Os oito candidatos à sucessão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, participaram de um debate no Recife nesta segunda-feira (12) e afirmaram que esperam que o presidente Michel Temer (PMDB) escolha um dos nomes que serão eleitos para a lista tríplice no próximo dia 27. A declaração foi dada após especulações de que o peemedebista poderia ignorar a lista, organizada pela Associação dos Procuradores da República (ANPR) do Ministério Público Federal (MPF), e recorrer a um nome de outras associações ligadas ao Ministério Público da União (MPU) para comandar a Procuradoria Geral da República (PGR) quando Janot deixar o posto em setembro.
Durante a passagem pela capital pernambucana, os subprocuradores-gerais também demonstraram apoio à operação Lava Jato, um dos pontos de tensão entre a PGR e o governo. O debate com os candidatos ocorre em uma semana marcada pela expectativa de que Janot poderá denunciar criminalmente Temer de modo a gerar mais um obstáculo para o peemedebista ficar na presidência. Esse embate com o procurador-geral seria uma das razões para o presidente não respeitar a lista da ANPR.
Presidente da ANPR e organizado do debate entre os candidatos, José Robalinho Cavalcanti, disse não acreditar que Temer vá desrespeitar a entidade. “Em uma entrevista de voz própria, o presidente disse, com todas as letras, que vai escolher um dos três subprocuradores da lista tríplice da ANPR. Uma pessoa que não participe dessa disputa não terá legitimidade, liderança e condições para dirigir o Ministério Público Federal. Confio na palavra que o presidente deu em público”, afirmou.
Um levantamento feito pelo jornal Valor apontou que, dos oito candidatos, os subprocuradores-gerais Mario Bonsaglia e Raquel Dodge são os favoritos para integrar a lista tríplice. “Espero que a escolha do presidente seja feita de modo bastante racional em uma situação de plena normalidade institucional com respeito total a nossa lista tríplice”, afirmou Bonsaglia.
Temer avalia ignorar lista tríplice na sucessão de Janot
Janot diz estar perplexo e cita 'Estado policial'
Associações rejeitam 'manobra' contra Lava Jato
Considerada como uma das candidatas do grupo de oposição a Janot, Raquel Dodge defendeu a lista tríplice e criticou, nas entrelinhas, o trabalho do atual procurador-geral. “Não pretendo fazer nenhum juízo de valor sobre a conduta até agora feita, mas gostaria de dizer que meu comportamento é de discernimento e serenidade, sem busca de confronto e buscando o diálogo entre os órgãos e poderes da República porque é importante para a boa condução dos trabalhos do MPF”, comentou.
A suprocuradora Sandra Cureau foi mais crítica ao comentar a gestão de Janot. “Faltou talvez um pouco de cuidado do atual procurador-geral da República na hora de ajuizar as ações para manter um relacionamento cordial com os poderes. Nem todos os congressistas ou ministros são corruptos e dá para construir uma relação saudável separando o joio do trigo. Acho que o presidente vai escolher um nome da lista, mas talvez tenha dificuldades com candidatos que participaram de movimentos de ‘Fora, Temer’ ou coisa do gênero”, declarou.
A declaração de Sandra Cureau diz respeito aos subprocuradores Ela Wiecko, que participou de um ato contra Temer em Portugal, e Nicolao Dino, favorável à cassação da chapa Dilma (PT)-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Irmão do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), o candidato garantiu que a ligação familiar com um político de oposição a Temer não é motivo de ser rifado da disputa. “Somos indivíduos diferentes, com CPFs e trajetórias profissionais diferentes. Gostaria de ser avaliado pelo que faço no MPF há 26 anos”, enfatizou.
DELAÇÃO PREMIADA
Dino afirmou que não faria uma revisão no acordo de delação premiada dos executivos da JBS caso fosse escolhido para suceder Janot. “Não vejo nenhuma razão para rever o acordo. As investigações que estão em curso não podem sofrer nenhum tipo de desestabilização. Procurarei fazer todos os acordos possíveis e necessários para alcançar os mais altos estamentos de qualquer organização criminosa, mas sempre verificando qual a relação custo-benefício para o aprofundamento da investigação”, disse.
Já o subprocurador Eitel Santiago discordou da avaliação de Dino. “Não é justo com um acordo de leniência que representa uma idoneidade a líderes de organizações criminosas que não tiveram a preocupação com os 14 milhões de desempregados que existem no País. Eles subornaram pessoas que estavam dentro do próprio Ministério Público e não merecem o acordo, que precisa ser revisto”, declarou.
O debate ainda teve a participação dos subprocuradores Franklin Rodrigues e Carlos Frederico Santos.