O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, convidou o colega americano, Donald Trump, a visitar a Turquia, em um movimento dos dois países para estreitar as relações com o objetivo de coordenar a retirada esperada das tropas americanas da Síria. A Casa Branca anunciou na noite dessa segunda-feira (24) que Erdogan convidou Trump a visitar a Turquia em 2019.
Embora nada tenha sido planejado até o momento, o presidente "está aberto a uma possível reunião no futuro", afirmou Hogan Gidley, um porta-voz da Casa Branca. Ao mesmo tempo, "uma delegação americana viajará à Turquia esta semana", informou o porta-voz da presidência turca, Ibrahim Kalin. "Conversarão sobre os meios para coordenar (a retirada) com os colegas turcos".
Após uma conversa telefônica nesse domingo (23) entre Trump e Erdogan, a presidência turca afirmou que os dois presidentes concordaram em "garantir a coordenação entre os militares, os diplomatas e outras autoridades de seus países para evitar um vácuo de poder que poderia ser consequência da retirada e da fase de transição na Síria".
No Twitter, Trump afirmou que conversou com o presidente turco sobre o "EI (grupo extremista Estado Islâmico), nosso compromisso mútuo na Síria e a retirada lenta e extremamente coordenada das tropas americanas da região", assim como sobre relações comerciais "consideravelmente maiores".
Luta contra o Estado Islâmico
Kalin disse que a retirada americana não teria nenhum impacto na luta contra o EI no norte da Síria. "Não vai acontecer uma trégua na luta contra o EI. A Turquia mostrará a mesma determinação contra o EI. Desacelerar nossa luta contra o EI não está nos planos", afirmou.
Ele destacou que para esta luta a Turquia não precisa das milícias curdas das Unidades de Proteção Popular (YPG), apoiadas por Washington mas que Ancara considera "terroristas", pois têm sua origem no Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).
Nesta terça-feira, o governo turco alertou que não é benéfico que a França mantenha uma presença militar na Síria para "proteger" as YPG.
"Não é segredo para ninguém que a França apoia as YPG. (Emmanuel) Macron se reuniu com seus representantes", afirmou o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu. "Não temos informação sobre o envio de mais soldados (franceses), mas eles mantêm a presença atual. Se permanecerem para contribuir ao futuro da Síria, então obrigado. Mas se permanecerem para proteger as YPG, não será benéfico para ninguém", completou.
Reforços na fronteira
"Como não deixamos os árabes sírios ser uma presa do Daesh (acrônimo em árabe do EI), não deixaremos os curdos sírios serem presas da crueldade do PKK e das YPG", declarou Erdogan durante um discurso em Ancara. "Por que estamos atualmente na Síria? Para que nossos irmãos árabes e curdos reencontrem sua liberdade", acrescentou.
Após uma crescente pressão sobre as YPG, desorientadas com o anúncio da iminente retirada de seus aliados americanos, a Turquia enviou novos reforços militares à sua fronteira com a Síria para preparar a próxima ofensiva. Por enquanto, Erdogan decidiu adiá-la.
Unidades militares, canhões do tipo Howitzer e baterias de artilharia foram transportados em comboios ao distrito de Elbeyli, diante da fronteira síria na província turca de Kilis, segundo a agência estatal Anadolu.
O envio dos reforços tinha começado no fim de semana com a chegada de uma centena de veículos militares turcos na região de al Bab, controlada pelas forças pró-turcas no norte da Síria, noticiou o jornal Hürriyet.
Também foram mobilizados reforços militares na cidade de Akcakale e no distrito de Ceylanpinar, na província de Sanliurfa (sudeste da Turquia).
Pegando de surpresa os aliados dos Estados Unidos, Trump ordenou nesta quarta-feira a retirada o quanto antes dos aproximadamente 2.000 soldados americanos. Os militares estão no nordeste do país, onde lutam contra os jihadistas junto com as forças democráticas sírias (FDS), uma coalizão de milícias árabe-curdas lideradas pelas YPG.
O presidente, que se opõe há muito tempo à presença americana em um conflito considerado caro, avaliou que as tropas não eram mais úteis porque o grupo Estado Islâmico (EI) estava "em grande parte derrotado".
A coalizão curdo-árabe avançou em no último reduto do EI na província de Deir Ezzor, informou uma ONG, o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Segundo o jornal Washington Post, que cita fontes da Casa Branca, os assessores de Donald Trump o convenceram a retirar as tropas americanas mais lentamente do que gostaria para que sua segurança não seja ameaçada.
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