O Ministério Público Federal (MPF) pediu nesta segunda-feira, 6, que a Justiça reconheça que o empresário Joesley Batista, sócio da holding J&F Investimentos, e o diretor presidente da Eldorado Celulose, José Carlos Grubisich Filho, descumpriram acordo firmado no âmbito da Operação Greenfield e reaplique sanções a ambos.
Os investigadores solicitam que seja feito o bloqueio de bens e ativos dos envolvidos até o limite de R$ 3,8 bilhões, como forma de garantir o eventual ressarcimento de prejuízos causados a fundos de pensão, entre eles Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa), ao Fundo de Garantia por Tempos de Serviço (FGTS) e à Caixa. Pedem também que os dois sejam proibidos de ocupar cargos ou funções de direção em empresas do grupo e de manter qualquer tipo de comunicação entre si e com outros investigados
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Se os pedidos forem aceitos pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal, em Brasília, os empresários também não poderão se ausentar das cidades em que residem. O MPF requer também o afastamento de toda a diretoria da Eldorado Celulose até o fim das investigações. O objetivo é que seja formada uma diretoria provisória, indicada por conselheiros que atualmente representam Funcef e Petros, no Conselho de Administração da empresa.
O acordo com a Greenfield, que apura fraudes em negócios com os fundos, foi firmado em setembro do ano passado, como forma de desbloquear ativos e permitir que a família Batista continuasse no comando do grupo.
Na mesma manifestação, o MPF deu parecer favorável a um pedido da defesa de Wesley Batista para que sejam revogadas as medidas impostas a ele. Wesley alegou que, à época dos fatos investigados, morava nos Estados Unidos e atuava em outros seguimentos do grupo empresarial J&F.
O procurador da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes, responsável pela Greenfield, sustenta na petição enviada à Justiça que há indícios da prática de atos ilícitos por parte de Joesley e José Carlos para esconder irregularidades cometidas à frente da Eldorado Celulose. Após a deflagração da Operação Sépsis - que tramita em conjunto à Greenfield e à Cui Bono -, a Eldorado decidiu contratar duas empresas de auditoria independente, com o suposto objetivo de adotar as "medidas cabíveis" em relação aos esquemas investigados. O MPF sustenta que, em vez de apurar as irregularidades, tais firmas agiram na tentativa de "legitimar as práticas ilegais encontradas", como o pagamento de R$ 37,4 milhões da Eldorado para as empresas Viscaya e Araguaia, de propriedade do corretor Lúcio Bolonha Funaro, apontado como operador de esquema de corrupção na Caixa e em outras entidades públicas.
Funaro está preso em Brasília a responde a outras investigações.
Auditoria
Segundo o MPF, a explicação da auditoria contratada para os pagamentos passa por uma triangulação envolvendo o Grupo J&F, que teria contratos com as duas empresas de Lúcio Funaro e um crédito junto à Eldorado. No entanto, alegam os investigadores, a justificativa esconde atos de lavagem de dinheiro.
"A equipe de auditoria contratada pela Eldorado buscou, de todas as formas, trazer uma aparência de transparência e legalidade para as referidas operações financeiras, aduzindo ser impossível inferir uma correlação entre pagamentos realizados pela Eldorado às empresas de Lúcio Funaro e a concessão do financiamento ou quaisquer vantagens em favor da companhia", afirma um dos trechos do documento.
O MPF destaca o fato de o comitê supervisor da apuração contar com agentes da Eldorado Celulose, como o próprio José Carlos Grubisich, investigado nas operações, e o ex-ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Miguel Jorge, que é filiado ao PT.
A petição diz ainda que a auditoria confirmou a existência de doações eleitorais por parte da Eldorado, inclusive para o diretório estadual do PTB, na Bahia. "O partido é ligado a outro investigado da Operação Cui Bono: o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA)", afirma o MPF.
Outra manobra atribuída a Joesley e a José Carlos ocorreu em 23 novembro do ano passado, após a deflagração da Operação Greenfield. Naquele dia, a Eldorado firmou um contrato de R$ 190 milhões com a Eucalipto Brasil, vinculada a dois investigados na operação: Mário Celso Lopes e Mário Celso Lincoln Lopes.
O MPF constatou que Mário Celso Lopes - o beneficiado pelo contrato - foi, junto a Joesley Batista, um dos fundadores da Eldorado e travou uma disputa judicial com o grupo J&F.
"Menos de um mês após a assinatura do contrato, houve a retirada de uma cláusula, o que beneficiou Mário Celso, em detrimento da Eldorado e dos sócios minoritários: Funcef e Petros", alega a Procuradoria da República no Distrito Federal, que suspeita, na articulação, de ação coordenada por Joesley e José Carlos para comprar o silêncio de Mário sobre "as irregularidades praticadas no momento de criação da Eldorado".
Em nota, A J&F informou que foi surpreendida com o pedido do MPF-DF de medidas judiciais contra Joesley Batista e Jose Carlos Grubisich, as quais tiveram como base denúncias estapafúrdias, infundadas e com caráter de interesses pessoais de Max Mauran Pantoja da Costa (Conselheiro indicado pela FUNCEF). Todas as decisões são públicas e foram tomadas pelo conselho de administração da Eldorado, com a maioria dos votos de seus membros, incluindo os independentes, de acordo com o estatuto social da companhia e o acordo de acionistas. A J&F refuta todas a alegações irresponsáveis feitas por Pantoja e pedirá ao MPF e ao juiz competente a oportunidade de provar a licitude, lealdade e boa fé de todas decisões tomadas no âmbito da empresa e do seu conselho de administração, antes que tal ilação do conselheiro traga mais prejuízo para a empresa, clientes, colaboradores e os executivos mencionados.