Um grupo que inclui artistas, advogados, ativistas e empresários articulou um manifesto contra a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL). O documento intitulado "Pela democracia, pelo Brasil" não indica apoio à candidatura do PT nem de qualquer um dos adversários do deputado, mas afirma ser necessário um movimento contra o projeto antidemocrático do candidato do PSL.
"É preciso dizer, mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial. É preciso recusar sua normalização, e somar forças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós", diz o texto.
O documento diz que o País já teve em Jânio Quadros e Fernando Collor de Mello "outros pretensos heróis da pátria, aventureiros eleitos como supostos redentores da ética e da limpeza política", mas que acabaram levando o Brasil ao "desastre".
"Nunca é demais lembrar, líderes fascistas, nazistas e diversos outros regimes autocráticos na história e no presente foram originalmente eleitos, com a promessa de resgatar a autoestima e a credibilidade de suas nações, antes de subordiná-las aos mais variados desmandos autoritários", diz outro trecho do manifesto
Versão preliminar do manifesto, obtido pela reportagem, conta com cerca de 150 nomes, entre eles os de Maria Alice Setúbal, educadora e acionista do Itaú Unibanco; do economista Bernard Appy; do empresário Guilherme Leal, sócio da Natura; de Caetano Veloso e Paula Lavigne; do advogado e professor da FGV Carlos Vilhena; e do médico Drauzio Varella.
Caetano e Paula Lavigne declararam apoio a Ciro Gomes (PDT) nesta eleição. Maria Alice Setúbal e Guilherme Leal já atuaram ao lado de Marina Silva (Rede) em pleitos passados, mas não têm papel na campanha atual da ex-senadora.
O manifesto conta com uma relação inicial de signatários e ficará hospedado num site próprio do movimento. A lista ficará aberta para quem quiser incluir a assinatura.
O documento foi fechado na quinta-feira pelas mãos de um grupo de amigos, entre eles o advogado José Marcelo Zacchi. O texto foi sendo circulado em grupos de Whatsapp a partir de sexta e ganhando adesões ao longo do fim de semana.
Segundo Zacchi, o objetivo é reunir vozes que representem diversos segmentos da sociedade e possam mobilizar esses setores "É sobre repudiar um projeto que nos parece contrário aos princípios democráticos", diz. "É um chamado para quem vota em quem quer que seja, mas está dentro do campo democrático".
Assinaturas
Veja quem já assinou o manifesto:
Alê Youssef
Alessandra Negrini
Alexandre Nero
Alexandre Schneider
Amon Barros
Ana Carolina Evangelista
Ana Helena Altenfelder
Ana Maria Diniz
Ana Moser
André Corradi Moreira Luthier
Andre Degenszajn
André Pereira de Carvalho
Andrea Barata Ribeiro
Andrea Calabi
Andreia Horta
Anna Penido
Antonia Pelegrino
Antônio Prata
Arnaldo Antunes
Astrid Fontenelle de Brito
Átila Roque
Bel Coelho
Bela Gil
Bernard Appy
Beth Pessoa
Beto Vasconcelos
Beto Verissimo
Bia Barbosa
Binho Marques
Bruno Torturra
Caetano Veloso
Caio Magri
Camila Pitanga
Carlos Mello
Carlos Nobre
Carolina Bueno
Cazé Pecini
Celia Cruz
Celso Athayde
Celso Lafer
Cesar Callegari
Cicero Araujo
Cláudia Abreu
Claudia Costin
Cláudio Couto
Clemente Ganz Lucio
Clemir Fernandes
Dani Fiabane
Daniel Augusto
Daniela Di Bonito Mônaco de Moraes
Daniela Gleiser
Dario Guarita Neto
Débora Lamm
Denis Mizne
Dira Paes
Drauzio Varella
Eduardo Marques
Eduardo Mufarrej
Eliane Giardini
Estevão Ciavatta
Esther Solano
Eugenia Moreyra
Eugenio Bucci
Fabio Feldman
Fernand Alphen
Fernanda Thompson
Fernando Abrucio
Fernando Burgos
Fernando Grostein Andrade
Fernando Meirelles
Flávia Lacerda
Floriano de Azevedo Marques Neto
Francisco Sandro Rodrigues Holanda
Franklin Feder
Galeno Amorim
Gerorgiana Goes
Gilberto Dimenstein
Gisele Froes
Glória Kalil
Gregorio Duvivier
Guilherme Casarões
Guilherme Leal
Haroldo Torres
Heitor Dhalia
Helio Santos
Heloisa Buarque de Holanda
Heloísa Perisse
Henrique Silveira
Hugo Possolo
Ilona Szábo
Ilza Jorge
Inês Lafer
Ivam Cabral
Jailson Silva
Joana Jabace
João Biehl
Jorge Abrahao
Jorge Romano
Jorge Schwartz
José Marcelo Zacchi
Juana Kweitel
Juca Kfouri
Jurandir Freire Costa
Karina Buhr
Katia Maia
Laerte
Lauro Gonzales
Leticia Colin
Lilia Schwarcz
Luana Lobo
Luis Bolognesi
Luiz Armando Badin
Luiz Camillo Osorio
Luiz Eduardo Soares
Luiza Lima
Malak Poppovic
Mano Brown
Manoela Miklos
Marcelo Behar
Marcelo Furtado
Marcelo Masagão
Marcelo Rubens Paiva
Marco Antônio Carvalho Teixeira
Marcos Fernandes
Marcus Vinícius Faustini
Maria Alice Setubal
Maria de Medicis
Maria Gadu
Maria Victoria Benevides
Mariana Lacorte Camponez do Brasil
Mariana Pamplona
Marina Person
Mário Aquino Alves
Mário Monzoni
Marisa Moreira Salles
Mariza Abreu
Mary Camargo Neves Lafer
Mel Lisboa
Melina Risso
Michael Haradon
Milton Hatoum
Miriam Krenzinger
Monica Almeida
Monica Franco
Naercio Menezes Filho
Numa Ciro
Oded Grajew
Oscar Vilhena
Pally Siqueira
Paloma Duarte
Patrícia Pilar
Paula Lavigne
Paulinho Moska
Paulo André
Paulo Barreto
Paulo Borges
Paulo Furquim
Paulo Miklos
Pedro Abramovay
Pedro Meira Monteiro
Pedro Paulo Poppovic
Pedro Strozenberg
Priscila Cruz
Rafael Alcadipani
Rafael Parente
Raul Santiago
Regina Braga
Renato Janine Ribeiro
Renato Sergio de Lima
Ricardo Abramovay
Ricardo Borges Martins
Ricardo Henriques
Ricardo Sennes
Ricardo Young
Roberta Martinelli
Roberto Waack
Ronaldo Lemos
Rudi Rocha
Sarah Oliveira
Sergio Leitão
Sergio Miletto
Silvia Ramos
Silvia Taques Bittencourt
Sueli Carneiro
Tadeu Jungle
Tainá Müller
Tasso Azevedo
Tati Bernardi
Thiago Lacerda
Valeria Macedo
Valter Silvério
Vanessa Elias de Oliveira
Vítor Marchetti
Walter Salles
Washington Olivetto
Xis
Xixo Mauricio
Piragino
Zeca Camargo
Zuza Homem de Mello
Leia o manifesto na íntegra:
"Pela Democracia, pelo Brasil
Somos diferentes. Temos trajetórias pessoais e públicas variadas Votamos em pessoas e partidos diversos. Defendemos causas, ideias e projetos distintos para nosso país, muitas vezes antagônicos.
Mas temos em comum o compromisso com a democracia. Com a liberdade, a convivência plural e o respeito mútuo. E acreditamos no Brasil. Um Brasil formado por todos os seus cidadãos, ético, pacífico, dinâmico, livre de intolerância, preconceito e discriminação.
Como todos os brasileiros, sabemos da profundidade dos desafios que nos convocam nesse momento. Mais além deles, do imperativo de superar o colapso do nosso sistema político, que está na raiz das crises múltiplas que vivemos nos últimos anos e que nos trazem ao presente de frustração e descrença.
Mas sabemos também dos perigos de pretender responder a isso com concessões ao autoritarismo, à erosão das instituições democráticas ou à desconstrução da nossa herança humanista primordial.
Podemos divergir intensamente sobre os rumos das políticas econômicas, sociais ou ambientais, a qualidade deste ou daquele ator político, o acerto do nosso sistema legal nos mais variados temas e dos processos e decisões judiciais para sua aplicação. Nisso, estamos no terreno da democracia, da disputa legítima de ideias e projetos no debate público.
Quando, no entanto, nos deparamos com projetos que negam a existência de um passado autoritário no Brasil, flertam explicitamente com conceitos como a produção de nova Constituição sem delegação popular, a manipulação do número de juízes nas cortes superiores ou recurso a autogolpes presidenciais, acumulam declarações francamente xenofóbicas e discriminatórias contra setores diversos da sociedade, refutam textualmente o princípio da proteção de minorias contra o arbítrio e lamentam o fato das forças do Estado terem historicamente matado menos dissidentes do que deveriam, temos a consciência inequívoca de estarmos lidando com algo maior, e anterior a todo dissenso democrático.
Conhecemos amplamente os resultados de processos históricos assim. Tivemos em Jânio e Collor outros pretensos heróis da pátria, aventureiros eleitos como supostos redentores da ética e da limpeza política, para nos levar ao desastre. Conhecemos 20 anos de sombras sob a ditadura, iniciados com o respaldo de não poucos atores na sociedade. Testemunhamos os ecos de experiências autoritárias pelo mundo, deflagradas pela expectativa de responder a crises ou superar impasses políticos, afundando seus países no isolamento, na violência e na ruína econômica. Nunca é demais lembrar, líderes fascistas, nazistas e diversos outros regimes autocráticos na história e no presente foram originalmente eleitos, com a promessa de resgatar a autoestima e a credibilidade de suas nações, antes de subordiná-las aos mais variados desmandos autoritários.
Em momento de crise, é preciso ter a clareza máxima da responsabilidade histórica das escolhas que fazemos.
Esta clareza nos move a esta manifestação conjunta, nesse momento do país. Para além de todas as diferenças, estivemos juntos na construção democrática no Brasil. E é preciso saber defendê-la assim agora.
É preciso dizer, mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial. É preciso recusar sua normalização, e somar forças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós.
Prezamos a democracia. A democracia que provê abertura, inclusão e prosperidade aos povos que a cultivam com solidez no mundo. Que nos trouxe nos últimos 30 anos a estabilidade econômica, o início da superação de desigualdades históricas e a expansão sem precedentes da cidadania entre nós. Não são, certamente, poucos os desafios para avançar por dentro dela, mas sabemos ser sempre o único e mais promissor caminho, sem ovos de serpente ou ilusões armadas.
Por isso, estamos preparados para estar juntos na sua defesa em qualquer situação, e nos reunimos aqui no chamado para que novas vozes possam convergir nisso. E para que possamos, na soma da nossa pluralidade e diversidade, refazer as bases da política e cidadania compartilhadas e retomar o curso da sociedade vibrante, plena e exitosa que precisamos e podemos ser."