A um ano e meio das eleições presidenciais no Brasil, as peças do xadrez eleitoral ainda estão na caixa. O tabuleiro político está nebuloso, mas o que é quase um consenso no meio é o de que o próximo pleito será um terreno fértil para os candidatos de fora da elite política do País, os chamados "outsiders". A leitura, no entanto, é que pode surgir no País um outsider à brasileira: um político que não necessariamente seja neófito no jogo, mas que personifique o papel do anti-político tradicional.
O fenômeno não é restrito ao Brasil, mas se desdobra em outros países, como França, Argentina e Estados Unidos, que elegeram, respectivamente, Macron, Macri e Trump. Cada um a seu jeito, eles fogem do perfil de político tradicional. "O tipo de outsider que você pode esperar no sistema brasileiro não é o que você encontra em sistemas políticos avançados, porque os problemas básicos da população já foram resolvidos, como na Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha. O tipo que pode surgir aqui é o que pode levar à uma indignação pública. Chamo isso de vingança pública eleitoral. É quando você diz que vai se vingar do sistema político", afirma o cientista político Elton Gomes, professor da Faculdade Damas. "Não vou votar nem no lulopetismo, nem no antipetismo, nem na extrema direita nem na esquerda. Vou votar neste aqui que é contra tudo", acrescenta.
No olho do furacão estão nomes tradicionais da política brasileira, quase todos citados ou envolvidos em escândalos de corrupção. Lula (PT), Aécio Neves (PSDB), Geraldo Alckmin (PSDB) têm o espólio eleitoral marcado por denúncias e correm o risco, inclusive, de terem os direitos políticos suspensos pela Lei da Ficha Limpa. "É uma tendência que vem acontecendo e tem relação com o descontentamento, com o sentimento difuso e generalizado com os partidos tradicionais. Então são pessoas vistas como outsiders. Não são políticos de carreira, muitas vezes nunca ocuparam um cargo público e que agora vem consolidado para o embate", avalia o cientista político Pedro Fassoni, da PUC-SP.
Com 43 anos de campanhas eleitorais, o especialista em marketing político Carlos Manhelli avalia que está em maturação a chamada "direita empresarial". Segundo ele, desde a redemocratização ascenderam nomes na política que lutaram contra ditadura, como Miguel Arraes e Leonel Brizola. Depois, procuradores que se elegeram, policiais que viraram deputados e a eleição de prefeitos ligados a algum segmento religioso. Nomes do movimento sindicalista também ganharam projeção. A terceira "onda", diz ele, seria a dos empresários.
"O pensamento que entremeia essa busca hoje do empresariado é ?esse pessoal tem dinheiro e não precisa roubar?. Como o maior problema no Brasil hoje é a corrupção, então você sai das duas hostes que deram indícios de corrupção e procura uma, onde o estereótipo é daquele bem sucedido", explica. "Nessa brecha, crescem nomes como o próprio João Dória (PSDB), prefeito de São Paulo. E é uma onda mundial".
No xadrez eleitoral, o nome de Bolsonaro (PSC-RJ) também não pode ser desprezado, como representante da extrema direita. "Agora se tem ambiente para uma direita extrema, só com os candidatos na mesa para saber", pondera Manhelli.
DOIS MOVIMENTOS
Doutor em Ciência Política e com larga experiência em campanhas no Brasil, o sociólogo Antônio Lavareda identifica dois movimentos do eleitorado brasileiro no próximo ano. Segundo ele, as pesquisas de 2018, até agora, a despeito de suas limitações, sugerem que o eleitorado brasileiro, atônito em meio a essa conjuntura política tumultuada e, em grande medida, inédita desde a redemocratização, direciona o olhar, basicamente, para duas categorias de candidatos.
"A primeira, que na verdade tem um único nome, é o que nós podemos chamar de sebastianismo. Ou seja, no caso o sebastianismo nosso é muito peculiar porque ele envolve o próprio dom Sebastião, que é o Lula. De outro lado, nomes que podem ser classificados na categoria salvacionismo. Até agora, as pesquisas nos deixam numa situação delicada de optar entre o sebastianismo e o salvacionismo. Só que nesta última categoria, inscreve-se até nomes que pertencem a uma sub-categoria, que é o salvacionismo autoritário, que é o Bolsonaro", avalia.
"Quem lhe disser que sabe o que vai acontecer no ano que vem vai estar dando uma prova de ignorância absoluta", cravou. "O Brasil é um País tão especial que nele até o passado é imprevisível. Porque os fatos e versões sobre o passado se sucedem", pontuou Lavareda, numa citação ao ex-ministro da Fazenda Pedro Malan.