amplamente rechaçado, a poucos meses de o Reino Unido se tornar o primeiro país a abandonar o projeto europeu, em 29 de março.
Esta viagem é "uma perda de tempo e dinheiro público", afirmou o líder trabalhista Jeremy Corbyn nesta terça-feira no Parlamento de Londres, dizendo que May "parece incapaz de convencer a União Europeia a aceitar mudanças significativas em suas propostas".
No entanto, diante da insistência de alguns pequenos partidos para ele apresentar uma moção de censura, Corbyn enfatizou que só fará isso quando tiver a certeza de que será aprovada.