O deputado federal Daniel Coelho, do PSDB, tem se tornado um dos principais críticos do partido. Em entrevista ao Jornal do Commercio, ele explica a razão das contestações feitas à postura tucana no Congresso Nacional. O pernambucano também nega que esteja de saída do PSDB para ingressar no PSL. Confira, a seguir, a entrevista.
JORNAL DO COMMERCIO – Quais os principais prejuízos que o PSDB pode ter ao ficar na base do governo Michel Temer (PMDB)?
DANIEL COELHO – O maior prejuízo em estar no governo é o PSDB se igualar aos partidos que mais critica. Os partidos da esquerda tradicional, PT, PSOL, PCdoB e Rede, apontam as corrupções do PMDB com muita violência, mas dizem que o impeachment é golpe, que Dilma (PT) é inocente e Lula (PT) é perseguido. No momento em que o PSDB menospreza as denúncias contra Temer, mas continua a dizer que Lula deve ser preso, ele se iguala a esse campo oposto e fica na vala comum. A gente acha que é impossível o dia de amanhã não ser pior do que o dia de hoje. Novos fatos virão. A maneira como o governo é composto, que é o mesmo modelo que o PT adotou, é uma fábrica de escândalos. Dificilmente esse governo não vai produzir novos escândalos.
JC – Como o senhor votará se a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Temer chegar ao Congresso?
DANIEL – Quem do PSDB votar contra a abertura de investigação a Temer vai se igualar àqueles do PSOL, do PT e do PCdoB que eram contra investigar Dilma. Se Temer for inocente, vai ter direito de provar.
JC – Dá para o PSDB atrair tanto o eleitor do PT quanto o eleitor de Bolsonaro (PSC-RJ)?
DANIEL – Há um espaço gigante que pode ser ocupado pelo PSDB ou outros partidos porque hoje o que sobrevive é uma posição à esquerda que fracassou do ponto de vista ético, moral e econômico e na extrema direita não tem solução para os problemas econômicos do País. No meio disso tudo, tem espaço para alguém que queira discutir a reforma mais importante que o Brasil tem que fazer que é a reforma do Estado. Essa posição mais liberal e mais avançada está crescendo em diversos países. A eleição da França foi um exemplo disso. A esquerda fracassou, a extrema-direita chegou ao segundo turno, mas Macron, com esse pensamento liberal e mais conectado ao momento, conseguiu uma vitória esmagadora. É importante que alguém dê essa alternativa porque o pensamento liberal está ausente no quadro político brasileiro. Espero que o PSDB ocupe esse espaço com uma refundação ideológica e de posicionamento político.
JC – O senhor pretende deixar o PSDB como vem sendo cogitado?
DANIEL – No momento, meu pensamento não é mudar de partido.
JC – Chegou a receber um convite formal do PSL?
DANIEL – Não teve nada formal. Tenho uma excelente relação com as pessoas que fazem o PSL até porque Sérgio Bivar (integrante do partido e filho do ex-deputado Luciano Bivar) foi candidato a vice na minha chapa em 2016 e se tornou amigo pessoal. Eles estão em um processo de modificação, de transformar o PSL em Livres, e quem sabe eles não transformam o Livres nesse vetor que a gente está colocando? Eles seriam uma alternativa para o País. Não estou pensando no meu caminho, mas se eles saírem do PSL e o transformarem em um partido com esse vetor liberal e progressista eles vão ter um campo político. O caminho ao qual quero levar o PSDB é esse também.
JC – O PSDB deve ter candidato a governador em 2018?
DANIEL – A posição inicial é que tenha candidato e hoje o nome é o de Bruno Araújo (ministro das Cidades), mas sem imposição. O importante é que a gente consiga construir uma alternativa ao PSB, que aqui no Estado fracassou à frente do governo. Acho que não tem espaço para estar junto do PSB. É uma relação que não cabe mais, não há confiança nossa com o PSB e nem do PSB conosco, além do governo ser muito ruim. Espero que a gente construa o nosso palanque com o Democratas, que é um aliado histórico, e o PTB do senador Armando Monteiro, que está em um processo de reposicionamento. Vamos conversar e dialogar. Gostaria de ver o palanque nesse campo porque daria uma alternativa sólida e consistente para o Estado.
JC - O senhor é favorável à saída do senador Aécio Neves (MG) do PSDB ou acha que ainda tem espaço para ele no partido?
DANIEL - Ele está afastado, que foi uma decisão correta e tomada rapidamente. Agora, o que precisa é ele ser julgado e ter o direito de defesa. Aí vai ficar provado se ele é culpado ou inocente. Um dos grandes problemas que estamos vivendo no Brasil é que todos estão sendo denunciados e acusados e ninguém é julgado. Isso é ruim para o Brasil tentar virar a página para o processo democrático. Lula está com mais de 200 acusações e não é julgado em absolutamente nada. Dilma tem várias acusações. Temer agora deve sofrer formalmente acusações e não é julgado, assim como centenas de deputados e senadores. Então é muito importante que todos sejam julgados. Pelo que tudo indica, Aécio será julgado com brevidade. No caso dele, a Justiça parece estar agindo com velocidade. Até isso vai nos dar força para que a gente cobre uma situação semelhança para todos. Qual a justificativa para uma velocidade no julgamento de Aécio e o de Lula está uma novela de dois três anos e as pessoas têm medo de julgá-lo? A gente precisa criar também um equilíbrio e um sentimento para a população que todo mundo está sendo tratado de modo igualitário.
JC - Mas diante do que vem sendo apresentado pela Justiça e imprensa o senhor acha que há elementos para crer que Aécio é inocente?
DANIEL - As acusações são muito graves. Não ouvi a defesa dele. As acusações são graves contra ele, contra Lula, Dilma, contra várias pessoas. A gravação de Aécio é extremamente grave. A gravação entre Dilma e Lula, na época em que Dilma governava, era grave, de obstrução da Justiça, e ela não foi julgada até hoje. Quero que Aécio seja julgado. Se ele é inocente ou não quem tem que dizer é a Justiça. Eu não fico no papel... e poderia dizer ‘Lula é bandido’, mas não é essa minha colocação. Quero que Lula seja julgado. Se ele é bandido, quem vai dizer é a Justiça.
JC - Esse afastamento de Aécio do PSDB foi para valer?
DANIEL - Não tive mais contato. A gente teve uma reunião na última segunda-feira no partido, onde todos tiveram fala, votaram, opinaram e ele não estava presente. O que ele faz na casa dele a gente não pode ter controle. Mas da vida formal do partido, ele está afastado e não tem participado.
JC - Tasso Jereissati (CE) deve seguir na presidência do PSDB?
DANIEL - Não me defini em relação a isso. Elogio ele porque está agindo com isenção. Ele está tão imparcial que é difícil saber qual a posição dele. Nesse momento de crise, faz uma boa condução. Já houve o pedido para a convenção, mas a gente não aprofundou o debate. Num momento normal, todo mundo disputa a presidência de um partido. Nesse momento, não sei se haverá disputa. Vai se buscar algum tipo de consenso. Presidir o PSDB neste momento é muito mais missão do que um cargo que vá trazer algum tipo de vantagens ou prestígio político. O PSDB nasceu num momento em que a política brasileira tinha um espectro, vinha de uma Ditadura. Hoje, a política mudou de perspectiva, você tem novas correntes, o pensamento liberal avança no País, as teses históricas da esquerda fracassaram no Brasil e no mundo e o partido precisa se reposicionar. Acho que o novo presidente do partido vai ter essa missão de reposicionamento ideológico e ser um vetor de um segmento da sociedade.