G20

Argentina recebe a cúpula do G20 como vitrine de sua recuperação

País, que enfrenta plena crise econômica em meio ao governo Macri, irá receber os líderes mundiais para cúpula do G20 nesta sexta (30) e sábado (1°)

AFP
Cadastrado por
AFP
Publicado em 28/11/2018 às 8:45
Foto: EITAN ABRAMOVICH / AFP
País, que enfrenta plena crise econômica em meio ao governo Macri, irá receber os líderes mundiais para cúpula do G20 nesta sexta (30) e sábado (1°) - FOTO: Foto: EITAN ABRAMOVICH / AFP
Leitura:

A cúpula do G20, realizada em Buenos Aires, será o evento internacional mais importante organizado na Argentina, mas, diferentemente do que esperava o presidente Mauricio Macri, é um país em pela crise econômica que vai receber os líderes mundiais.

Macri, um dirigente de centro-esquerda com uma carreira de sucesso como empresário, teve em 2018 o ano mais difícil de seu governo, com a explosão de uma crise econômica que o obrigou a pedir ajuda ao Fundo Monetário Internacional no valor de 56 bilhões de dólares, a mais alta da história do organismo.

A desvalorização de 50% do peso argentino em relação ao dólar, a inflação prevista entre 45% e 50% para o fechamento de 2018, o aumento da pobreza (27,3%) e do desemprego (9,6%), a contração econômica prevista de 2,6% para 2018 e para 1,6% em 2019 não estão entre os indicadores econômicos que o anfitrião desejava mostrar aos governantes como o americano Donald Trump e a alemã Angela Merkel.

A última grande cúpula da Argentina foi a IV Cúpula das Américas, em Mar del Plata em 2005, um revés para o ex-presidente americano George W. Bush, que não pode formar a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), rechaçada pelos presidentes de esquerda que então governavam a região.

"A expectativa do governo de Macri, quando concordou em realizar a cúpula em Buenos Aires, era que serviria como vitrine para sua política de reformas graduais. A Argentina parecia então ser uma das poucas boas notícias, por suas políticas pró-mercado com apoio popular", disse Bruno Binetti, acadêmico de relações internacionais das universidades argentinas Torcuato di Tella e Católica.

Macri assumiu em dezembro de 2015 com um discurso liberal, após 12 anos do governo protecionista de centro-esquerda peronista de Néstor e Cristinia Kirchner (2003-2015), quando aconteceu um boom do preço dos cereais, produto de exportação por excelência da Argentina.

Macri abriu o mercado de câmbio, eliminou subsídios para os serviços básicos e fez cortes na administração pública, seguindo um plano gradual que buscava aliviar o impacto na população e manter seu respaldo.

Mesmo assim, em 2018 a renda das exportações sofreu uma dura queda, após uma das piores secas no campo, enquanto os Estados Unidos endureciam suas medidas protecionistas e se envolvia em uma guerra comercial com a China.

Conflito social

Uma corrida cambial no final de abril levou à crise, que Macri tenta conter com dificuldade e um índice de desaprovação que chegou a 65% no período de setembro e outubro, segundo a pesquisa de opinião pública realizada pela Universidade de San Andrés.

A política econômica de seu governo é a mais rejeitada pela população, com índice de 86% de insatisfeitos, de acordo com a mesma pesquisa.

A deterioração da situação econômica aviva o conflito social, com duas greves gerais nesse ano e várias paralisações e manifestações trabalhistas.  

Nessa semana da cúpula do G20, os sindicatos fazem greves parciais em aeroportos, na companhia aérea Aerolíneas Argentinas e no sistema de metrô, pedindo ajustes salariais de acordo com a inflação.

Organizações sociais preparam uma série de mobilizações em repúdio ao G20 e contra a política econômica de Macri que incluem palestras, workshops, shows e uma grande demonstração na sexta-feira.

"O G20 vai durar um dia, no segundo dia todos eles vão embora pelo desastre que será armado. As pessoas tem fome e querem fazer um G20 aqui?", diz Jesús Olgin, vendedor de rua de centro de Buenos Aires.

Em busca de apoio

Com a intenção de optar por um novo mandato nas eleições de 2019, Macri tenta que a cúpula sirva como um sinal de respaldo para suas políticas.

"Virão os líderes mais importantes do mundo como uma amostra de apoio à Argentina e de reconhecimento de que a Argentina voltou a querer fazer sua contribuição para o cenário mundial", disse o mandatário nessa semana.

Binetti destacou que a situação da Argentina "é muito menos auspiciosa do que se esperava quando recebeu a presidência Pro-Tempore do G20".

"O diagnóstico de Macri sobre para onde o mundo caminharia não se concretizou. Mesmo assim, a Argentina teve o apoio dos Estados Unidos no FMI e Trump foi flexível com a Argentina nos temas da taxação dos do ferro e do aço", disse.

Para o analista Rosendo Fraga, a grande oportunidade que a cúpula trará para Macri estará no bilateralismo, com o caráter oficial trazido pelas visitas dos governantes dos Estados Unidos, da China, Rússia, França, Japão, Reino Unido e Alemanha.

"Nesse encontros, a Argentina terá respaldo e elogios. O marco econômico e comercial multilateral está se debilitando, as relações bilaterais estão se fortalecendo", diz Fraga.

Últimas notícias