Candidato que lidera a disputa presidencial, de acordo com pesquisas nacionais, e está em segundo em Pernambuco com 17% de intenção de voto, de acordo com o JC/Ibope/TV Globo divulgado na segunda-feira (17), Jair Bolsonaro (PSL) passa agora a ter espaço que até então não contava em um palanque no Estado. Ontem, o candidato a governador pela Rede Sustentabilidade, Julio Lossio, recebeu oficialmente o apoio de Gilson Machado (PSL) e do candidato a deputado federal Coronel Meira (PRP), principais aliados de Bolsonaro em Pernambuco. Esse novo fato político, a 18 dias da eleição, pode levar eleitores do capitão reformado a vislumbrarem uma candidatura alternativa ao cenário polarizado entre Paulo Câmara (PSB) e Armando Monteiro (PTB) e, assim, empurrar a disputa local para o 2º turno.
De acordo com o JC/Ibope/TV Globo, considerando apenas os votos válidos, Paulo tem 50% e Armando 37% de intenção de voto. Ainda não é possível afirmar, portanto, se haverá segundo turno ou não. Fazendo uma conta grosseira de quanto representariam os 17% dos pernambucanos aptos a votar e que declararam voto a Bolsonaro, ele teria, hipoteticamente, cerca de 1,1 milhão de votos no Estado. O eleitorado de Pernambuco é de 6,5 milhões.
O coronel Meira já figurou como pré-candidato a governador e se colocava como o candidato de Bolsonaro em Pernambuco, mas teve a sua candidatura retirada pelo seu partido. Gilson Machado seria um dos candidatos a senador na chapa majoritária de Meira.
A divulgação de material gráfico com fotos do presidenciável junto a Lossio foi uma aposta arriscada. Ontem, a Executiva Nacional da Rede notificou o ex-prefeito de Petrolina por infidelidade partidária. “Ele não está recebendo o apoio de pessoas, como tem dito. Ele fez um acordo com candidatos de partidos que não estão coligados com a Rede e isso não é permitido”, disse o porta-voz do partido, Pedro Ivo Batista. A sigla apoia a candidatura de Marina Silva à Presidência da República.
Lossio rebateu a notificação. “Infelizmente eles (Rede) perceberam que esse apoio do Coronel Meira e simpatizantes dele e da candidatura de Bolsonaro pode nos levar ao segundo turno e eles têm pavor em contrariar o Palácio das Princesas” disparou, por meio de nota.
O prazo final para substituição das candidaturas foi a última segunda-feira. Portanto, a Rede não pode inviabilizar a candidatura de Julio Lossio. Contudo, segundo o advogado eleitoral Luís Gallindo, isso não quer dizer que ele não possa sofrer um processo de desfiliação. “Esse procedimento costuma demorar e, certamente, não estaria encerrado até o primeiro turno, no dia 7 de outubro. Ele pode até vir a ser expulso, mas depois da eleição. E quem concorre a eleições majoritárias não perde o cargo em casos de expulsão”, explica Gallindo.
Lossio acredita que conquistar eleitor de Bolsonaro pode levá-lo ao 2º turno
Durante almoço de adesão dos apoiadores à candidatura de Lossio, ontem, no Spettus do Derby, o candidato fez os cálculos de quanto pode se beneficiar em ter seu nome atrelado ao de Bolsonaro. “Se a gente conseguir trazer esses 17% (de Bolsonaro), mais os votos de Marina, que são 8%, temos 25%. Ou seja, estamos no segundo turno”, comemorou. Segundo o JC/Ibope/TV Globo, Lossio tem 2% de intenção de voto.
Entretanto, na opinião da cientista política Priscila Lapa, ainda é cedo para mensurar até que ponto essa associação seria possível, do ponto de vista eleitoral, entre Bolsonaro e Lossio. “Eu acredito que o eleitor que já estava definido, aqui no Estado, a votar em Bolsonaro já votaria independentemente de ter um palanque aqui ou não”, diz.
Para o cientista político e professor da PUC-Rio Ricardo Ismael é um fenômeno notável o fato de Bolsonaro possuir esse percentual de intenção de voto sem ter candidato no Estado. “Se o Julio Lossio conseguisse crescer na esteira dessa votação que o Bolsonaro já tem em Pernambuco, aí a eleição poderia ir para o segundo turno. Nesse caso, é a dúvida se ele ou outros possam ter um percentual de votos e evite a vitória de Paulo ou Armando no primeiro”, avalia.
Ainda de acordo com a pesquisa Ibope nacional, o eleitor de Bolsonaro é o mais convicto no País. Segundo o levantamento, 53% dos eleitores ouvidos dizem que essa é uma decisão definitiva.
Candidato à reeleição, o governador Paulo Câmara (PSB) diz não acreditar que a aproximação de Lossio com Bolsonaro deva alterar o quadro eleitoral no Estado. “Os números do Bolsonaro aqui em Pernambuco são muito diferentes do nacional. E (Fernando) Haddad está crescendo muito aqui. O que a gente sente nas ruas é as pessoas querendo votar no candidato de Lula. Então, eu acredito que haja aqui em Pernambuco uma vitória expressiva dele (de Haddad)”, explicou o socialista.
Ontem, o PSB expulsou dos seus quadros a prefeita de Panelas, Joelma Campos, que declarou apoio ao presidenciável do PSL. Nacionalmente, a sigla vetou o apoio de socialistas a Bolsonaro. Segundo o presidente do PSB-PE, Sileno Guedes, o partido não poderia se omitir diante da posição da prefeita.
Para Paulo Câmara, a tendência é que o segundo turno da corrida presidencial seja disputado entre Bolsonaro e o ex-prefeito de São Paulo, que ele apoia. Caso a eleição estadual tenha segundo turno, o cenário nacional pode ser refletido no Estado, explica Priscila Lapa. “O eleitor pode começar a ver quem é o candidato de Bolsonaro e quem é o candidato do outro presidenciável que vai para o segundo turno”, conta. Ela avalia ainda que o PSL pode ter cometido um erro estratégico ao não buscar palanques estaduais para dar sustentação à candidatura de Bolsonaro. “Isso pode prejudicá-lo por não ter esses palanques trabalhando para ele”, explica.
O ex-presidente do PSL, Luciano Bivar, que deu a legenda para Bolsonaro ser candidato, explica que a decisão de não lançar candidatura própria em Pernambuco passa por uma estratégia que visa a eleição de cargos proporcionais. No Estado, a sigla integra a coligação Pernambuco Vai Mudar, encabeçada pelo candidato Armando Monteiro (PTB). “Estamos coligados (com Armando) porque se você tivesse qualquer outra candidatura, você iria sair sozinho e ficava inviável para os candidatos do PSL, porque ameaçaria não atingir quociente eleitoral. A não ser que fosse um candidato que tivesse viabilidade de se eleger. Se não fosse, você ia ficar isolado e ia correr o risco de não eleger nenhum candidato”, afirmou Bivar.
Armando Monteiro (PTB) diz não se guiar por “cálculos eleitorais” para direcionar seus passos durante uma campanha. Sem candidato a presidente definido desde que o ex-presidente Lula (PT) saiu da disputa, o postulante ao Palácio do Campo das Princesas defende que o governador de Pernambuco deverá articular-se com qualquer que seja o ganhador do pleito nacional.
“Quatro candidatos a presidente estão vinculados a partidos da minha coligação, que é ampla e precisa ser assim, pois Pernambuco tem tantos problemas que se não construirmos uma frente política ampla, não vamos dar conta deles. Eu costumo dizer que o governador de Pernambuco tem que fazer uma interlocução com qualquer que venha a ser o presidente da República, nós temos que ter essa capacidade de dialogar”, avaliou Armando, ontem.