O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) classificou como normal o recuo do presidente Michel Temer (PMDB) em relação a pontos da reforma da Previdência, na tentativa de facilitar a aprovação do projeto enviado ao Legislativo. "Faz parte da negociação. O governo pede, o Congresso tem sua opinião, há uma negociação. É sempre assim, alguma coisa se consegue", afirmou FHC, durante evento de lançamento de seu livro Diários da Presidência - volume 3, numa livraria da zona sul do Rio de Janeiro.
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Fernando Henrique comparou a tentativa de reforma atual com aquela que tentou promover durante seu governo. "Para se aprovar esse tipo de coisa é preciso passar por várias votações, com 308 votos a favor. É uma dificuldade enorme. No meu governo, havíamos proposto a idade mínima de 55 anos para mulher e 60 para homem. Tivemos 307 votos, perdemos por um voto. O que fizemos? O fator previdenciário. Então houve algum avanço. Você tem que tomar medidas, porque o déficit fiscal é monumental", afirmou. "As pessoas hoje vivem muito mais tempo. Então tem que trabalhar por mais tempo e contribuir por mais tempo. Isso é tão fácil de explicar, mas vai fazer isso na prática... os interessados não querem. E o tempo todo é assim, em várias matérias", afirmou.
Prováveis candidatos à presidência
O ex-presidente evitou discorrer sobre prováveis candidatos à presidência em 2018, mas afirmou que "é preciso criar ambiente de divergência, e não de ódio". Nesse momento foi aplaudido. "Temos que ter rumo. O Brasil perdeu o rumo. Ficou quase que sem esperança de reencontrar o rumo. Eu disse uma coisa que o presidente atual não gostou muito, suponho eu. Disse que estamos numa pinguela. Eu não disse que ele é uma pinguela. Nós estamos atravessando uma pinguela. Se quebrar, caímos na água. Mas a pinguela não é destino, é caminho. Qual é o destino? É 2018. Ou nós temos condições para ter alguém capaz de dar rumo ao Brasil, forças sociais que pegam a pessoa, ou nós vamos ter eleições e elegemos A, B, C ou D e dá na mesma, porque não são capazes de realmente transmitir ao País o entusiasmo necessário para dizer 'eis aqui o caminho'. Quem vai ser? Eu é que não", completou.
Ao citar o convívio com petistas, Fernando Henrique mencionou José Dirceu e, sério, afirmou: "Coitado, está na cadeia hoje... eu lamento". A plateia gargalhou, mas o ex-presidente não riu.
No Rio, Fernando Henrique participou de um debate com a jornalista Miriam Leitão para divulgar seu novo livro, terceiro de uma série de quatro que reúne memórias do período em que foi presidente da República. Este volume engloba os anos de 1999 e 2000.