Quatro anos depois de perder uma eleição presidencial por diferença inferior a 3,5 milhões de votos, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) faz campanha fora dos holofotes para deputado federal em Minas Gerais. Sem apoio, ao menos oficialmente, dos principais integrantes do partido - entre os quais seu afilhado político, o também senador Antonio Anastasia, candidato ao governo de Minas e o presidenciável Geraldo Alckmin -, Aécio mantém agenda restrita de viagens ao interior e não divulga os atos políticos a que vai comparecer.
Apesar da campanha aparentemente discreta, ao estilo "mineirinho", informações enviadas pela campanha do senador ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que, até o momento, o parlamentar recebeu R$ 2 milhões de recursos do fundo especial, repassados pelo PSDB nacional, e R$ 19.195,00 de 11 pessoas físicas, com valores que oscilam entre R$ 145,00 e R$ 5 mil.
O valor recebido por Aécio Neves do fundo especial via direção nacional do partido é bem superior ao repassado a outros candidatos tucanos de expressão no Estado e que disputam o mesmo cargo. O presidente estadual da legenda, Domingos Sávio, que tenta a reeleição, recebeu R$ 900 mil. O vice-presidente, Paulo Abi Ackel, R$ 500 mil. Ambos disputam a reeleição. Com menor visibilidade na comparação Aécio e dirigentes partidários, Cidinha Campos recebeu R$ 80 mil.
Os gastos de Aécio até o momento totalizaram R$ 844.838,69. Do montante, o valor mais expressivo, R$ 106.330,00 foi com empresa de encadernação e edição. Há ainda R$ 64.686,04 com empresa de aluguel de veículos.
Depois de governar Minas Gerais por duas vezes, ser eleito senador e perder a disputa presidencial de 2014 para Dilma Rousseff (PT), que sofreu impeachment e hoje lidera as pesquisas de intenção de voto para o Senado por Minas, o tucano já não tem a mesma força política, sobretudo após ter sido flagrado em grampo da Polícia Federal pedindo R$ 2 milhões para o empresário Joesley Batista.
A alegação de Aécio é que se tratava de um empréstimo, que seria oficializado em contrato, para pagamento de advogados em processos que o parlamentar já respondia. O tucano virou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) em ação da Procuradoria Geral da República (PGR) por corrupção passiva e obstrução de justiça.
Desde 16 de agosto, data em que teve início a campanha 2018 - portanto, em 38 dias - o senador registrou com vídeos em sua página no Facebook cinco atos de campanha. O primeiro, dia 25 de agosto, em fazenda próxima a Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri; outro em Belo Horizonte, quatro dias depois; o terceiro em São João del Rei, no Campo das Vertentes, no dia 31; o quarto em Ipatinga, no Vale do Aço, em 1º de setembro; e o último em São Romão, no Norte do Estado, na Terça-feira passada, dia 18.
Em todos os atos, Aécio está ao lado de lideranças locais. O tucano não participou, ao menos até o momento, de nenhum comício de Anastasia ou do candidato à Presidência da República de seu partido, Geraldo Alckmin, em Minas.
À mineira
No Facebook do senador são publicadas também animações sobre o que o tucano fez como governador do Estado e propostas. Há ainda um vídeo em que Aécio responde a perguntas de internautas. Famoso pela ativa presença na vida noturna do Rio de Janeiro, na publicação o tucano busca realçar raízes mineiras. O vídeo foi chamado de "Dedo de prosa com Aécio", fala de comida vendida no estádio Mineirão e de sua torcida pelo Cruzeiro.
Em uma pergunta citada pelo tucano, um eleitor quer saber se o senador já comeu "o tropeiro zoiudo (com ovo) do Mineirão", ele responde: "Muito. Era um frequentador assíduo do Mineirão". Em outra pergunta, querem saber qual foi o melhor jogo entre Cruzeiro e Atlético. O tucano cita um que, segundo ele, ocorreu no final da década de 60 ou início dos anos 70.
Aécio, respondendo a outra pergunta de ordem pessoal, diz que hoje, não é mais "pegador". "Na verdade eu fui muito namorador. Gostava muito de namorar. E namoro até hoje, a minha loira do Sul", e manda um beijo para a mulher, Letícia, que aparentemente está na mesma sala em que o tucano gravou o vídeo.
Ao longo da semana, Aécio recebe líderes políticos do interior no apartamento que mantém no bairro Anchieta, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, fazendo o caminho inverso do normalmente observado pelos candidatos, de ir ao encontro dos eleitores nas bases. Quem mora próximo ao apartamento do tucano garante que a movimentação no local é intensa. "Tem dia que não tem como estacionar, de tanto carro", afirma um vizinho.