Um dos destinos do presidente Michel Temer nesta semana, a Noruega amplia a investigação sobre o pagamento de propina por parte de suas empresas para ex-diretores da Petrobras. Na quinta-feira, Temer terá um encontro com empresas do país para incentiva-los a investir no Brasil. De acordo com o governo, Oslo é já o oitavo maior investidor no País, principalmente no setor de petróleo.
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Documentos obtidos com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo revelam que, em março, os tribunais suíços deram o sinal verde para que extratos bancários e documentos sobre três ex-diretores da Petrobras e operadores envolvidos em transações fossem enviados para procuradores em Oslo. O caso envolveria quatro contas bancárias em Zurique e Genebra que teriam sido alimentadas com recursos ilegais.
A suspeita é de que os ex-funcionários da estatal brasileira tenham recorrido a intermediários de empresas escandinavas para abastecer as contas com dinheiro oriundo de propinas pagas em esquema de conluio e desvios revelado no Brasil pelas investigações da força-tarefa da Operação Lava Jato.
A reportagem apurou que Berna está entregando para procuradores noruegueses movimentações financeiras relativas ao envolvimento de empresas de Oslo no caso de corrupção sob investigação no Brasil. Os nomes dos beneficiados pelo dinheiro suspeito, porém, não foram revelados.
"Podemos informar que o Escritório do Procurador-Geral da Suíça recebeu e está executando um pedido de assistência mútua por parte da Noruega", afirmou o Ministério Público suíço em um comunicado à reportagem. O MP de Oslo pediu a ajuda dos suíços e os dados já chegaram até o gabinete da procuradora anticorrupção da Noruega, Marianne Djupesland.
Uma cooperação entre procuradores noruegueses e brasileiros já foi estabelecida desde o ano passado. O fornecimento de informações pelas autoridades suíças amplia as apurações em outros países.
No Brasil, por exemplo, a colaboração dos suíços possibilitou o avanço das investigações sobre a Odebrecht, com a revelação de contas no país europeu e do armazenamento de dados no servidor do Setor de Operações Estruturadas - o departamento da propina - em Genebra. Dinheiro suspeito de desvios também estão congelados na Suíça, como é o caso de conta de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-presidente da Câmara que está preso em Curitiba.
Suspeitas de propina
No ano passado, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que as investigações iniciais na Noruega apontaram para a suspeita de que mais de R$ 140 milhões (300 milhões de coroas norueguesas) teriam sido pagos em propinas para ex-diretores da Petrobras, agentes políticos e autoridades no Brasil para permitir que empresas do país escandinavo fechassem contratos com a estatal.
No centro da investigação firmada entre Noruega e Brasil, estava a Sevan Drilling - empresa especializada em exploração de petróleo em alto-mar com representação no Rio. De acordo com a empresa, uma apuração interna realizada concluiu que a companhia "provavelmente" pagou milhões em propinas para garantir negócios com a Petrobras.
O caso da Sevan Drilling, no entanto, não é o único. Novos documentos da Justiça suíça apontam para a existência de mais movimentações suspeitas em três contas em Genebra e outra em Zurique. "As autoridades (da Noruega) se interessam em especial por uma sociedade norueguesa e suas filiais que teriam feito parte de um vasto esquema de corrupção de funcionários no Brasil", indicou o documento, também sem citar o nome da empresa envolvida.
"No quadro das suas investigações, o Ministério Público norueguês apontou que um indivíduo é suspeito de ter agido como intermediário nos pagamentos de propinas a pelo menos três diretores da Petrobras", indicou o documento suíço. "Essas transações duvidosas teriam usado as contas controladas em estabelecimentos da praça (financeira) helvética."
Reapresentação
Investigadores noruegueses já haviam apurado que a Sevan Drilling usou o representante da companhia no Rio para fazer pagamentos indevidos no Brasil.
Uma auditoria conduzida pelo escritório Selmer, em Oslo, também concluiu que "é mais provável que pagamentos ilegais tenham sido feitos para garantir contratos com a Petrobras" para a compra de instalações para estocagem e navios, além de material para perfuração das subsidiárias Sevan Driller e Sevan Brasil. "Tais atos podem potencialmente representar um crime financeiro", indicou a auditoria.
No Brasil, esse representante da Sevan Drilling foi apontado pela investigação da Lava Jato como "parceiro" de Jorge Zelada, ex-diretor da área de Internacional da Petrobras. Juntos, mantinham a empresa TVP Solar, com sede em Genebra. A suspeita é de que ele teria feito parte de operações para camuflar recursos desviados da estatal.
Em outubro de 2015, Marianne e Linn Eckhoff Dolva, agente da polícia, lideraram uma operação de busca e apreensão em três cidades diferentes do país escandinavo, confiscando milhares de páginas de documentos e computadores na sede da Sevan Drilling. Sua estratégia era a de "seguir o dinheiro", justamente para determinar quem recebeu os recursos nos paraísos fiscais e por qual motivo. A suspeita é de que parte do dinheiro teria tido como destino uma conta no banco suíço Julius Baer, em nome de Zelada. Outra parte poderia ter sido encaminhada para contas em Mônaco.