Uma sucessão imprevisível de fatos e um sistema de alerta deficiente explicam o número de mortos no tsunami que arrasou a costa do Estreito de Sunda, na Indonésia, concluíram especialistas e autoridades. O tsunami atingiu na noite desse sábado (22) praias e casas localizadas no estreito, que separa as ilhas de Java e Sumatra, pegando desprevenidos os moradores e sistemas de vigilância.
Em tuítes posteriormente apagados, a Agência Nacional de Gestão de Catástrofes afirmou que não havia ameaça de tsunami, apesar de a onda já varrer o litoral sul de Sumatra e o extremo oeste de Java.
"A ausência de um sistema de alerta explica porque o tsunami não foi detectado", disse o porta-voz da agência, Sutopo Purwo Nugroho. "Os sinais da chegada de um tsunami não foram detectados, e as pessoas não tiveram tempo tempo de fugir."
A Indonésia é um dos países mais expostos a catástrofes naturais. O arquipélago, formado pela convergência de placas tectônicas, fica no Círculo de Fogo do Pacífico, região de forte atividade sísmica e vulcânica. Um tsunami provocado por um terremoto deixou 2,2 mil mortos e milhares de desaparecidos em setembro em Palu, ilha de Célebes.
O monitoramento das marés e a organização e estruturação de dados são as principais ferramentas das agências indonésias para prever os tsunamis, geralmente depois de um terremoto.
Mesmo quando todas as estações de vigilância funcionam, as falhas na rede são consideráveis e as pessoas têm pouco tempo para fugir. Os esforços para melhorar o sistema foram prejudicados por problemas como a falta de manutenção dos equipamentos e o mau funcionamento burocrático.
Segundo especialistas, a catástrofe de sábado aconteceu após uma erupção do vulcão Anak Krakatoa, que fica no estreito. O fato provocou um deslizamento submarino de parte do vulcão e o deslocamento de uma grande quantidade de água.
Falta de tempo
"O sistema de alerta da Indonésia não teria detectado este tipo de sinal, porque é feito para detectar os tsunamis gerados por terremotos", explica o especialista da Universidade de Portsmouth Richard Teeuw. "O caráter noturno do tsunami provavelmente agravou o caos. Havia poucas chances de se avistar o tsunami e correr para se salvar."
O vulcão Anak Krakatoa estava há meses ativo, mas a erupção de sábado foi pouco intensa e não alarmou a população.
Depois do tsunami devastador de 2004, a Indonésia instalou boias com sensores de alerta, mas, segundo Sutopo Nugroho, as mesmas não funcionam há seis anos. "O vandalismo, a falta de orçamento e os problemas técnicos são os motivos pelos quais não temos boias. Temos que reconstruí-las, para reforçar o sistema de alerta na Indonésia."
Estas boias são instaladas nos limites das placas tectônicas submarinas e estão destinadas, principalmente, a detectar os tsunamis provocados por terremotos, e não os causados pela atividade vulcânica.
As boias também se limitam a alertar para os tsunamis gerados perto da costa, assinala o especialista David Rothery. "Mesmo que tivesse uma destas boias ao lado do Anak Krakatoa, o tempo de alerta teria sido muito curto, devido à grande velocidade das ondas do tsunami".