Antonio Palocci sempre conseguiu renascer das cinzas. As denúncias de corrupção o obrigaram a renunciar, em 2006, a seu cargo de ministro da Fazenda de Lula, mas ele ressurgiu como braço-direito de Dilma Rousseff até que o fantasma da fraude voltou a assombrá-lo.
Por um tempo, dedicou-se à consultoria, mas o juiz Sérgio Moro acabou por impedir essa sua nova ressurreição: detido desde setembro passado, nesta segunda-feira (26) foi condenado a 12 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Médico de profissão, o influente ex-ministro de 56 anos foi um hábil estrategista no complexo jogo de xadrez de interesses e partidos sobre os quais foram montados os governos do PT.
Seu afiado olho político o levou de vereador de uma cidade do interior paulista, onde nasceu, Riberão Preto, a ministro da Fazenda do primeiro governo de esquerda do país, nos anos cruciais da era Lula (2003-2010).
Participou na construção do PT e foi coordenador da campanha vitoriosa de Lula.
Temerosos ante a chegada de um presidente de passado sindcalista a Brasília, o astuto Palocci - que quando jovem fazia parte dos grupos da esquerda radical - se revelou um efetivo calmante para os investidores.
Como ministro, mostrou uma inesperada habilidade para servir de ponte enter os setores mais alinhados com Lula dentro do governo e o mercado financeiro, sendo visto como umdos mais influentes integrantes do gabinete.
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No final de 2005, no entanto, surgiram as primeiras denúncias contra ele, por participação no pagamento de propinas a políticos aliados, o chamado escândalo do "Mensalão".
Em março de 2006, quando foi acusado de divulgar dados privados de uma testemunha, Lula acabou por cedendo às pressões e pediu sua demissão.
Era a primeira queda no vazio de um político de grande potencial, que alguns consideravam, inclusive, possível sucessor de Lula. No entanto, mais uma vez, ele voltaria.
"Pessoas com a competência política de Palocci não surgem todos os dias, nem todos os anos. Demoraram muito para nascer", afirmou Lula em uma entrevista a um jornal de Ribeirão Preto, em 2014.
Seu substituto foi Guido Mantega, também suspeito por conexões com o Petrolão.
Regresso triunfal
Apenas meses depois de sua saída em 2006, Palocci conseguiu ser eleito deputado, ao mesmo tempo em que abriu uma empresa de assessoria para assuntos financeiros.
Mas sua atividade privada não o impediu de voltar a estar no lugar e na hora oportunos, quando Lula o convocou, em 2010, para coordenar a campanha eleitoral da então ministra Dilma Rousseff.
Como reconochecimento por seu papel fundamental na campanha, Dilma o designou ministro da Casa Civil. Seu regresso triunfal, no entanto, durou apenas seis meses.
Acusado pela imprensa de ter multiplicado por vinte seu patriomônio em quatro anos graças a sua supostamente próspera consultoria, o fantasma da corrupção voltou a afastá-lo de um governo do qual era ums dos principais arquitetos.
Conhecida por seu temperamento frio, Dilma não conseguiu evitar a emoção na voz por demitir seu braço direito na cerimônia de posse da sucessora na Casa Civil, Gleisi Hoffmann, eleita este mês como presidente do PT, apesar de ser igualmente investigada pela "Lava Jato" no Petrolão.
Palocci foi detido no final de setembro, menos de um mês depois do impeachment de Dilma.